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Coronavírus universidade

No ensino superior pandêmico, docentes se sobrecarregam e alunos migram para EAD

Matrícula em cursos a distância cresceu 27% de 2019 a 2020

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São Paulo

O Ministério da Educação não está errado ao destacar que a tendência de crescimento dos alunos matriculados no ensino superior brasileiro se manteve mesmo com a pandemia. A expectativa geral era de evasão em massa dos estudantes.

Mas essa é só uma pequena parte do enredo.

Os dados do Censo da Educação Superior do Brasil de 2020 divulgados nesta sexta (18) —com quase meio ano de atraso— mostram que o número de alunos no ensino superior subiu bem pouquinho de 2019 para 2020: menos de 1%. Agora, são quase 8,7 milhões de estudantes nas instituições terciárias do país.

 Campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) vazio durante a pandemia - 13/03/2020
Campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) vazio durante a pandemia - Ricardo Borges - 13.mar.2020/Folhapress

Os alunos, no entanto, se movimentaram. O Censo mostra que a quantidade de estudantes em cursos de graduação presenciais caiu 10% na pandemia. Na prática, é como se um em cada dez estudantes regularmente matriculados na modalidade tivesse saído do sistema. Isso dá mais de meio milhão de alunos.

Ao que tudo indica, a pandemia acelerou um processo que já estava em curso. O número de matriculados em cursos presenciais das instituições de ensino superior vem caindo ano a ano desde 2016. Em 2020, no entanto, a queda anual de matrículas superou a de todos os anos anteriores.

O que cresceu, de fato, foram os números relacionados aos cursos de ensino superior da modalidade a distância a chamada EAD. As matrículas pularam de 2,5 milhões (em 2019) para 3,1 milhões (em 2020). Um aumento de 27% no período.

É um recorde histórico de um montante que, na contramão do ensino presencial, vem crescendo ano a ano. Para se ter uma ideia, antes da pandemia, em 2019, o número de matrículas a distância tinha subido 19% em relação ao ano anterior (2018).

Se olharmos para a década, o montante de cursos de graduação a distância ofertados no país cresceu quase 500% de 2011 para 2020 —quando se registra mais de seis mil graduações diferentes oferecidas nessa modalidade. É muita coisa.

E vale destacar: a graduação presencial que teve excepcionalmente aulas remotas por causa das condições sanitárias na pandemia segue na conta das matrículas presenciais. Então, o curso a distância no Censo é a distância mesmo.

A imensa maioria dessas carreiras a distância, mostra o Censo, é oferecida na rede privada. São quase três milhões de alunos que pagam para estudar nesse tipo de curso oferecido pelo país —ante pouco mais de 150 mil alunos na modalidade em universidades públicas.

Esse retrato desperta uma hipótese: é possível que os alunos tenham migrado de cursos presenciais para a distância por questões econômicas. O segundo costuma ser, em média, 20% mais barato do que o primeiro.

Os dados do Censo revelam ainda outra história: enquanto o número de alunos na educação superior cresceu um pouco no primeiro ano da pandemia —puxado pelas matrículas a distância—, a quantidade de docentes caiu 5% no mesmo período.

Nas universidades públicas, há registro de queda de 3% no número de professores em exercício em 2020 em comparação ao ano anterior. Já na rede privada, o corte de docentes foi de 7% no mesmo período.

Com mais alunos e menos professores, há um alerta vermelho na educação superior brasileira. Nenhum país do mundo mantém qualidade na formação de médicos, de professores e de advogados com docentes sobrecarregados.

E, com esse ritmo tímido de crescimento de matrículas (que, vale reforçar, aumentou apenas nos cursos a distância), dificilmente o país conseguirá bater as metas do PNE (Plano Nacional de Educação).

A lei vigente que planeja a educação do país define, por exemplo, que 33% dos jovens em idade universitária (18 a 24 anos) estejam regularmente matriculados no ensino superior até 2024 —que está logo aí.

Hoje, de acordo com o Observatório do PNE, menos de 25% dessa população cursa o ensino superior brasileiro. E não há nenhuma perspectiva de crescimento da demanda de cursos de graduação nos próximos anos.

O Censo é um instrumento valioso de pesquisa publicado desde a década de 1990 para orientar políticas públicas. Cabe ao MEC, agora, fazer uso das informações para definir estratégias, no lugar de bater bumbo na divulgação de dados tímidos que tentam disfarçar os impactos da pandemia nas nossas universidades.

Erramos: o texto foi alterado

As matrículas em cursos a distância cresceram 27% de 2019 a 2020, não de 2019 a 2021, como afirmava erroneamente o subtítulo em versão anterior do texto.

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