85% dos municípios têm queda de aprendizado no 9º ano, mostra Saeb 2021

Nos anos iniciais, a queda atingiu 74% das redes municipais na comparação com 2019; a proporção é mais que o dobro do registrado antes da pandemia

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São Paulo

O fechamento de escolas por causa da pandemia de Covid fez com que cerca de 85% das redes municipais tivessem queda no desempenho médio dos anos finais do ensino fundamental, segundo as provas da avaliação federal da educação de 2021. Nos anos iniciais, a queda atingiu 74% dos municípios.

A comparação é com os resultados da avaliação de 2019, realizada antes da pandemia, e leva em conta as médias padronizadas das provas de português e matemática, que compõem o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Os dados de 2021 foram divulgados nesta sexta-feira (16) pelo MEC (Ministério da Educação).

Foram consideradas apenas redes com resultados publicados nas duas edições, o que perpassa um total de 4.542 municípios nos anos iniciais e 2.322, nos finais. As provas do Saeb são aplicadas a alunos do 5º e 9º anos do fundamental e também no 3º do ensino médio.

Estudante em escola pública de São Paulo na volta às aulas - Karime Xavier - 2.fev.22/Folhapress

A comparação com os ciclos anteriores mostra o impacto considerável da pandemia no ensino fundamental, cujas matrículas têm grande concentração nos municípios.

Em 2019, 31% dos municípios havia registrado queda na média do Saeb nos anos finais. Esse percentual era de 39% nos anos iniciais.

As duas etapas do ensino fundamental e o ensino médio tiveram queda de aprendizagem tanto em escolas públicas e privadas, segundo os dados de 2021. O Saeb compõe o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) ao combinar resultados de aprovação escolar. Como na pandemia as redes de ensino seguiram orientação de não reprovar os alunos, os dados do Ideb ficaram prejudicados, indicando um comportamento artificial de melhora.

Na média das redes municipais, a queda nos anos inicias do ensino fundamental em matemática foi de 13 pontos: passou de 223,90 pontos, em 2019, para 210,88. Essa perda equivale a aprendizado de mais de um ano, segundo a escala da avaliação.

Com essa pontuação de 2021, um aluno do 5º ano não conseguiria converter mais de uma hora inteira em minutos.

Em língua portuguesa, considerando apenas as redes municipais, a nota passou de 209,06 para 201,43 em 2021. Trata-se de um desempenho equivalente ao alcançado em 2015.

Já nos anos finais, também na média das prefeituras, a queda foi de 6 pontos em matemática (de 255,57 para 249,15). O cenário foi de maior estabilidade em português (de 254,10 para 252,38).

Cidades do Ceará aparecem novamente com bons resultados no ensino fundamental. Das 50 redes municipais mais bem posicionadas nos anos iniciais, 22 são cearenses. Nos anos finais, 16 das 50 são do estado.

A líder é Ararendá (335 km de Fortaleza). Trata-se de um pequeno município com apenas dez escolas municipais, um caso distante da realidade da maioria do país.

Há uma avaliação no 2º ano, mas de forma amostral. Os resultados dessa prova, que mensura os níveis de alfabetização, foram os mais preocupantes.


Entenda o Ideb

O que é?
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica foi criado pelo Inep em 2007 para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino.

O indicador é calculado para cada escola, município e estado.

Como é calculado?
O Ideb é formado por dois fatores:

  1. desempenho dos estudantes no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica); as provas de matemática e português são aplicadas a cada dois anos
  2. taxas de aprovação escolar

Com esses dois componentes é calculado o índice, que varia de 0 a 10.

O Ideb estabelece alguma meta?

Sim. Quando o indicador foi criado, ficou estabelecido que a média 6 seria o objetivo. Na ocasião, foi considerado que essa média corresponderia ao sistema educacional dos países desenvolvidos.

Quais são os mecanismos para evitar distorções no índice?

O Ideb foi criado equilibrando duas dimensões (nota do Saeb e tava de aprovação) para evitar que medidas pudessem alterar artificialmente o indicador.

Por exemplo: se uma rede de ensino reprovar seus alunos com mais dificuldades para obter maiores resultados na avaliação do Saeb, o fator fluxo fica prejudicado.

Se, ao contrário, a rede forçar a aprovação de alunos com baixo desempenho, o resultado do indicador também será prejudicado.

Por que o resultado do índice foi atrapalhado na pandemia?

Como as redes de ensino seguiram a orientação de não reprovarem alunos durante o fechamento de escolas, esse componente do Ideb foi comprometido. Com a taxa de aprovação maior, o indicador de 2021 cresceu, apesar da queda generalizada de aprendizado apontada pelos resultados das provas do Saeb.

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