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Dr. Google: cuidados ao buscar informações sobre saúde

Resultados de pesquisas podem mascarar conteúdos de interesses comerciais ou ideológicos

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Mariana Ochs

coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

Uma pesquisa recente do Datafolha indica que o Google é o meio mais utilizado no Brasil para buscar informações sobre saúde: 47% das pessoas entrevistadas no fim de 2022 declararam utilizar o buscador para esse fim. Esse número cresceu nos últimos anos, sobretudo em decorrência da pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo, sabemos que encontrar informações de qualidade na internet é um desafio: de acordo com um estudo de 2022 da Poynter, 62% das pessoas acreditam que se deparam com desinformação diariamente ou semanalmente.

Buscar informações de saúde online pode nos ajudar a entender melhor um diagnóstico recebido ou saber como agir em uma emergência até que o socorro esteja disponível. Também pode nos ajudar a organizar dúvidas e assim tornar as consultas com os médicos mais focadas e produtivas. Mas, antes de utilizarmos essas informações, precisamos aprender a qualificar essa busca.

Qualquer pessoa pode postar informações na internet, com interesses diversos –sendo ou não um especialista. E, quando falamos de saúde, os desafios são muitos: podemos encontrar crendices populares, pseudociência, conteúdos que mascaram interesses comerciais ou ideológicos, informações incompletas, fora de contexto, alarmistas ou até perigosas.

Além disso, os resultados do mecanismo de pesquisa são selecionados por software de computador, não por especialistas humanos. O resultado mais acessado pode não ser o mais confiável, e até mesmo o seu histórico de buscas e comportamento na rede pode fazer com que você veja informação incorreta ou tendenciosa.

Finalmente, é importante lembrar que alguns sites podem ser patrocinados por profissionais e empresas de serviços médicos e pela indústria farmacêutica e, portanto, podem não fornecer informações objetivas. Para complicar esse cenário, também podemos encontrar anúncios "disfarçados", geralmente na forma de posts ou testemunhos de influenciadores.

Algumas medidas nos ajudam a obter melhores informações:

  1. Identifique a fonte da informação. "Encontrei no Google" é uma expressão corrente que contém um equívoco importante. O Google não é fonte, ou seja, não é autor, é uma ferramenta de busca. Os conteúdos resultantes de uma busca terão intenções e características diferentes e não são igualmente confiáveis ou úteis.

  2. Avalie a confiabilidade da fonte. Autoridades públicas, órgãos de saúde, médicos e especialistas são as melhores fontes na área de saúde, com conteúdo embasado por pesquisas científicas; em segundo lugar estão os veículos de comunicação confiáveis que contextualizam essas informações.

  3. Seja mais proativo na pesquisa. Familiarize-se com a página de resultados do buscador, procurando identificar o que é anúncio e o que é conteúdo não comercial. Segundo o Google, a aparência dessa página sofre ajustes constantes à medida que a empresa desenvolve novas maneiras de ajudar o usuário a avaliar rapidamente o conteúdo encontrado e entender melhor o contexto do que está vendo. Observe a página de resultados e explore suas funcionalidades. No alto da página, o Google passou recentemente a destacar os trechos de fontes de qualidade que têm mais relevância. Funções como o botão "sobre esse resultado" e o painel lateral ajudam a saber a proveniência da informação e até comparar fontes diferentes

  4. Identifique conteúdo patrocinado. Cuidado com informações médicas fornecidas por organizações que têm interesses comerciais: textos escritos para vender produtos ou serviços não são conselhos médicos. Desconfie de curas fáceis e receitas milagrosas.

  5. Cuidado com relatos pessoais. Cuidado com os relatos pessoais. As doenças podem se manifestar de forma diferente em cada um, e os tratamentos diferem. Grupos e fóruns de suporte online são uma ótima maneira de compartilhar experiências, mas não devem ser considerados uma fonte confiável.

  6. Procure um médico! Uma busca no Google pode ser útil para saber mais sobre um diagnóstico ou encontrar orientações iniciais em uma emergência, mas jamais deve substituir um médico.

Em suma, buscar informações é sempre uma atitude a ser encorajada, porém é necessário desenvolver as habilidades de busca; na área de saúde, sobretudo, utilizar informações incorretas pode trazer problemas graves. Não limite sua busca a apenas um site e sempre verifique suas fontes, buscando entender se há interesses comerciais ou uma agenda política ou ideológica por trás dela. E, finalmente, sempre discuta o que você encontrar com um profissional da saúde.

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