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Dobra número de crianças que acessam internet antes dos 6 anos

Pesquisa mostra que a vida online está começando cada vez mais cedo, o que pode trazer prejuízos e riscos

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São Paulo

A vida online está começando cada vez mais cedo para as crianças brasileiras. Em 2015, entre os internautas de 9 a 17 anos, 11% haviam acessado a internet pela primeira vez até os 6. De lá para cá, esse número foi crescendo e mais do que dobrou. Atualmente, são 24% os que começaram a vida digital na primeira infância.

Já o número daqueles que dão início ao acesso às redes quando estão mais velhos vem caindo. Em 2015 eram 15% os que haviam entrado na internet pela primeira vez depois dos 12 anos. Em 2023, são 7%. O número daqueles que não se lembram de quando começaram a vida digital também aumentou, de 12% para 19%, o que pode indicar que mais crianças tenham acessado a internet pela primeira vez quando eram muito pequenas.

A pesquisa considera acessos feitos por meio de computadores e tablets (usados em 2023 por 38% dos internautas entre 9 e 17 anos), TVs (70%), celulares (97%) e videogames (22%).

Os dados fazem parte da TIC Kids Online Brasil, pesquisa que é referência no comportamento digital na infância e na adolescência, apresentada nesta quarta-feira (25) no 8º Simpósio de Crianças e Adolescentes na Internet, em São Paulo.

Crianças olham fixamente para telas de celular, que cobrem seus rostos
Crianças cada vez mais novas têm acesso à internet; uso precoce traz prejuízos ao desenvolvimento - Seventyfour

Foram entrevistados presencialmente 2.704 crianças e adolescentes, de 9 a 17 anos, e seus pais ou responsáveis, entre março e julho deste ano. Realizado anualmente desde 2012 (com exceção de 2020, na pandemia), o estudo é coordenado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, que reúne representantes de governos e da sociedade civil.

Os resultados apontam para um uso cada vez mais precoce da internet, o que pode trazer prejuízos ao desenvolvimento cognitivo e físico e à saúde mental, entre outros, na visão de especialistas. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que bebês de até 2 anos não tenham acesso a telas e que crianças de até 5 anos sejam expostas a elas por no máximo uma hora por dia e com conteúdo controlado pelos pais —seja via celular, computador ou TV.

Outro dado da pesquisa revela que a internet está ganhando espaço com os mais novos, especialmente após a pandemia e o fechamento prolongado das escolas no Brasil. O número de usuários de 9 e 10 anos subiu quase 40%. Em 2015, 63% da população brasileira nessa faixa etária usava internet; em 2023 já são 87%.

"A partir das evidências desse uso cada vez mais precoce, a sociedade precisa debater como garantir os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, considerando também o ambiente digital", afirma à Folha Luísa Adib, coordenadora da pesquisa. "É preciso garantir a privacidade e a proteção dessa população. Temos que pensar em como proteger a infância e a adolescência brasileiras na era digital."

O maior crescimento do uso de internet na infância e na adolescência se deu na classe DE, que passou de 56% em 2015 para 89% em 2023. Na classe C também subiu, de 87% para 97%. Na AB o uso já era generalizado e se manteve estável, perto de 100%.

Os hábitos digitais devem acender um alerta para pais e educadores. Atividades ligadas ao consumo estão em alta, como a pesquisa para comprar produtos, feita por 61% das crianças e jovens, e mesmo as compras, realizadas por 22%. Na enxurrada de propaganda direcionada por algoritmos, 84% ficam com vontade de ter algum produto e 73% se sentem chateados quando não podem comprá-lo.

Menos da metade dos pais (43%) dizem conversar com os filhos sobre as propagandas que eles veem e explicar o objetivo desse tipo de conteúdo. Apenas 28% utilizam filtros ou configurações para restringir o contato das crianças com publicidade.

Outros dados preocupantes: 16% afirmam ter recebido mensagens de conteúdo sexual e 9% viram imagens sexuais e já receberam pedido de foto ou vídeo em que aparecem pelados. Sem noção dos riscos, 31% postam ou compartilham o local onde estão, segundo a pesquisa.

Chama a atenção a busca crescente, no pós-pandemia, por informações sobre sentimentos, sofrimento emocional, saúde mental e bem-estar: 34% fazem isso atualmente, ante 17% em 2021. A procura por informações sobre medicamentos também aumentou, de 17% em 2021 para 25% neste ano.

Crianças e adolescentes dominam habilidades para utilizar a internet do ponto de vista técnico: baixar aplicativos (96%), conectar-se a uma rede wi-fi (93%) e salvar uma foto (91%), por exemplo. Dizem saber quais informações devem ou não compartilhar (83%) e reconhecer quando alguém está sofrendo bullying (81%).

Mas fica evidente que desconhecem a complexidade do universo digital quando metade diz acreditar que a primeira publicação que vê nas redes sociais é a última postada pelo seu contato –e não uma imposição do algoritmo a partir de informações coletadas do usuário.

Além disso, 47% dizem crer que todos encontram as mesmas informações quando realizam a mesma pesquisa e 40% afirmam confiar que o primeiro resultado de uma busca é sempre a melhor fonte de informação, sem entender o papel dos algoritmos.

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