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Mariana Ochs

O que as tendências para o futuro indicam sobre a educação midiática

As transformações tecnológicas nos impõem o exercício de adaptar continuamente os currículos

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Mariana Ochs

coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

No embalo do festival SXSW, realizado no Texas para discutir tendências e inovação, é oportuno pensar sobre as novas demandas para a educação. "Educar os jovens para um futuro incerto" tem sido o mantra há algum tempo. Com a aceleração das inovações tecnológicas e da crise ambiental, no entanto, não sabemos mais se a frase se refere ao ineditismo das profissões que virão ou à incerteza das próprias condições em que viveremos. O certo é que as transformações tecnológicas, sobretudo no ambiente da produção e circulação de informações, acrescentam nova camada de complexidade aos problemas globais. E, por isso, a educação midiática tem papel urgente a cumprir.

O ambiente informacional apresenta desafios que vão do acesso a informações confiáveis ao enfrentamento da reprodução de injustiças estruturais. As mesmas inovações que podem otimizar o trabalho e potencializar a criatividade também podem ampliar desigualdades; as mesmas redes que podem conectar e dar voz a grupos minoritários também podem separar comunidades em ambientes polarizados e estimular a violência.

O que seria, então, uma educação midiática capaz de fortalecer os jovens frente às transformações em curso e às já vislumbradas? Dialogamos com um chatbot de IA e, a partir das tendências do Tech Trends 2024, um importante relatório do Future Trends Institute, traçamos as seguintes implicações para a educação:

Multiplicidade de plataformas para consumo de notícias: as novas gerações buscam cada vez menos mídias tradicionais como TV ou sites, preferindo redes sociais, aplicativos de mensagens e plataformas de compartilhamento de vídeos. Essa tendência exige habilidades de análise crítica nos vários ambientes e compreensão de seus aspectos econômicos.

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Catarina Pignato

Predominância de conteúdo visual e interativo: há forte preferência por esse tipo de conteúdo, no lugar de texto. A educação midiática deve incorporar análise e compreensão dos meios visuais, ensinando a avaliar criticamente imagens, vídeos e conteúdos interativos para determinar credibilidade e apontar motivações e vieses.

Influência dos algoritmos de personalização: a personalização crescente de conteúdos nas plataformas de notícias e redes sociais pode nos afastar de visões diversas ou amplificar desinformação ou preconceitos. É fundamental educar os estudantes sobre o impacto dos algoritmos, bem como ensiná-los a acessar uma gama maior de perspectivas de forma intencional.

Ampliação do letramento digital: habilidades como busca eficaz de informações, avaliação da credibilidade das fontes e compreensão sobre privacidade no ambiente digital são essenciais. Mas também precisamos desenvolver habilidades críticas em relação às inteligências artificiais, sobretudo quanto às premissas incorporadas e seus impactos socioculturais. O currículo deve abordar essas habilidades de forma transversal e contínua.

Poluição do ambiente informacional: com a proliferação de desinformação e deep fake, bem como a automatização da criação de conteúdos rasos, feitos para engajar, é fundamental desenvolver o pensamento crítico e habilidades de verificação. Os estudantes precisam aprender a usar ferramentas de checagem, adotar a referência cruzada de informações e reconhecer sinais de conteúdo falso ou enganoso.

Capacidade de criação de conteúdo e engajamento: as gerações mais jovens são não apenas consumidores mas também criadores de conteúdo, com potencial de alcançar grandes audiências. A educação midiática deve incluir considerações éticas na criação de conteúdos (inclusive com IA), compreensão sobre o impacto da nossa pegada digital, e discussões sobre direitos e responsabilidades na internet.

Empatia e escuta ativa nas interações digitais: Se as plataformas digitais são os espaços centrais em que interagimos, é vital ensinar empatia, escuta e comunicação respeitosa. Isso inclui lidar de forma pacífica com divergências, compreender outras perspectivas e avaliar o impacto de nosso comportamento online.

Tudo isso reforça a natureza dinâmica da educação midiática, que deve acompanhar o cenário em transformação e reconhecer o papel importante da tecnologia na vida de jovens e crianças. Os currículos precisam evoluir continuamente –pois o futuro pode ser incerto, mas nele certamente ainda seremos chamados a lidar com o mundo digital de forma consciente, responsável e construtiva.

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