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Guardar segredos pode fazer mal à saúde e trazer prejuízos, diz autor

Michael Slepian, autor de "The Secret Life of Secrets", fala sobre como manter sigilo em informações pode afetar as pessoas

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Elisabeth Egan
The New York Times

Michael Slepian havia acabado de fazer uma apresentação na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, sobre os resultados de sua pesquisa sobre segredos quando olhou para seu telefone e percebeu que havia duas ligações perdidas de seu pai.

O cientista comportamental estava prestes a descobrir algo que seus pais, avós, tios e tias sabiam a seu respeito desde sempre: que ele fora concebido por inseminação artificial com esperma de um doador anônimo.

Em seu livro recém-lançado "The Secret Life of Secrets" (A vida secreta dos segredos, em português), Slepian escreve: "Isso me foi revelado ao final de um dos dias mais importantes de minha vida profissional. Eu não conseguia sentar."

Livro segredos
Em livro, Michael Slepian fala sobre os custos de se manter um segredo - Seb Agresti/The New York Times

E questionou: "Por que isso foi mantido em segredo?"

Slepian, que hoje é professor de liderança e administração de empresas na Columbia Business School, falou da resposta a essa pergunta em uma entrevista na qual também mencionou as implicações maiores de se jurar de pé junto não falar nada sobre alguma coisa. A conversa a seguir foi editada e condensada.

O que exatamente é um segredo? Defino o sigilo como a intenção de não deixar determinada informação chegar ao conhecimento de uma ou mais pessoas. A informação em questão é o segredo. Mesmo que você não tenha sido obrigada a escondê-la recentemente em uma conversa, ainda é um segredo que você pretende impedir que chegue aos ouvidos de outros.

Qual é a diferença entre sigilo e privacidade? Há coisas de todo tipo que não costumamos comentar mas que não são segredos. Para muitas pessoas, é sua vida sexual. Os detalhes dela podem não ser alguma coisa que elas estejam necessariamente mantendo como segredo –elas simplesmente consideram que esse não é o tipo de coisa que se comenta. Mas, se alguém com quem tenho uma relação próxima me perguntasse algo a esse respeito, eu responderia à pergunta. Se você não responderia, se a intenção é guardar silêncio sobre a informação se o assunto vier à tona algum dia, então é um segredo.

Guardar segredo sobre alguma coisa faz mal à pessoa que o guarda? O mal provocado por um segredo não parece decorrer da obrigação de esconder a informação durante uma interação social, mas de conviver com ela quando você está sozinho com seus pensamentos. Quanto mais os pensamentos da pessoa se voltam ao segredo, mais difícil se torna o fato de não contar com apoio emocional ou conselhos. Quando estamos sozinhos com alguma coisa importante, especialmente alguma coisa danosa ou incômoda, tendemos a não desenvolver maneiras saudáveis de pensar sobre ela.

Que tipo de segredo é o mais difícil de conservar? O segredo sobre o qual você pensa o tempo todo é o mais difícil de manter.

Existem três dimensões primárias nas quais as pessoas pensam sobre seus segredos. Uma é o que chamamos de "vinculação social" –segredos que envolvem outras pessoas. Outra dimensão é o aspecto moral do segredo. A terceira é como o segredo está ligado às nossas metas, que frequentemente significam nossa profissão. Cada dimensão encerra um lado prejudicial próprio.

Quais são as melhores condições para se compartilhar um segredo? Se você escolhe a pessoa certa, se tem a oportunidade de falar sobre seu segredo e ele ainda continua a ser um segredo, essa é uma estratégia eficaz. Apenas se o interlocutor reage muito negativamente é que confiar um segredo piora a situação.

Logo, basicamente, se o interlocutor tem padrões morais diferentes dos seus, ou se você acha que ele ficaria escandalizado com o que você lhe revelaria, então essa não é uma pessoa indicada para ouvir seu segredo. A pessoa que mais provavelmente guardaria seu segredo é alguém que o encararia sob ótica semelhante à sua no tocante à moralidade da questão.

Precisamos nos preocupar com a possibilidade de estarmos impondo um peso a um amigo se lhe contamos um segredo? As pessoas podem se alegrar por alguém ter se sentido suficientemente à vontade com elas para revelar algo delicado; é um ato de intimidade que pode aproximar as duas pessoas. Mas, se as duas pessoas fazem parte do mesmo grupo de amigos, pode ser difícil, porque o segredo pode pesar sobre as duas pessoas e nenhuma delas pode conversar com outros do grupo sobre o assunto. Já se uma pessoa distante de você lhe revela algo monumental, isso não vai necessariamente preocupar você tanto.

Se a atriz Reese Witherspoon telefonasse para dizer que escolheu "The Secret Life of Secrets" para figurar em sua lista de destaques do seu Clube do Livro, você guardaria o segredo até que fosse anunciado? No caso de segredos positivos, geralmente há um plano para quando serão revelados –e, como eles têm data de validade, esses segredos podem ser instigantes e animadores.

Então talvez eu não possa mencionar o telefonema dela durante o mês de maio, mas a partir do momento que a notícia for do conhecimento público, posso falar dela em junho. Acho que a pergunta a fazer é: como podemos roubar os benefícios dos segredos positivos e aplicá-los aos segredos negativos?

Como nossas crenças pessoais afetam nossa relação com o sigilo? Um sociólogo constatou que se você é contra o aborto, é menos provável que fique sabendo de pessoas próximas a você que já fizeram aborto. As pessoas não querem revelar um segredo a alguém que ficará escandalizado com ele ou que o achará tão moralmente repugnante que o revelará a um terceiro. Isso quer dizer que não recebemos a mesma informação de nossas redes sociais; significa que você não entende até que ponto uma experiência dada é comum.

Como nossa relação com os segredos evolui com a idade? Mesmo crianças pequenas entendem a intimidade envolvida na partilha de informação. Se você perguntar a uma criança o que faz alguém ser seu melhor amigo, talvez ela responda: "É alguém com quem você compartilha segredos". Isso é porque as crianças geralmente guardam segredos de tamanho infantil e porque ganham um reforço social positivo por compartilhar esses segredos com amigos e ficar sabendo dos segredos de seus amigos.

As coisas começam a mudar quando elas chegam à adolescência, e de repente estão preocupadas com a aprovação social, e há a possibilidade de terem mais problemas. É então quando o sigilo começa a ficar mais semelhante ao de um adulto, em que as pessoas se preocupam mais com as consequências de revelar informações.

Você acha que seu trabalho o ajudou a lidar com aquela conversa com seu pai? Uma das coisas difíceis de ter um segredo é que, mesmo quando você quer revelá-lo, quando é o momento certo? Acho que foi isso que meus pais estavam encarando quando eu cheguei à idade adulta. Não existe um momento perfeito para revelar um segredo como esse. Às vezes você tem que fazer aquele momento acontecer, e isso requer um pouco de coragem.

Descobrir que eu não tinha parentesco biológico com meu pai foi chocante, mas também me fez refletir como deve ter sido para meus pais guardar esse segredo. Anos mais tarde, quando estava escrevendo este livro, perguntei a eles como foi. O que eles viveram correspondeu ao que eu estava descobrindo com minhas pesquisas: que mesmo um segredo que nunca é mencionado em conversas pode constituir um peso. Ocultar segredos é a parte fácil. O difícil é todo o resto. O difícil é ter que pensar sobre essa coisa e não compartilhá-la com outros.

Tradução de Clara Allain

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