Coaches de relacionamento dão cursos para criar a mensagem de texto perfeita

Treinamentos visam eliminar a ansiedade da comunicação online, além de levar a conversa do aplicativo para o encontro

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Sara Radin
The New York Times

Em julho do ano passado, pouco depois de ter encontrado alguém de quem gostou em um aplicativo de relacionamentos Hinge, a editora Abby Norton, 24, viajou ao exterior por duas semanas. Devido aos fusos horários diferentes, ela e seu potencial par tiveram dificuldade para se comunicarem por mensagens de texto pelo período, mas trocaram algumas mensagens por dia, mesmo assim.

Quando Norton voltou a Minneapolis, onde ela vive, os dois começaram a se encontrar. Mas a troca de mensagens entre eles ainda parecia insatisfatória. "Eram umas duas por dia, apesar de estarmos no mesmo fuso horário", diz ela.

Norton ficou ansiosa. "A coisa chegou a um ponto insuportável uma noite, quando acabei chorando" depois de passar "um ou dois dias sem notícias dele" – principalmente, ela disse, "porque me ocorreu que eu provavelmente tinha problemas internos meus para resolver que me tinham levado àquele ponto de insegurança e ansiedade."

Mulher mexendo no celular
Apesar de muito comuns, aplicativos e relacionamento ainda trazem ansiedade e dificuldade de comunicação via mensagens - Adobe Stock

Norton decidiu pedir ajuda a uma profissional do campo recém surgido dos cursos de relacionamento voltados especificamente às mensagens de texto. Ela fez um curso intitulado de comunicação por mensagem de texto dado pela terapeuta licenciada e coach de relacionamentos Kelsey Wonderlin, de Nashville, Tennessee.

Wonderlin vinha dando cursos de relacionamento desde o outono de 2021, mas a partir de setembro passado começou a se dedicar especificamente às mensagens de texto. Ela é uma das muitas profissionais de coaching de relacionamento que procuram ensinar aos clientes as habilidades de comunicação escrita necessárias para levar encontros do mundo online para a vida real – e ajudá-los a continuar nela.

Entre as perguntas que eles procuram ajudar seus clientes a responder estão: qual é uma ótima primeira mensagem a mandar num aplicativo de namoro? Como flertar de uma maneira que não seja assustadora ou antipática? E se a outra pessoa simplesmente não esboçar reação alguma?

A coach de relacionamentos Blaine Anderson, 33, de Austin Texas, tem quase 180 mil seguidores no Instagram. Seus vídeos sobre mensagens de texto fazem sucesso com seu público majoritariamente masculino. Esse fato, somado às suas experiências pessoais de receber mensagens estranhas ou excessivas em aplicativos de namoro, a levou a lançar em agosto passado o curso Texting Operating System (Sistema operacional de mensagens de texto, em português), que visa "eliminar o estresse e ansiedade dos homens em relação à comunicação com mulheres por mensagens de texto".

Segundo Damona Hoffman, coach de relacionamentos em Los Angeles e Nova York e apresentadora do podcast "Dates & Mates", muitas pessoas acabam atoladas em "textationships", ou "relacionamentos por mensagens de texto".

A troca de mensagens de texto virou uma parte integral dos relacionamentos, ela diz, e seu curso "The Dating Accelerator" (O acelerador de namoros, em portugês), que custa U$1.297 (cerca de R$ 6.600) e combina aulas presenciais e por vídeo, ensina as pessoas como evitar que isso ocorra.

Apesar do uso generalizado de aplicativos de namoro, especialistas como Hoffman, Wonderlin e Anderson acham que nossa sociedade como um todo ainda carece de habilidades de comunicação digital. A razão disso, para Wonderlin, é que não existe um lugar onde as pessoas possam ir para aprender como iniciar e manter um relacionamento sadio. Em vez disso, muitas são obrigadas a descobrir por conta própria como fazer.

Afinal, mensagens de texto ainda são um meio de comunicação relativamente novo. "Nosso cérebro não é programado para pensar" em mensagens de mais de cem caracteres, aponta Anderson. Disparar torpedos é prático, mas não tem a profundidade e as nuances de conversas cara a cara. "É difícil resumir nossos sentimentos complexos em mensagens curtas, e por isso é fácil dizer a coisa errada sem querer."

Hoffman diz que não é surpreendente que tantas pessoas estejam tendo dificuldades. Muitas pessoas gostam de mandar mensagens de texto devido à rapidez e eficiência, mas ainda há muita margem para interpretações equivocadas. Um amigo pode lhe aconselhar para demorar um pouco para responder a uma mensagem, para não parecer ansioso demais, mas outro pode recomendar que você mande mensagens repetidas para deixar seu interesse muito claro. O resultado é a confusão.

"Sempre faltou educação em comunicação sadia", afirma Wonderlin. "Mas hoje, pelo fato de a maioria das pessoas se conhecerem online e imediatamente começarem a trocar mensagens de texto, elas passaram a moldar suas comunicações em um novo relacionamento em torno dessas mensagens." E, como muitas pessoas preferem se comunicar por torpedos em vez de falar pelo telefone antes de se encontrarem cara a cara, "é importante definir o tom da comunicação recíproca sadia desde o primeiro momento".

O curso em vídeo de Blaine Anderson tem duas horas de duração, custa US$ 149 (cerca de R$ 760) e é dividido em sete módulos que cobrem cenários comuns de namoro, desde como levar uma conversa para o mundo real até como conseguir um segundo encontro. O curso enfoca principalmente a psicologia por trás de diferentes mensagens e oferece gabaritos de mensagens.

O curso em vídeo de Wonderlin, que custa US$ 333 (cerca de R$ 1.700) conduz os alunos por cinco módulos. Para começar, trata de importância de criar uma comunicação sadia desde o início de um relacionamento. Em seguida, fala de estilos diferentes das pessoas que enviam mensagens de textos – o comunicador curto e seco, o animado, o compulsivo e o distraído –, ajudando os alunos a entender o que pode ser visto como sinal preocupante e qual é o estilo específico de comunicação por texto de cada pessoa.

Em seguida o curso ensina aos participantes como evitar cair numa espiral de ansiedade quando alguém manda uma resposta de uma palavra apenas ou não responde imediatamente.

O engenheiro Dan Leader, 36, de Detroit, inscreveu-se no curso de Anderson em dezembro. "Quando eu me dava bem com alguém online, poucas vezes isso resultava em encontros reais, e, quando havia encontros, eles não se repetiam", conta.

Desde que ele fez o curso, "passei a escrever mensagens com intenção e propósito", ele diz. "Faço perguntas para conhecer a pessoa um pouco e para que ela me conheça. Depois traço um plano claro para marcar um encontro num momento apropriado. Deixei de sentir a necessidade de ficar jogando conversa fora só para continuar me comunicando com a pessoa."

Tradução por Clara Allain

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