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Fatores de risco de fragilidade na velhice são diferentes entre homens e mulheres, diz estudo

Conclusões se baseiam na análise de dados de 1.747 pessoas idosas do Reino Unido

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Maria Fernanda Ziegler
Agência Fapesp

Pessoas idosas com a chamada síndrome da fragilidade devem ser priorizadas na atenção primária à saúde por serem mais suscetíveis a quedas, hospitalizações, incapacidade e morte precoce. A condição é caracterizada pela presença de três ou mais dos seguintes fatores: perda de peso involuntária, fadiga, fraqueza muscular, diminuição da velocidade de caminhada e baixa atividade física.

Estudo divulgado por pesquisadores da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) e da University College London (Reino Unido) identificou que os fatores que aumentam o risco de fragilidade na velhice são diferentes entre homens e mulheres.

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As mulheres têm maior expectativa de vida e são mais afetadas pela síndrome da fragilidade do que os homens - Satjawat/Adobe Stock

De acordo com resultados publicados na revista Archives of Gerontology and Geriatrics, há maior risco de desenvolver a síndrome da fragilidade em homens com osteoporose, baixo peso, doenças cardíacas e com percepção da audição avaliada como ruim. Já entre as mulheres, o risco está associado a alta concentração sanguínea de fibrinogênio (um marcador de doença cardiovascular), diabetes e AVC (acidente vascular cerebral).

As conclusões se baseiam na análise de dados de 1.747 pessoas idosas que integram o estudo Elsa (English Longitudinal Study of Ageing, em inglês), pesquisa populacional realizada no Reino Unido. Os indivíduos foram avaliados de quatro em quatro anos entre 2004 e 2016. Para este trabalho, os pesquisadores selecionaram pessoas com 60 anos ou mais e que inicialmente não tinham a síndrome da fragilidade e nem pré-fragilidade, ou seja, quando estão presentes um ou dois fatores mencionados anteriormente.

"A síndrome da fragilidade serve como um sinal amarelo para desfechos negativos em pessoas idosas. Chegou-se a acreditar que ela se dava por uma via única, mas nosso estudo reforça que diferentes percursos podem levar à fragilidade em pessoas idosas. Identificar diferenças nesse processo entre homens e mulheres é importante para a formulação de políticas públicas. Isso pode ter reflexos na atenção básica de saúde e resultar em planos de ação e intervenção em pessoas idosas mais focados no gênero", explica Tiago da Silva Alexandre, professor do departamento de gerontologia da Ufscar e autor do estudo, que foi financiado pela Fapesp.

Alexandre afirma que a síndrome da fragilidade tem um fenótipo (ou conjunto de sinais e sintomas facilmente identificáveis) criado para detectar previamente pessoas em maior risco de sofrer uma queda, hospitalizações, incapacidade e morte precoce.

"O que fizemos nesse estudo foi retornar alguns passos antes desse processo se iniciar e identificar quais características ao longo da vida dessas pessoas idosas podem acarretar a fragilidade. Isso porque sabemos que, quando se pensa em envelhecimento e qualidade de vida no envelhecimento, é muito importante saber os principais fatores de risco para se antecipar aos problemas, pois desse modo podemos direcionar as políticas públicas para homens e mulheres", diz.

O trabalho é fruto da tese de doutorado de Dayane Capra de Oliveira, conduzida sob orientação de Alexandre. Oliveira diz que, embora a fragilidade seja uma ferramenta baseada nas questões biológicas do indivíduo, a diferença encontrada entre os fatores de risco que levam homens e mulheres a desenvolver a síndrome está ancorada nos distintos papéis sociais e acesso a recursos ao longo da vida.

"O interessante do estudo também está em perceber essas questões multifatoriais relacionadas à fragilidade. Enquanto os fatores socioeconômicos, distúrbios musculoesqueléticos, doenças cardíacas e baixo peso parecem sustentar o processo de fragilidade nos homens, nas mulheres o processo parece estar ancorado em distúrbios cardiovasculares e neuroendócrinos", diz Oliveira.

Vale destacar que a síndrome da fragilidade é mais comum em mulheres do que em homens, até porque a expectativa de vida das mulheres é maior.

"Essa é uma questão complexa, que está ancorada nas diferenças da expectativa de vida entre os dois gêneros e nos tipos de doenças mais prevalentes entre homens e mulheres. Basicamente, as mulheres são mais afetadas por doenças crônicas que não matam, mas geram incapacidade. Então, como uma consequência dessa realidade, elas vivem mais tempo e podem desenvolver mais a síndrome de fragilidade do que os homens", afirma Alexandre.

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