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'Dois vírus comuns' estão por trás de surto misterioso de hepatite infantil, dizem especialistas britânicos

Especialistas do Reino Unido acreditam ter identificado causa da recente onda de misteriosos problemas hepáticos que afetam crianças

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Michelle Roberts
BBC News Brasil

Especialistas do Reino Unido acreditam ter identificado a causa da recente onda de misteriosos problemas hepáticos que afetam crianças pequenas em todo o mundo.

As investigações sugerem que dois vírus comuns voltaram a circular após o fim das restrições impostas pelos governos para controlar a pandemia da Covid-19 —e desencadearam os raros, mas muito graves, casos de hepatite.

Acredita-se que mais de mil crianças —muitas com menos de cinco anos— em 35 países foram afetadas.

Imagem em primeiro plano mostra uma mulher com um bebê no colo posando para foto
Rebecca diz que seu filho, Noah, ficou muito doente em pouco tempo - BBC

Algumas delas, incluindo 12 no Reino Unido, precisaram de um transplante de fígado para continuar vivendo.

No Brasil, casos suspeitos foram investigados pelo Ministério da Saúde, com sete mortes confirmadas até meados de junho.

Duas equipes de pesquisadores, de Londres, na Inglaterra e Glasgow, na Escócia, dizem que bebês expostos mais tarde do que o normal —por causa das restrições da pandemia— perderam alguma imunidade precoce a:

  • adenovírus, que normalmente causa resfriados e dores de estômago
  • vírus adeno-associado dois (AAV2), que normalmente não causa doença e requer um vírus "auxiliar" coinfectante —como o adenovírus— para se replicar

Isso poderia explicar por que alguns desenvolveram complicações hepáticas incomuns e preocupantes.

Imagem em primeiro plano mostra uma bebê posando para a foto sentado em uma cadeira
Noah é uma das 10 crianças nos últimos meses que precisaram de um transplante de fígado para a doença - BBC

Noah, de três anos, que mora em Chelmsford, Essex, precisava de um transplante urgente de fígado depois de ficar gravemente doente com hepatite.

Sua mãe, Rebecca Cameron-McIntosh, diz que a experiência foi devastadora.

"Não tinha nada de errado antes, e de repente a saúde dele mudou. Acho que foi isso que nos pegou de surpresa."

"Nós apenas assumimos que era um pequeno problema que seria facilmente resolvido —mas o quadro continuou a se desenvolver."

Inicialmente, Rebecca estava na fila para doar parte de seu fígado —mas, após uma grave reação às drogas usadas, ela acabou na UTI.

Noah foi colocado na lista de transplantes e, logo depois, recebeu um novo órgão.

Sua recuperação foi boa —mas ele precisará tomar medicamentos imunossupressores por toda a vida, para impedir que seu corpo rejeite o novo fígado.

Imagem em close mostra o rosto de uma mulher de cabelo liso e franja
Rebecca diz que Noah vai ficar tomando remédios por toda a vida - BBC

"Há algo realmente comovente nisso porque você segue as regras, faz o que deve fazer para proteger as pessoas que são vulneráveis ​​e então, de uma maneira horrível e indireta, seu próprio filho se tornou mais vulnerável porque você fez o que deveria fazer", diz a mãe.

Casos como este são raros. A maioria das crianças que pegam esses tipos de vírus se recuperam rapidamente.

Não está claro por que alguns desenvolvem inflamação no fígado —mas a genética pode influenciar na gravidade do quadro.

Os cientistas descartaram qualquer conexão com vacinas contra o coronavírus ou à própria Covid-19.

Uma das pesquisadoras, a professora Judith Breuer, especialista em virologia, da Universidade College London e do Hospital Great Ormond Street, disse:

"Durante o período de lockdown, quando as crianças não estavam se misturando, elas não estavam transmitindo vírus umas às outras. Eles não estavam desenvolvendo imunidade às infecções comuns que normalmente encontrariam."

"Quando as restrições terminaram, as crianças começaram a se misturar e os vírus passaram a circular livremente —e de repente eles foram expostos com essa falta de imunidade prévia a toda uma bateria de novas infecções".

Os especialistas estão esperançosos de que os casos estejam diminuindo, mas ainda se mantêm em alerta para novos quadros.

A professora Emma Thomson, que liderou a pesquisa da Universidade de Glasgow, disse que ainda havia muitas perguntas sem resposta. "Estudos maiores são urgentemente necessários para investigar o papel do AAV2 em casos de hepatite pediátrica.

"Também precisamos entender mais sobre a circulação sazonal do AAV2, um vírus que não é monitorado rotineiramente —pode ser que um pico de infecção por adenovírus tenha coincidido com um pico de exposição ao AAV2, levando a uma manifestação incomum de hepatite em crianças suscetíveis

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