'É alimentar o sonho de uma vida', diz mãe que já doou 350 litros de leite

SP registra aumento de doações do alimento, mas volume ainda está abaixo do necessário

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A tecnóloga em radioterapia Aline Regina Giannetti, 35, foi incentivada por uma colega do trabalho a doar o leite excedente a uma maternidade. Ela tem uma produção láctea maior do que as necessidades do seu bebê, Isacc, nascido na maternidade Santa Joana, em outubro de 2022.

A ação solidária entrou em sua rotina um mês após o nascimento do filho. De lá até julho deste ano, Aline já doou 350 litros de leite humano ao Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, no Belém, zona leste paulistana.

"[Os bebês] são meus filhos por consideração. Não custa nada ajudar. Com um pequeno gesto você pode alimentar o sonho de uma vida. Sei que estou ajudando quem precisa e estimulo outras mães a fazerem o mesmo. É um dom que eu recebi", afirma.

Ela diz que chegou a doar de 10 a 12 litros de leite por semana. Mais recentemente, o volume passou para de 4 a 6.

Mulher jovem está sentada numa cadeira, em meio a brinquedos de um bebê, retirando leite do peito
A tecnóloga em radioterapia Aline Regina Giannetti, 35, que doou 350 litros de leite ao Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros - Bruno Santos/Folhapress

No último dia 22, a reportagem acompanhou a entrega de mais 2,5 litros de leite à maternidade.

Aline retira o leite excedente, e o marido dela, Dorival, 35, organiza: armazena em potes, data e guarda em local apropriado.

É ele também que, pelo menos uma vez na semana, recebe a equipe de coleta do banco de leite do hospital no apartamento em que vivem, no Belém, zona leste, e entrega a doação.

A unidade médica faz parte da Rede Paulista de Bancos de Leite, que reúne 58 bancos de leite humano e 47 postos de coleta, localizados dentro e fora de hospitais públicos, privados e filantrópicos.

De janeiro a junho, a rede recebeu 30,5 mil litros de leite de 22,3 mil doadoras, números 7% e 5% maiores, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2022. Todo o volume deste ano beneficiou 22,4 mil bebês, segundo a Secretaria de Estado da Saúde.

As doações são destinadas aos bebês que não podem ser amamentados pela própria mãe. O alimento é submetido a um processo de pasteurização antes de ser dado às crianças. Estima-se que o uso de leito humano seja capaz de reduzir em até 13% a mortalidade de crianças menores de cinco anos por causas evitáveis.

Cerca de 95% dos beneficiados são recém-nascidos com baixo peso, prematuros ou com alguma patologia —respiratória, cirúrgica ou neurológica, por exemplo—, internados nas UTIs neonatais.

Uma das beneficiadas é Maria Alice, que nasceu no último dia 10 na maternidade Leonor Mendes de Barros com 866 gramas.

"No começo, eu não tinha leite porque meu corpo não estava preparado", afirma a diarista Andréa Almeida Maia, 39, mãe de Maria Alice. "E também estava nervosa com a situação. Ela veio muito cedo. Eu não produzia leite. Se não fosse o banco de leite, ela iria ter que tomar fórmula e isso não é bom."

Em qualquer unidade neonatal, 200 ml de leite humano são suficientes para alimentar até dez bebês prematuros ou de baixo peso, segundo a médica Andrea Penha Spinola Fernandes, coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros.

"Leite humano é vida, principalmente quando falamos do prematuro. Às vezes, significa morrer ou viver", afirma a médica, que também coordena o Centro de Referência de Banco de Leite Humano da Grande São Paulo.

Apesar do aumento de doações, ainda seria necessário arrecadar mais para atender toda a demanda do estado —para encontrar o endereço e telefone do banco de leite mais próximo de onde mora, acesse o site rblh.fiocruz.br/localizacao-dos-blhs.

Quem pode doar

Toda mulher que amamenta e é saudável pode doar leite humano, exceto:

  • Se ingere bebida alcoólica

  • Faz uso de álcool e drogas —anfetaminas também são impedimento

  • Utiliza medicamentos incompatíveis com a amamentação

  • Fuma mais de dez cigarros por dia

  • Tem doença infectocontagiosa

  • Recebeu doação de sangue nos últimos 12 meses

O Hospital Municipal Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha, que integra a rede paulista e é referência em gestação de alto risco, consegue atender 100% dos prematuros —com menos de um quilo— e dos doentes graves, segundo Juliana Miranda, enfermeira e coordenadora do Banco de Leite na unidade.

"A doação de leite é vital. Há anos, um bebê de um quilo e meio não sobrevivia. Agora, há um bom prognóstico de alta de bebês de 400 gramas", diz Miranda.

A unidade da zona norte de paulistana realiza, em média, a captação de cem litros mensais. Neste ano, até o final de julho, 1.055 recém-nascidos foram beneficiados, com 724 litros coletados de 312 doadoras. No mesmo período de 2022, foram coletados 612 litros de leite humano de 283 doadoras, atendendo 1.048 recém-nascidos.

A dona de casa Maniely Steicy Silva Pereira dos Santos, 29, mãe do Nicolas, sete meses, teve uma gravidez de alto risco. Como o filho é bastante saudável por causa do leite materno, ela entendeu essa condição como um propósito para ajudar outras crianças. É o que faz há seis meses.

Santos chegou a doar à maternidade Cachoeirinha seis litros de leite por semana. Hoje, consegue metade —não importa a quantidade doada, toda mãe com sobra de leite pode ajudar um banco ao fazer a doação.

"A demanda de mãe é puxada, eu não tenho rede de apoio", diz Maniely. "Mas, se todo mundo pensar que é difícil, ninguém vai doar. E se um dia for o seu filho? Você será a pessoa que estará pedindo doação. E você poderia ter doado."

Saiba aqui como retirar e preparar o leite humano para a doação em casa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.