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Documentário mostra perigos do uso de agrotóxicos
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DENISE MENCHEN
DO RIO
Vanderlei Matos da Silva morreu aos 29 anos vítima de problemas no fígado após passar três anos e meio misturando defensivos químicos para uso no cultivo de abacaxi. Almiro Rodolfo Ludtke foi parar no hospital com sintomas de intoxicação depois de um dia de trabalho na lavoura de milho. Já Adonai Soares dos Santos teve dificuldade para obter financiamento para a safra porque não queria usar agrotóxicos.
A história desses e de outros agricultores está no documentário "O veneno está na mesa", lançado pelo cineasta Silvio Tendler na última segunda-feira (25), no Rio.
Orçado em R$ 50 mil e financiado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, o filme expõe os perigos associados à utilização de agrotóxicos no Brasil.
Desde 2008, o país é o principal mercado no mundo para esses produtos. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o consumo anual chega a 5,2 litros por habitante --e, muitas vezes, os produtos são usados de forma imprópria ou abusiva, como mostram testes feitos pela agência.
O último deles, realizado em 2010, apontou problemas em 29% das amostras de alimentos examinadas. No caso do pimentão, esse percentual chegou a 80%.
"É um problema que incide na vida de todo mundo, mas parece que as pessoas optaram pela política de avestruz", diz Tendler, que já dirigiu documentários sobre o cineasta Glauber Rocha e o ex-presidente João Goulart.
Em 50 minutos, o filme costura depoimentos de agricultores, entrevistas com pesquisadores de universidades e reportagens de televisão. Traz, ainda, denúncias de lobby praticado pela indústria contra medidas restritivas da Anvisa.
"É uma realidade que o Brasil desconhece", diz a gerente de normatização e avaliação da Anvisa, Letícia Rodrigues da Silva, uma das entrevistadas pelo diretor.
No filme, ela conta que, desde 2008, a agência tenta reavaliar o registro concedido para 14 ingredientes ativos suspeitos de provocar problemas no sistema nervoso central, má formação fetal ou câncer, entre outros. Alguns já foram proibidos em países tão distintos como Estados Unidos e China. A iniciativa, porém, esbarra na resistência dos fabricantes.
Em debate realizado após o lançamento do filme, Silva listou as quatro principais estratégias usadas pelas empresas nesses casos.
A primeira, segundo ela, é desqualificar técnicos que apontem riscos nos produtos. A segunda, a contratação de pareceristas em universidades para a elaboração de estudos atestando a segurança das substâncias. A terceira é a obtenção de apoio de parlamentares para pressionar o governo. Por fim, há ainda a "judicialização" da questão, com processos que se arrastam por anos na Justiça.
Das 14 reavaliações que pretendia fazer, a Anvisa só conseguiu concluir seis, determinado restrições ao uso ou a retirada do produto do mercado. Cinco, porém, foram contestadas na Justiça.
A Folha procurou o Sindag (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola) e a Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal) para comentar o assunto, mas ambos disseram que não iriam se manifestar por não conhecer o teor do documentário.
O filme estará disponível para download no site da produtora Caliban (www.caliban.com.br www.caliban.com.br) a partir da próxima semana.
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