PAULO ROBERTO CONDE
DE SÃO PAULO

O ano seguinte ao da coroação olímpica prometia ser apoteótico para Thiago Braz, 24, ouro no salto com vara nos Jogos do Rio-2016.

O planejamento previa medalha inédita no Campeonato Mundial de Londres e uma preparação específica para quebrar o recorde mundial da modalidade, de 6,16 m, atualmente em poder do francês Renaud Lavillenie, seu rival.

Abertamente, Thiago e seu treinador, o ucraniano Vitali Petrov, que no passado orientou ícones como Sergey Bubka e Ielena Isinbaieva, falavam em melhorias físicas e técnicas que permitiriam ao brasileiro saltar incríveis 6,20 m até os Jogos de Tóquio.

Não poderia ter dado mais errado para o saltador, que viveu em 2017 um autêntico anticlímax. Em competições ao ar livre, como é disputada a Olimpíada, seu melhor salto foi 5,60 m, em Xangai, em torneio realizado em maio.

A marca na China foi mais de 40 centímetros inferior àquela que lhe rendeu o topo do pódio no Rio, em 2016 -o seu registro no Engenhão, de 6,03 m, foi recorde olímpico.

Em má fase, Thiago foi barrado do Mundial de Londres, principal competição desta temporada, pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) e pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), que preferira poupá-lo a queimá-lo.

Desde então, o saltador paulista tem se dedicado exclusivamente aos treinos na cidade italiana de Formia, onde está baseado desde 2014 para ficar com Petrov.

"Fiquei triste com os resultados, mas aprendi a lidar um pouco melhor com isso. Este foi um ano de reflexão, de dedicação, de foco, de planejamento e sempre aprendemos em todas as situações, tanto as boas quanto as ruins", disse à Folha, por e-mail, para depois reiterar que ainda pretende quebrar o recorde de Lavillenie, seu rival.

Preparado para voltar a atuar em janeiro, ele se disse preocupado com a falta de estrutura do atletismo do país.

Folha - Neste ano, você ficou longe de repetir seu melhor desempenho e acabou fora do Mundial de Londres. Como foi lidar com isso?

Thiago Braz - Isso era algo que, após a conquista do ouro, eu estava ciente que talvez pudesse acontecer. O Vitali já havia me alertado sobre isso e explicado que é comum uma queda de rendimento após o ano olímpico. Não vou dizer que foi fácil lidar com isso, nós atletas nos cobramos muito, mas a orientação do meu treinador e as palavras e o apoio das pessoas que amo me ajudaram a passar por essa fase de transição de uma maneira menos traumática.

Você ficou decepcionado com o ano ruim que teve? Que tipo de lição você tira dele?

Como disse, nós atletas nos cobramos muito e, sim, fiquei triste com os resultados, mas aprendi a lidar um pouco melhor com isso. Este foi um ano de reflexão, de dedicação, de foco, de planejamento e sempre aprendemos em todas as situações, tanto as boas quanto as ruins. São essas experiências que vão nos amadurecendo, fortalecendo e nos tornando um profissional e uma pessoa melhor.

*O quanto a falta de bons resultados nas provas no primeiro semestre afetou a confiança? *

Nós dependemos de resultados. Mas o meu treinador foi extremamente importante em todo esse processo. Além de tê-lo como um pai, ele é um profissional extremamente renomado e experiente no salto com vara. Ele soube me orientar e com o trabalho de agora fez com que eu ficasse mais confiante e apto para as próximas competições.

Qual o ponto a ser melhorado para a próxima temporada?

Esse foi um ano de adaptação. Nós colocamos muita energia física e psicológica na preparação para os Jogos do Rio, em 2016, e esse ano serviu de preparação para o próximo ciclo olímpico. Para a próxima temporada, nosso objetivo é manter a média de resultados e voltar a crescer em competições.

Em 2017, você disse que estava alterando tamanho da vara e técnica para se aproximar do recorde mundial. Esse projeto ainda segue em pé?

Segue, sim. Continuo seguindo o planejamento que o Vitali montou pra mim. Que é colocar mais carga, mudar os parâmetros de força e velocidade para, dessa forma, bater novos recordes.

Você pensa em alterar outras coisas em sua preparação ou sua técnica?

Na verdade, quem define isso é o Vitali e eu sigo o planejamento dele. Após a Rio-2016 ele alterou minha rotina de treinos para que eu ganhasse mais massa muscular e aguentasse o peso de uma outra vara que me permita saltar próximo dos 6,20 m. Continuamos com esse plano e com o objetivo de alcançar uma nova marca no ciclo até os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

Você pretende manter Formia como sua base ou aceitaria voltar a treinar no Brasil?

O plano continua sendo Formia, na Itália. Minha base continua sendo lá, mas quando venho para o Brasil, treino no meu clube [o Clube Pinheiros, em São Paulo].

Como você analisa o cenário mundial da prova? Acha que, por ter ficado afastado pode ser um prejuízo para você?

Acredito que não. Fiquei afastado das provas, mas a preparação, as fisioterapias e os treinos nunca pararam. Agora, no início do próximo ano, depois de meses de treinos, vou retomar a rotina das competições.

Com você fora do Mundial, o Brasil obteve apenas uma medalha, no último dia, com o Caio Bonfim na marcha atlética. O atletismo brasileiro ainda depende muito de talentos esporádicos?

O grande problema está na falta de estrutura para a prática do esporte. O esporte precisa ser valorizado. Nós precisamos ter mais lugares para treinos, competições e principalmente patrocínios para mantermos os poucos centros de treinamentos que existem hoje no Brasil. Um país com 200 milhões de habitantes deveria ser uma grande potência e para fazer vitórias como a minha na Olimpíada do Rio-2016 e a do Caio, no Mundial, mais frequentes.

Você terá como próximo grande torneio o Mundial indoor do próximo ano. O quanto um bom resultado será importante para você retomar a confiança?

Esse ano que vai entrar continuará sendo um ano de transição e adaptação do novo treinamento. A meta, como eu disse, é manter a média e fazê-la crescer gradativamente. É claro que um bom resultado é sempre gratificante e importante para qualquer atleta.

Quais são seus objetivos para o restante do ciclo olímpico até Tóquio-2020?

Tenho muitos planos e estou me preparando ao máximo para as competições. Todo atleta quer saltar mais alto, e acredito que esse não seja só um desejo meu, mas de todos que competem. Mas, para isso preciso estar focado, respeitando os meus adversários. As competições são sempre diferentes e cada uma com um grau de dificuldade.

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