Descrição de chapéu Copa do Mundo

Modric supera traumas da infância na guerra para brilhar pela Croácia

Capitão aprendeu a jogar futebol ao som de granadas e morteiros

Modric comemora gol em partida contra a Argentina na Copa do Mundo
Modric comemora gol em partida contra a Argentina na Copa do Mundo - Ivan Alvarado/Reuters
São Paulo

Batalha, guerra e duelo são palavras de cunho bélico que costumam fazer parte do vocabulário do futebol para se referir a uma partida entre duas equipes.

Para Luka Modric, 32, capitão da Croácia que enfrenta neste domingo (1º) a Dinamarca, pelas oitavas de final da Copa, essas palavras transcendem o uso ilustrativo.

Nascido em uma pequena vila chamada Modrici (que também é o plural de Modric, em croata), o pequeno Luka e sua família tiveram de se mudar quando estourou a guerra pela independência da Croácia, no início dos anos 1990.

Assim que o país se declarou independente da antiga Iugoslávia, a população sérvia, que era contra o movimento separatista, se juntou ao Exército iugoslavo para tentar tomar a região e cortar as comunicações no país. O vilarejo fica em uma zona central pela qual, na época, passava uma das duas rodovias que conectava os extremos da Croácia.

Em dezembro de 1991, o avô do hoje craque do Real Madrid, que também se chamava Luka, levava seu gado pelas colinas quando nacionalistas sérvios o sequestraram. Mais tarde, ele foi fuzilado.

Modric tinha apenas seis anos. Seu pai foi obrigado a entrar para o Exército croata, e a região onde moravam foi quase toda cercada por minas terrestres. Somado a isso, a família recebia ameaças de morte constantes por parte de nacionalistas sérvios.

O terror forçou a família a se mudar de Modrici. Foram buscar refúgio na cidade de Zadar, onde passaram a morar em um hotel com outras famílias que fugiam do conflito.

 

Com poucos recursos para viver, Luka passava o tempo chutando uma bola no estacionamento do hotel, com o som de granadas e morteiros ao fundo como triste trilha sonora.

A caminhada rumo ao estrelato no futebol começou em meio a esse ambiente, quando entrou ainda criança nas categorias de base do clube local, o NK Zadar. Para que o menino pudesse realizar o sonho de se tornar jogador, a família abriu mão de se mudar da cidade, mesmo com os constantes ataques e a ameaça de perseguição dos sérvios.

Aos 12 anos, ele tentou uma chance no clube de coração, o Hadjuk Split, mas foi rejeitado por considerarem que era franzino demais.

Quando completou 15 anos, conseguiu uma transferência para o Dínamo Zagreb. Se profissionalizou pela equipe, mas os dirigentes ainda não o viam como totalmente pronto para integrar o time mais vitorioso do país.

Foi emprestado ao Zrinjski Mostar, da Bósnia-Herzegóvina, que tinha uma liga considerada das mais ferozes da Europa, caracterizada pelo excesso de contato físico --basicamente, só por isso.

Escolhido o melhor jogador do campeonato bósnio, retornou ao Dínamo para ser emprestado novamente, dessa vez a outro clube croata, o Inter Zapresic, nos subúrbios de Zagreb. Liderou a equipe a um vice-campeonato inédito. Foi aí que o Dínamo Zagreb se convenceu de que tinham na mão um talento a ser aproveitado.

Em 2008, após se destacar no cenário local, se transferiu para o Tottenham (ING), onde seu futebol ganhou projeção mundial. O bom desempenho no Campeonato Inglês o levou ao Real Madrid.

Na Espanha, demorou para engrenar após a chegada, em 2010. Hoje, porém, é um dos melhores meios-campistas do mundo e camisa 10 da equipe que conquistou quatro Ligas dos Campeões nos últimos cinco anos.

Autor de dois gols nesta Copa e grande figura da classificação na liderança do Grupo D, o croata veste a braçadeira de capitão e tem ascendência sobre os companheiros, mas não irá "liderar as tropas" nem "conduzir a seleção à batalha" contra a Dinamarca.

Filho da guerra, Luka Modric quer, como todos, triunfar no Mundial, mas sem perder de vista o que o futebol sempre foi para ele: espaço de diversão. Assim como era o estacionamento do hotel em Zadar, enquanto a verdadeira batalha acontecia ao redor.

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