Nas arquibancadas, Salah faz ressurgir hit pop britânico dos anos 90

Torcedores do Liverpool adaptaram música para homenagear o egípcio

Lúcio Ribeiro
Londres

Que os torcedores ingleses são craques em levar música pop às arquibancadas de futebol, isso não é de agora. E hoje em Kiev, na final da Liga dos Campeões, se tudo correr bem pelos lados do Liverpool e de seu principal jogador, o egípcio Mohamed Salah, pode ser que se escute via TV brasileira o mais novo hino pop travestido de cântico de torcida.

Graças à instantânea adoração ao africano, talvez o jogador de futebol hoje mais badalado no mundo tirando a tríade Cristiano Ronaldo-Neymar-Messi, uma famosa canção indie britânica dos anos 90 foi revivida com força agora em 2018, com sua letra obviamente trocada para homenagear Salah.

A música é "Sit Down", da banda James, de Manchester, que num mundo pré-britpop (final dos anos 80, começo dos 90) poderia ganhar o tamanho do que o Oasis logo viria ser, mas o grunge do Nirvana veio e acabou com tudo.

O artista Guy McKinley pinta um mural com o rosto de Mohamed Salah, na cidade de Liverpool
Sensação da temporada inglesa, o próprio egípcio tem virado um ícone pop com o sucesso que tem feito no Liverpool - Andrew Yates/REUTERS

Curiosamente “Sit Down” nunca foi primeiro lugar das paradas britânicas (chegou ao número 2), mas botou o James na condição de superbanda em 1991, quando foi relançada. No gigantesco Reading Festival de 1991, o James, uma das principais atrações do evento naquele ano, botou cerca de 70 mil pessoas para sentar e ouvir seu vocalista, Tim Both, entoar a canção.

A versão boleira em tributo ao “rei egípcio” Salah modifica o refrão de “Sit Down” para acomodar a reverência lírica “Mo Salah, Mo Salah, Mo Salah/ Running down the wing/ Salah, lah, lah, lah, lah/ Egyptian King”.  “Running down the wing” é por sua exímia habilidade de atacar pelos flancos da defesa adversária. 

O Youtube tem vídeo com a versão completa de “Sit Down”, com a musicalidade do James e a letra da torcida do Liverpool.

O tributo não só ganhou as arquibancadas como pubs por onde o Liverpool passa, foi ouvido bastante nesta semana nas ruas de Kiev e o próprio Salah já entoou “sua canção” em programa de entrevista na CNN. 

O jogador merece o buzz por causa de sua estupenda performance principalmente neste ano: atacante de gols improváveis, não só levou o Liverpool à decisão mais importante do time nos últimos 11 anos como botou o Egito "milagrosamente" na Copa do Mundo deste ano, ao fazer um gol salvador, de pênalti, aos 50 minutos do segundo tempo nas eliminatórias africanas.

Coleciona recordes e prêmios na Premier League, o campeonato inglês, onde se tornou o “Chuteira de Ouro” da última temporada, ao marcar 32 gols em 36 jogos.

Salah, 25, começou relativamente tarde no futebol, em 2010, no Al Mokawloon do Egito. Entre outros, jogou no  Basel, da Suíça, no Chelsea e na Roma, não com tanto brilho. Estourou agora. 

É considerado na Inglaterra um contraponto ao brasileiro Neymar. Não dança, não usa brinco, não pinta o cabelo. Seguidor do islamismo, deve entrar em campo hoje contra o Real Madrid em jejum, por causa do Ramadã, o mês sagrado do calendário muçulmano, em que os fieis não comem durante o dia, entre outras práticas.

Fora a recente versão de “Sit Down”, a torcida do Liverpool já possui, desde os anos 60, talvez  a música de estádio mais famosa do mundo. É "You'll Never Walk Alone", que nasceu em um musical de teatro inglês, foi para um filme americano e acabou nas paradas de sucesso da Inglaterra na versão da bastante conhecida banda Gerry and the Pacemakers, companheira de cena dos Beatles.

“Sit Down”, do James, vem ajudando a manter a carreira do James viva. Depois de aparecer ao longo dos anos em coletâneas e versões remixadas, o clássico indie foi usado em 2017 na peça promocional da sétima temporada da série “Game of Thrones”.

O James, muito por causa de “Sit Down” e graças um pouco ao “momento Salah”, está em plena turnê inglesa e se apresenta no final de junho no Rock in Rio Lisboa.

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