Descrição de chapéu Copa do Mundo

Tudo pode acontecer com a Rússia, até mesmo ser finalista, diz Parreira

Ex-técnico da seleção mantém declaração de que a CBF é o Brasil que deu certo

Carlos Alberto Parreira, no Hotel PortoBay do Rio de Janeiro, durante workshop sobre a Copa
Carlos Alberto Parreira, no Hotel PortoBay do Rio de Janeiro, durante workshop sobre a Copa - Paula Reis - 11.jun.2018/Futura Press/Folhapress
Carlos Maranhão
Moscou

Sem nunca ter jogado futebol profissionalmente, o carioca Carlos Alberto Parreira começa a participar nesta semana, aos 75 anos, de sua 11ª Copa do Mundo.

Seu currículo é impressionante. Foi técnico das seleções de cinco países diferentes em seis Mundiais (Kuwait, em 1982; Emirados Árabes, em 1990; Brasil, em 1994; Arábia Saudita, em 1998; Brasil, em 2006; e África do Sul, em 2010), um recorde. Ele foi também preparador físico e coordenador técnico da seleção brasileira (respectivamente, em 1970 e 2014).

Nessa longa trajetória, ganhou dois títulos de campeão pelo Brasil (como preparador físico, em 1970, e treinador, em 1994), além de ter sido o técnico do time eliminado nas quartas de final em 2006. Desta vez, como em 2002, seu trabalho é o de observador técnico da Fifa.

Parreira falou à Folha poucas horas após desembarcar em Moscou e ter sido anunciado como membro do júri que irá indicar os melhores jogadores da temporada em eleição realizada pela Fifa.

 

O que faz um observador técnico da Fifa? 

Nosso papel é analisar os jogos da Copa em todos os seus aspectos: técnico, tático, as tendências, como os times jogaram, como aconteceram os gols e tudo mais. Esse grupo de observadores, do qual participam entre outros o sérvio Bora Milutinovic e o holandês Marco van Basten, faz parte da elite do futebol. Eu começo minhas observações nestas quartas de final.

Até agora, o que viu de melhor e pior na Copa?

Ainda é cedo para dizer. Generalizando com um termo desgastado, o futebol se globalizou. Praticamente todas as seleções têm jogadores que atuam pelo mundo. O resultado é que, com raras exceções, não há mais galinha morta. Os times estão super compactados e os espaços diminuíram bastante. Para serem bem-sucedidas, as equipes precisam ser mais habilidosas e rápidas. Do contrário, não entram nas defesas adversárias.

Já viu alguma novidade tática?

Hoje em dia, o esquema é o que menos importa. Pode ser 3-4-3, 4-1-4-1, 4-3-3, o que for. O fundamental é saber como quebrar as defesas. Só se consegue com jogadores que saibam jogar em espaços reduzidos. Há poucos, entre eles Neymar e Messi. O Gabriel Jesus ainda não explodiu, mas é capaz de fazer isso. As outras opções são as jogadas de bola parada, que têm predominado nesta Copa do Mundo, e chutes de fora da área.

Que jogadores já lhe chamaram a atenção?

O Cristiano Ronaldo, sem dúvida, e o Messi, com todos os problemas que enfrentou. Ele joga sozinho, sem um companheiro à sua altura. Gostei do De Bruyne e do Hazard, da Bélgica; do Isco, da Espanha; e do Mbappé, da França. Entre os brasileiros, Neymar e Philippe Coutinho.

Muitos críticos e torcedores acham que a conquista do tetra, em 1994, sob o seu comando, foi o título mais sem graça dos cinco que o Brasil ganhou. Isso lhe incomoda?

Curioso, recebo elogios até hoje por causa daquele time. Quem começou essa história foi o Armando Nogueira [jornalista esportivo e diretor de jornalismo da Rede Globo, falecido em 2010]. Ele e outros diziam: ganhou, mas não jogou bonito. Simplesmente não souberam entender a diferença entre time organizado e time defensivo. Nós éramos organizados. Ganhamos com um excelente trabalho de equipe.

Durante a Copa do Mundo de 2014, quando foi o coordenador técnico da seleção brasileira, o senhor afirmou que a CBF era o Brasil que dá certo. Hoje, um de seus ex-presidentes está na cadeia e outro foi banido do futebol. Arrepende-se daquela declaração?

Não me arrependo. Eu não analiso o lado político. Analiso o lado técnico. E do lado técnico o trabalho em torno da seleção brasileira é uma perfeição. Quem dera que todas as empresas do Brasil tivessem a mesma eficiência.

O senhor deu outra declaração bastante ousada durante aquela Copa. Afirmou que o Brasil estava com a mão na taça. Também não se arrepende?

Também não. O que eu quis dizer é que o futebol brasileiro, quando se organiza fora de campo, é difícil de ser derrotado. Eu estava apregoando a importância do trabalho realizado fora de campo, como nas Copas de 1970 e 1994. É o que vemos agora com esse time do Tite. Faço questão de dizer que ele está indo muito bem.

Mas como explicar os 7 a 1?

Não há explicação. A cada mil anos, sei lá de quanto em quanto tempo, um meteoro atinge a Terra. Foi o que aconteceu. E o que você me diz da Alemanha?

A Alemanha decepcionou, perdeu dois jogos, mas não tomou uma goleada como aquela, ainda mais dentro de casa.

Ela foi desclassificada na primeira fase. Nós, apesar de tudo, ficamos no quarto lugar em 2014.

O que aconteceu no intervalo daquele jogo, quando o Brasil entrou no vestiário já perdendo por 5 a 0?

Quer a palavra certa? Perplexidade. Não houve choro. O técnico Felipão manteve a dignidade. Sabíamos que o jogo estava perdido. Ainda assim, antes que marcassem o sexto, tivemos três chances de gol. Mas veja a força do nosso futebol. Depois que o Tite assumiu, o Brasil se reergueu e virou de novo o favorito.

Quem fará a final da Copa?

Passando pela Bélgica, um adversário difícil, o Brasil fará na semifinal quase uma final antecipada contra França ou Uruguai. Os dois são muito perigosos. O risco é que, indo para a decisão, a gente dê um suspiro de alívio, imaginando que o pior já terá passado.

Se for o Brasil, qual será o adversário?

Vou arriscar. Há duas possibilidades de surpresa. Uma é a Suécia. Nas eliminatórias, tirou a Holanda da Copa e na repescagem fez o mesmo com a Itália. E devemos considerar a Rússia. Não tecnicamente, mas por ser a dona da casa e estar embalada. Diziam que nem passaria da primeira fase. Pois tudo pode acontecer com a Rússia, até mesmo ser finalista. E se for finalista... Por favor, escreva com aspas: 'Pode'.

Carlos Alberto Parreira, 75

Nascido no Rio de Janeiro em 27.fev.1943, foi preparador físico da seleção brasileira no Mundial de 1970, antes de seguir a carreira de treinador. Seu primeiro trabalho como técnico foi à frente do Fluminense, em 1975. Pouco depois, assumiu a seleção do Kuwait, pela qual disputou a Copa de 1982. Comandou os Emirados Árabes Unidos no Mundial de 1990, e o Brasil na Copa de 1994, quando conquistou o tetra. Voltou a comandar a seleção na Copa de 2006, caindo nas quartas de final contra a França, e foi coordenador técnico do Brasil no Mundial de 2014. Hoje trabalha como observador técnico da Fifa

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