Jogador do Flamengo só conseguiu salvar 2 amigos ao ver o fogo, diz pai

Felipe Cardoso chegou ao clube neste mês e é um dos sobreviventes de incêndio no CT

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Torcedores colocam flores na entrada do centro de treinamento onde aconteceu o incêndio na manhã desta sexta (8)
Torcedores colocam flores na entrada do centro de treinamento onde aconteceu o incêndio na madrugada desta sexta (8) - Carl de Souza/AFP
São Paulo

Assim que conseguiu sair do centro de treinamento George Helal, do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu, o garoto Felipe Cardoso, 15, ligou chorando para o pai, Alex Cardoso. 

Assustado, disse quase sem fôlego que o CT estava em chamas. Incêndio que começou em seu quarto no alojamento do clube carioca. O saldo é de dez mortos e três internados, um deles em estado grave, com cerca de 35% do corpo queimado.

"Ele me disse que estava na cama e sentiu um cheiro forte de fumaça no quarto dele. Quando viu o fogo, só conseguiu acordar dois amigos que estavam mais próximos e saíram correndo, gritando", afirma Alex à Folha.

O presidente da agremiação, Rodolfo Landim, disse ser a maior tragédia da história do Flamengo. 

Felipe disse ao pai que havia outros garotos no mesmo quarto, mas que não acordaram. Na pressa para sair do CT e se afastar do fogo, o jogador, que estava no Santos até 2018 e chegou ao Flamengo na semana passada, sofreu um pequeno ferimento no braço.

"Ele está muito abalado pela perda dos amigos. Graças a Deus, ele conseguiu sair", completa o pai.

Felipe está em um hotel na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, para onde estão sendo levados também familiares das vítimas. Ele já teve atendimento com psicólogos e assistentes sociais contratados pelo Flamengo. 

Horas depois, Felipe tuitou dizendo que estava bem após o incêndio.

"Eu estou aguardando um posicionamento do Flamengo para saber o que fazer. A empresa que agencia a carreira dele já mandou uma pessoa para ficar com ele. Ele está muito assustado e abalado com o que aconteceu. Todo mundo ali tinha o mesmo objetivo e ele viu a possibilidade de o sonho acabar desse jeito", finaliza o pai de Felipe.

Outros jovens postaram nas redes sociais vídeos para tranquilizar familiares e amigos.

“Só quero avisar que estou bem e vai dar tudo certo. Todo mundo aqui está bem”, disse Kayke, também das categorias de base do Flamengo.

A programação do clube era que os garotos fossem levados ao Maracanã na tarde desta sexta-feira para participar de um teste de árbitro de vídeo antes da semifinal da Taça Guanabara. A partida seria neste sábado (9), contra o Fluminense. Foi adiada para quarta-feira (13).

“Eu saí e começou a pegar fogo. O Felipão começou a gritar ‘está pegando fogo’. Eu levantei porque estava muito forte. Explodiu... Aquela fumaça. Gritei Bolívia, Bolívia [apelido de Rykelmo, uma das possíveis vítimas]. Eu corri lá para fora. Eu espero que o Bolívia esteja bem”, gravou um áudio entre lágrimas o jogador Samuel Barbosa, 16. Em alguns momentos, o som era ininteligível por causa do choro descontrolado. 

“O menino não tem condições de falar. Só chora. Só chora. Ele acordou, chamou outro amigo e saiu correndo. Parece que esse amigo agora está no hospital”, afirmou Washington Barbosa, pai de Samuel.

​Weverton de Souza Santos, 16, da equipe sub-17 do Flamengo, postou em seu perfil no Twitter um vídeo em que se diverte ao lado de outros jovens do clube em um dos quartos do alojamento.

“Vejam como era nossa alegria no alojamento”, escreveu em sua postagem.

Nas imagens, os meninos pulam, se abraçam e cantam o hino do Flamengo. É possível ver que cada quarto tinha três beliches de dois lugares. Poderiam ficar seis atletas.

Os dirigentes do Flamengo evitaram dar informações. O presidente Rodolfo Landim afirmou ser a maior tragédia da história do clube. Horas depois, ele conversou com Marco Aurélio Vieira, secretário especial de Esporte.

Vieira evitou discutir as causas do incêndio e disse que é preciso fazer investigação.

“Muitas vezes o próprio profissionalismo tem algumas adaptações, algumas improvisações. Então o futebol, o esporte brasileiro tem de deixar de improvisar”, disse.

“Esta é uma tragédia não só para o futebol, mas para o esporte nacional. Mancha nossa imagem”, completou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.