Descrição de chapéu The New York Times

Futebol testará substituições por concussão no próximo ano

Entidade que supervisiona regras do esporte anunciou liberação na última quarta

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Tariq Panja
The New York Times

As ligas e torneios de futebol terão autorização para testar substituições por concussão, a partir de janeiro, anunciou o órgão que supervisiona as regras do esporte na quarta-feira (16).

A mudança é a ação mais tangível adotada pelos líderes do futebol diante da crescente preocupação com os efeitos de lesões que afetam as cabeças dos jogadores, em todos os níveis do esporte.

Os times envolvidos nos testes estarão autorizados a realizar substituições adicionais em caso de concussão de atletas ou de suspeita, anunciou a International Football Association Board (Ifab) em um comunicado de imprensa.

Gustavo Goméz, do Palmeiras, e Antonio Bareiro, do Libertad, batem cabeça com cabeça na partida de volta das quartas de final da Libertadoress, na última terça (15); ambos precisaram ser atendidos dentro de campo, com cortes na região da pancada
Gustavo Goméz, do Palmeiras, e Antonio Bareiro, do Libertad, batem cabeça com cabeça na partida de volta das quartas de final da Libertadoress, na última terça (15); ambos precisaram ser atendidos dentro de campo, com cortes na região da pancada - Alexandre Schneider - 15.dez.20/AFP

A autorização para realizar substituições acima do número permitido protegeria os jogadores ao dar ao pessoal médico mais tempo para avaliar a condição de um atleta lesionado, sem forçar o time a recomeçar o jogo em desvantagem numérica.

A decisão pode servir para acalmar as organizações ativistas e os ex-jogadores que defendem há muito a necessidade de maior proteção aos atletas em caso de lesões na cabeça.

Bareiro, do Libertad, foi substituído no intervalo, já Goméz, do Palmeiras, retornou para o segundo tempo, mas não aguentou as dores e a sensação de tontura e acabou substituído também
Bareiro, do Libertad, foi substituído no intervalo, já Goméz, do Palmeiras, retornou para o segundo tempo, mas não aguentou as dores e a sensação de tontura e acabou substituído também - Alexandre Schneider - 15.dez.20/AFP

A iniciativa surge depois de diversos incidentes que ganharam destaque, nas Copas do Mundo masculina e feminina, bem como depois de manchetes recentes que questionam os protocolos em vigor em algumas das maiores ligas do esporte.

Em uma partida da Premier League da Inglaterra, em novembro, David Luiz, zagueiro do Arsenal, foi autorizado a ficar em campo ainda que a bandagem aplicada em sua testa estivesse deixando vazar sangue. Ele tinha passado por um choque de cabeça com o atacante Raúl Jiménez, do Wolverhampton. Jiménez sofreu uma fratura de crânio, no violento choque.

As substituições por concussão aprovadas na quarta-feira para fins de teste não parecem ser compulsórias, e já que a norma proposta determina que a saída de qualquer jogador da partida seria permanente, a proposta traz a perspectiva de que os treinadores continuem relutando em tirar jogadores importantes de jogos decisivos mesmo que eles mostrem sinais de concussão.

No mais perturbador dos incidentes recentes, Christoph Kramer, meio-campista da seleção alemã, foi autorizado a ficar por 14 minutos em campo, na final da Copa do Mundo de 2014, a despeito de estar visivelmente desorientado depois de uma colisão com um zagueiro argentino.

O árbitro da partida disse a jornalistas que Kramer havia lhe pedido durante o jogo que confirmasse que aquela era mesmo a final da Copa do Mundo.

O brasileiro David Luiz, do Arsenal, com a cabeça enfaixada após colidi-la durante uma dividida
O brasileiro David Luiz, do Arsenal, com a cabeça enfaixada após colidi-la durante uma dividida - Catherine Ivill - 29.nov.20/Reuters

Na Rússia, quatro anos mais tarde, Noureddine Amrabat, do Marrocos, conquistou manchetes ao ser liberado para jogar em uma partida da fase de grupos da Copa do Mundo apenas cinco dias depois de perder a consciência em campo em um jogo anterior da seleção. O treinador da seleção na época, Hervé Renard, descreveu Amrabat como “um guerreiro”.

A decisão da quarta-feira resultou de meses de discussões entre médicos de clubes, especialistas em concussões, treinadores, representantes dos jogadores e a Ifab, a organização que determina as regras do futebol.

“Os membros concordaram que, em caso de concussão ou suspeita de concussão, o jogador em questão deve ser tirado permanentemente de campo para proteger sua saúde, mas sua equipe não deve ficar em desvantagem numérica”, afirmou em comunicado a Ifab, formada por representantes das quatro federações nacionais do Reino Unido e da Fifa.

A decisão de conduzir testes com substituições permanentes, em lugar de substituições temporárias que permitiriam que jogadores liberados da suspeita de concussão voltassem ao jogo, foi criticada pela Headway, uma organização ativista britânica que trabalha com pacientes de lesões cerebrais e que está em campanha por regras mais severas para proteger os jogadores de futebol contra os efeitos das pancadas na cabeça.

“A questão chave: como os jogadores serão avaliados para determinar se existe concussão? E como serão tomadas as decisões sobre se eles devem sair de campo permanentemente?”, questionou Peter McCabe, presidente-executivo da Headway.

McCabe disse que substituições temporárias permitiriam que as avaliações acontecessem “longe do calor da batalha e dos olhares dos jogadores, treinadores e torcedores”. Ele alertou também que os médicos deveriam ter uma responsabilidade para com os atletas e não só para com os times.

“Se essas decisões continuarem a ser tomadas da mesma maneira, é difícil ver de que maneira a situação dos jogadores melhorará”, ele disse.

O programa de testes está aberto a ligas das 211 federações nacionais de futebol, que terão de se candidatar para participar, e de fornecer informações sobre os resultados.

As federações nacionais da Inglaterra e Escócia expressaram interesse em se tornarem as primeiras a conduzir testes, e a Major League Soccer, dos Estados Unidos –que foi uma das primeiras e mais entusiásticas aderentes a mudanças anteriores de regras, como a revisão por vídeo– também deve participar dos testes.​

Tradução de Paulo Migliacci

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