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Tiger Woods voltará a jogar golfe? Médicos preveem recuperação difícil

Percurso para eventual retorno está repleto de obstáculos após grave acidente de carro

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Gina Kolata
The New York Times

Os ferimentos sérios nas pernas que Tiger Woods sofreu em um acidente de carro na terça-feira (24) normalmente requerem uma recuperação lenta e perigosa, e colocam em questão sua capacidade de voltar a jogar golfe profissional, de acordo com médicos especializados que já trataram pacientes em casos semelhantes.

Atletas com lesões severas nas pernas, que eram vistas como capazes de encerrar suas carreiras, conseguiram voltar ao esporte —o quarterback Alex Smith voltou ao futebol americano na temporada passada depois de uma fratura brutal na perna, e o golfista Ben Hogan voltou depois de um acidente de carro, décadas atrás.

Mas os ferimentos de Woods foram mais graves, e seu percurso para a recuperação está repleto de obstáculos sérios. Infecções, recuperação inadequada dos ossos e, no caso de Woods, lesões anteriores e problemas crônicos nas costas podem transformar os meses ou mesmo anos de recuperação em uma tarefa mais difícil, e reduzir a probabilidade de que ele um dia volte a jogar.

No acidente, que aconteceu perto de Los Angeles, a parte inferior da perna direita de Woods foi esmagada e seu pé direito sofreu ferimentos graves; os músculos de sua perna incharam a tal ponto que os cirurgiões tiveram de abrir um corte no tecido muscular para aliviar a pressão, informou o médico Anish Mahajan, diretor de medicina do Centro Médico Harbor-UCLA, onde Woods, 45, foi tratado, em uma mensagem postada na conta de Twitter do golfista.

Os médicos também inseriram uma haste metálica na tíbia de Woods, e parafusos e pinos em seu pé e tornozelo. Médicos que conhecem bem lesões desse tipo descreveram as complicações que elas normalmente podem causar.

As lesões são vistas com mais frequência em motoristas envolvidos em acidentes de carro, disse o médico R. Malcolm Smith, diretor de trauma ortopédico no UMass Memorial Medical Center, em Worcester. Eles ocorrem usualmente quando o motorista pisa freneticamente no freio, no momento em que um carro derrapa fora de controle.

Quando a parte frontal do carro é esmagada, forças imensas são transmitidas para o pé e perna direitos do motorista. “Isso acontece a cada dia, em acidentes de carros em todo o país”, disse Smith.

Fraturas desse tipo na porção inferior da perna podem causar “incapacitação grave”, em certos casos, e outras consequências graves, Smith disse. “Uma estimativa genérica é a de que a lesão tenha 70% de chance de ser curada completamente”, ele acrescentou.

O acidente causou uma sequência de lesões. Esmagou os ossos da parte inferior da perna de Woods, com fraturas primárias nas partes superiores e inferiores dos ossos e dispersão de fragmentos ósseos. Quando os ossos da perna dele foram esmagados, eles danificaram músculos e tendões; pedaços de ossos perfuraram sua pele.

Tiger Woods após dar uma tacada
Tiger Woods durante torneio em novembro de 2020; seu futuro no esporte está sob dúvida - Mike Segar - 15.ago.20/Reuters

O trauma causou sangramento e inchaço na perna, ameaçando seus músculos. Cirurgiões tiveram de cortar rapidamente a camada de tecido denso que recobre os músculos da perna, a fim de aliviar o inchaço. Se não o tivessem feito, o tecido que recobre os músculos teria agido como torniquete, restringindo o fluxo sanguíneo. O músculo pode morrer se isso persistir por mais de quatro a seis horas.

Existe a possibilidade de que alguns músculos tenham morrido, de qualquer forma, entre o acidente e a cirurgia, disse Smith. “E quando a pessoa os perde, eles não podem ser recuperados”.

Pacientes que passaram por esse tipo de procedimento precisam ficar internados até que o inchaço dos músculos desapareça. Às vezes, o inchaço não recua o suficiente para permitir o fechamento da ferida, mesmo depois de semanas, e os cirurgiões precisam fazer um enxerto de pele sobre a área lesionada.

Kyle Eberlin, cirurgião reconstrutivo do Massachusetts General Hospital, disse que, para fechar os buracos nas áreas em que ossos perfuraram a pele, os médicos muitas vezes fazem enxertos de pele obtida das coxas ou costas do paciente, um procedimento conhecido como “free flap”.

Eles cortam pedaços de pele que podem ter o tamanho de uma bola de futebol e, usando um microscópio, reconectam cuidadosamente os minúsculos vasos sanguíneos –de cerca de um milímetro de diâmetro– da pele transplantada aos vasos sanguíneos próximos da área ferida.

Há risco de infecção, no caso de fraturas que rompem a pele, e depois de cirurgias para a inserção de hastes e pinos nos ossos. Os piores casos podem resultar em amputações, disse Smith. A probabilidade de infecção depende do grau de contaminação e do tamanho da ferida.

Em acidentes de automóvel, cascalho e às vezes terra podem se infiltrar nas feridas, o que aumenta a probabilidade de infecção, disse Eberlin.

Abrir a cobertura dos músculos pode elevar o risco de infecção, disse o médico Reza Firoozabadi, cirurgião especializado em traumas ortopédicos no Harborview Medical Center, de Seattle.

Nos grandes centros especializados em traumas, como o Massachusetts General ou o hospital da Universidade da Califórnia em Los Angeles, as cirurgias em geral são realizadas nas primeiras 48 horas. Mas o mais típico é que a operação aconteça até uma semana depois da lesão, disse Eberlin.

A reabilitação será longa e trabalhosa. Se Woods precisar de um “free flap” –o que cirurgiões especializados em trauma acreditam ser provável—, “vão ser precisos meses e meses antes que a perna atingida possa sustentar qualquer peso”, disse Eberlin.

Woods também corre o risco de que as fraturas não se curem, ou que os ossos se restaurem com muita lentidão, disse Firoozabadi. “Para que as coisas se curem, é preciso um bom fluxo sanguíneo”, ele disse. “No caso de uma lesão como essa, o fluxo sanguíneo é prejudicado."

Como resultado, ele disse, pode demorar de cinco a 14 meses para que os ossos da parte inferior da perna de Woods se restaurem, presumindo que o façam.

O maior obstáculo serão as lesões no pé e tornozelo, disseram Firoozabadi e outros. Retomar toda a gama de movimentos e a força muscular pode demorar de três meses a um ano. A depender das dimensões dos ferimentos, mesmo depois da reabilitação pode ser que Woods mal consiga andar.

Com os ferimentos que sofreu no pé e tornozelo, e as sérias lesões na perna, Woods “pode jamais voltar a jogar golfe”, disse Smith.

Tradução de Paulo Migliacci

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