Ex-técnico da judoca Sarah Menezes diz ter levado calote de prefeitura

Expedito Falcão tinha projeto social em ginásio de Teresina que leva nome da medalhista de ouro em Londres

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São Paulo

Seis meses após inaugurar o Ginásio Sarah Menezes com holofotes para as aulas de judô com Expedito Falcão –treinador da campeã olímpica em Londres-2012, que dá nome ao local–, a Prefeitura de Teresina (PI) substituiu o projeto do técnico por outro e não efetuou a maior parte dos pagamentos do acordo.

O contrato entre as partes tinha duração de seis meses (de janeiro a junho de 2021) e não foi renovado após seu término. Expedito reclama que foram pagas apenas duas das seis parcelas acordadas e que a administração municipal trocou o projeto Superação por outro sem que houvesse a possibilidade de concorrência.​

"Só recebemos até feveiro", diz Expedito à Folha. "Não questionamos a indicação de outra entidade, mas queríamos um chamamento público. Tínhamos mais de 800 pessoas [beneficiadas] e agora não temos como abraçar todo mundo”.

O ginásio nasceu de um contrato de 2013 da Prefeitura de Teresina com o então Ministério do Esporte. Ficou pronto sete anos depois (após duas Olimpíadas) e homenageou Sarah Menezes, judoca que foi campeã olímpica nos Jogos de Londres-2012 e teve Expedito como técnico.

Vista geral do interior do ginásio Sarah Menezes, em Teresina, com pessoas sentadas no tatame antes de aula de judô
Inauguração do Ginásio Sarah Menezes, em Teresina, no Piauí - Divulgação/Prefeitura de Teresina

No local, segundo ele, seu projeto tinha alcançado um tamanho inédito. Atendia crianças e adultos, com aulas de judô, jiu-jítsu, capoeira, taekwondo, kendô, boxe, aikido, treino físico funcional e dança.

O contrato era de R$ 28 mil por mês, valor que Expedito já considerava defasado dada a grande demanda que recebia —queria acrescentar ainda modalidades como caratê, muay thai e luta olímpica. Tentou renovar o acordo, com reajuste para R$ 45 mil, mas a prefeitura nem quis ouvir sua proposta.

O vínculo acabou no fim de junho. No dia 5 de agosto, ele recebeu uma notificação extrajudicial da Secretaria de Esportes para deixar o local.

O custo do ginásio Sarah Menezes foi de R$ 2,9 milhões (R$ 3,1 mi em valores corrigidos pela inflação), segundo a gestão municipal de Teresina. O contrato firmado em 2013 com o governo federal, no entanto, falava em R$ 3,4 milhões de repasse (R$ 6 milhões, corrigidos pela inflação).

Questionada pela Folha, a gestão do prefeito José Pessoa Leal (PSD) não quis comentar o assunto.

“Agora estamos funcionando em uma escola, improvisados numa quadra, quatro vezes por semana e com horário limitado [pelas atividades escolares]”, conta Expedito.

O projeto Superação, enquanto isso, busca ajuda de políticos para se sustentar.

A deputada estadual Teresa Britto (PV) direcionou R$ 150 mil em emendas parlamentares para o Superação em 2021, o equivalente a R$ 25 mil por mês —considerando de julho a dezembro, período desde que o contrato com a prefeitura venceu.

O projeto ainda não recebeu o dinheiro, porque o governo do estado do Piauí não liberou a verba —o pedido está em fase de análise. Como se tratam de emendas impositivas, não havendo irregularidades na proposta, a quantia precisa ser liberada até o fim do ano.

Britto afirma ainda que na Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) já separou R$ 300 mil em emendas do mesmo tipo para o projeto em 2022.

“Enquanto isso, os professores estão trabalhando meio que como voluntários, e pretendemos pagar retroativo [quando recebermos o dinheiro]”, diz o treinador.

Ele reclama também que o Ginásio Sarah Menezes tem uma estrutura de ponta, enquanto a quadra improvisada não tem nem uma sala em que seja possível instalar a parte administrativa do projeto.

“O calor é muito grande, porque no ginásio da escola não tem telha térmica, e em Teresina agora está muito quente”, ela aponta.

Expedito lembra que o projeto Superação surgiu antes dos Jogos de Londres, quando o Comitê Olímpico do Brasil providenciou um tatame para Sarah Menezes treinar.

“Era muita coisa para só a Sarah usar, aí resolvemos montar o projeto. Ele foi iniciado antes dela ser campeã olímpica. Era um sonho que a gente tinha. Na época eu idealizei, e ela foi comigo conseguir as parcerias privadas”, recorda-se o treinador.

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