Com beach tennis pop, profissionais vislumbram uma nova era no esporte

Brasil é força dominante na elite da jovem modalidade, que ainda passa por estruturação

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São Paulo

Quando Marcela Vita começou a ensinar beach tennis num parque de Curitiba, em 2015, a mãe dava uma força no papel de aluna para tentar atrair outros interessados na modalidade. Contava-se nos dedos as pessoas que sabiam jogar e raramente havia quatro delas disponíveis para fechar uma partida.

Marcela, 31, atualmente é uma das melhores jogadoras do mundo no tênis de praia e acabou de conquistar dois importantes títulos internacionais. A academia Vita Beach Sports, da qual é sócia na capital paranaense, possui cerca de 600 alunos matriculados.

O aumento da popularidade dos esportes de areia nos últimos anos, ainda mais acelerada durante a pandemia, tornou o beach tennis um fenômeno social e de lazer mesmo em cidades sem praia, como São Paulo e Curitiba.

A formação de uma base mais ampla de praticantes e interessados, por sua vez, ajuda a alavancar o circuito profissional dessa jovem modalidade, nascida na Itália no fim dos anos 1980.

Joana Cortez, com blusa regata azul e viseira branca, bate na bola com a raquete para cima; atrás dela tem um morro envolto por neblina
Joana Cortez, precursora do beach tennis no Brasil, treina e dá aulas do esporte em Ipanema - Ricardo Borges/Folhapress

Ela chegou ao Brasil em 2008, no Rio de Janeiro, segundo a Confederação Brasileira de Tênis (CBT). O primeiro torneio no país foi realizado em Florianópolis dois anos depois.

Joana Cortez, ex-tenista profissional ganhadora de três medalhas em Jogos Pan-Americanos, tornou-se uma das precursoras na areia e já em 2008 participou de seu primeiro Campeonato Mundial, na italiana Ravenna. Ficou em terceiro lugar.

Além de prolongar a carreira de atleta, a carioca de 42 anos viu a oportunidade de ajudar no desenvolvimento do beach tennis, na época totalmente amador. Ela trouxe uma metodologia de ensino da Itália, passou a dar aulas e também a organizar torneios.

"Assim como as pessoas vinham ao Brasil para aprender sobre vôlei de praia, a gente foi para a Itália buscar conhecimento e treinar no nível mais alto. No início, era visto como um esporte de verão, não se sabia se iria pegar, nem tinha tanta visibilidade", afirma Joana. "Mas eu apostava, via que tinha muito potencial. Ter bons atletas representando o país com resultados ajudou a alavancar o esporte."

Em 2013, o país conquistou seu primeiro título da Copa do Mundo, criada um ano antes. Repetiu o feito em 2018, 2019 e 2021, quando pela primeira vez a competição saiu da Rússia e foi sediada no Rio de Janeiro, com boa presença de público nas arquibancadas montadas em Copacabana. Agora, os brasileiros são tetracampeões, assim como os italianos (2012, 2014, 2015 e 2017). Os russos venceram em 2016.

Com jogos em duplas masculinas, femininas e mistas, a edição deste ano teve transmissão do SporTV e foi disputada no início do mês. Participaram 16 países na categoria adulto e 8 na categoria juvenil. Nesta, a Itália superou o Brasil na decisão.

Tanto Marcela quanto Joana integraram o time brasileiro adulto, formado ainda por Rafaella Miller, André Baran, Vinicius Font e Thales Santos.

Duas atletas com uniformes brancos e detalhes em azul e amarelo se movimentam numa quadra de beach tennis com presença de público
Joana Cortez (à esq.) e Marcela Vita em ação pelo Brasil na Copa do Mundo de Beach Tennis realizada no Rio de Janeiro - Marcello Zambrana - 9.out.21/DGW

Paralelamente, 900 atletas de diferentes níveis jogaram o Circuito Nacional Amador nas areias de Copacabana.

Na semana seguinte à Copa do Mundo, Brasília sediou uma etapa do ITF Sand Series. O formato estreou neste ano no calendário da Federação Internacional de Tênis como aposta para consolidar uma série de quatro torneios destacados no circuito, a exemplo dos quatro eventos do Grand Slam no tênis tradicional.

Não era uma competição por países, mas a dupla vencedora foi formada pelas brasileiras Marcela Vita e Vitória Marchezini, de apenas 15 anos.

A curitibana Marcela jogou tênis universitário nos EUA e se formou em Educação Física no país. Em 2014, conheceu o beach tennis numa viagem a Barcelona e se apaixonou. No ano seguinte, já de volta ao Brasil, deixou o emprego numa multinacional para se dedicar ao esporte.

Além da dificuldade de emplacar as aulas inicialmente, naquela época ela precisava ir a Santa Catarina para jogar campeonatos amadores. Ao ver atletas que atuavam profissionalmente, passou a acreditar que também poderia atingir esse nível.

"Quando comecei não tinha visibilidade, os patrocínios eram quase nulos. Mas sempre acreditei que o esporte aos poucos ia crescer e hoje em dia a gente vê essa explosão. Grandes empresas estão olhando com outros olhos, é o começo de uma era", diz.

Em 2017, ela e o empresário Gabriel Farah, também seu treinador e cunhado, apostaram na construção de uma academia, que abriu as portas em 2019. Na pandemia, a Vita Beach Sports viu seu número de alunos crescer em 40%.

"Ouso dizer que o beach tennis assumiu um papel social, dando a oportunidade para que muitas pessoas então sedentárias pudessem sair da inércia, praticarem uma atividade física, se divertirem e melhorarem muito a autoestima. Com tantos predicados, o ‘boom’ é apenas um momento passageiro e transitório para a real consolidação", afirma Rafael Westrupp, presidente da CBT.

De acordo com ele, neste ano foram distribuídos quase US$ 150 mil (R$ 845 mil) em premiações de torneios no país. O objetivo para o ano que vem é se aproximar da faixa de US$ 500 mil (R$ 2,8 milhões). O Banco de Brasília, principal patrocinador da entidade, também patrocina torneios e atletas da modalidade.

Seis jogadores em volta de um troféu redondo, mordiscando sua lateral
Equipe brasileira campeã da Copa do Mundo de Beach Tennis 2021 - Marcello Zambrana - 10.out.21/DGW

"A categoria profissional do Beach Tennis se desenvolveu muito antes da massificação do esporte amador. É claro que, com o aumento exponencial do volume de praticantes, a reposição de estoque e a revelação de novos talentos acontecerá de forma mais intensa e contínua", diz Westrupp.

Ainda são raros, porém, os profissionais que conseguem se dedicar somente aos próprios treinos e competições. A maioria também dá aulas ou tem projetos paralelos ligados à prática.

Hoje Marcela consegue ser uma das exceções. Ela espera que a nova geração cada vez mais possa viver de suas carreiras como atletas e cobra avanços no calendário internacional, por exemplo aproximar datas de torneios no mesmo país para facilitar o deslocamento dos atletas.

"A gente vive numa bolha, acha que o esporte é enorme, mas há muito o que melhorar. Ele ainda fica concentrado em poucos países. Precisaria ter uma unidade de negócios na ITF voltada ao beach tennis para desenvolver institucionalmente e montar uma base a longo prazo", opina Joana.

Por outro lado, a carioca celebra o cenário bem diferente do vivido até pouco tempo atrás. "Há seis anos, ficávamos caçando gente para levar ao Mundial na Rússia. Em São Paulo só existia quadra em clube, iam até Santos para jogar. Também tinha resistência do pessoal do tênis, e hoje todos constroem a arena do beach tennis nas academias."

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