Descrição de chapéu Futebol Internacional África

Irlandês é encontrado pelo Linkedin e vai jogar Copa Africana por Cabo Verde

Zagueiro e seleção estreiam neste domingo (9) e sonham com o Mundial de 2026

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São Paulo

O irlandês Roberto Lopes, 29, lembra-se de ter entrado no Linkedin em 2019 e encontrado uma mensagem de pessoa desconhecida, escrita em língua indecifrável. Não deu nenhuma atenção. Meses depois havia outro texto do mesmo remetente. Na segunda vez ele entendeu. Estava em inglês.

"E aí, Roberto? Pensou na minha proposta?"

Roberto Lopes após partida do Shamrock Rovers, da Irlanda
Roberto Lopes após partida do Shamrock Rovers, da Irlanda - @Shamrock Rovers no Facebook

Aquela pergunta transformou sua vida. Foi a porta de entrada para o zagueiro do Shamrock Rovers, da liga irlandesa, atuar pela seleção de Cabo Verde. Neste domingo (9), a equipe estreia na Copa Africana de Nações contra a Etiópia em Yaoundé, capital de Camarões, às 16h (de Brasília), com transmissão da Band.

Lopes copiou o texto original e o inseriu no Google Tradutor. Tinha sido enviado em português. Dizia que a federação do país africano sabia da ascendência cabo-verdense dele e o convidava a defender a seleção. Foi escrita pelo então técnico da equipe, Janito Carvalho.

"Foi algo muito louco. Achei que a mensagem era spam [termo que determina propagandas ou ofertas indesejadas enviadas pela internet]. Esqueci o assunto. Quando descobri o que era, respondi na hora que adoraria fazer parte do elenco. A partir dali, foi tudo muito rápido. Fiquei muito feliz pela oportunidade", diz Roberto, em inglês. Até hoje ele não domina o português.

Questionado se aprendeu a língua do país de origem dos seus pais, ele se arrisca.

"Un poquito."

"Isso é espanhol", ressalta alguém do seu lado.

"Oh. Desculpe", ele responde, em inglês.

Isso não é nada. Desafio mesmo foi o seu teste de iniciação com os outros jogadores da seleção, em sua primeira convocação. Ele teve de cantar uma música em crioulo cabo-verdiano, a língua cotidiana do país. Português é a oficial.

"Crioulo é bem difícil. Fiquei nervoso, mas acho que me saí bem. Os outros jogadores fizeram com que eu me sentisse muito à vontade. Estava em casa", completa.

Lopes explica ter aceitado o convite da federação por dois motivos. Ele já havia visitado Cabo Verde antes com os pais, mas defender a seleção e estar no país mais vezes representam chance de conhecer a história de seus antepassados. Há também o motivo futebolístico.

Nascido no subúrbio de Dublin, Lopes tem carreira vitoriosa no futebol irlandês. Defendeu o Bohemians e hoje está no Shamrock Rovers. São os dois times mais populares em sua terra natal. Foi campeão nacional em 2020 e 2021 e venceu a Copa da Irlanda de 2019. Para fazer parte da seleção europeia, é preciso mais.

Os convocados dificilmente jogam na liga do país. Atuam na Inglaterra ou na Escócia por causa do nível do futebol. A ironia é que a Irlanda, na década de 1980, foi a primeira federação a buscar atletas nascidos em outros países que poderiam defender a terra dos seus antepassados. O artifício usado por Roberto Lopes para jogar por Cabo Verde.

"A qualidade do futebol africano é muito alta, e a Copa tem nível excelente. Para mim, está no mesmo nível das competições europeias", elogia. "A maioria dos nossos jogadores atua na França. É um sonho disputar este torneio. Sempre assisti pela televisão."

Será a terceira participação de Cabo Verde. Em 2013, o time chegou às quartas de final e perdeu para Gana. Dois anos depois, caiu na fase de grupos. Neste ano, além da Etiópia, que encara na estreia, está na chave com Burkina Faso e Camarões. Avançam os dois melhores.

"Eu estar aqui é um orgulho enorme para a minha família. Estou representando o país da nossa origem. Meus amigos em Dublin ficaram muito interessados em saber mais, em aprender sobre Cabo Verde. É uma enorme experiência", comemora Lopes.

Ele já está de olho no futuro: a Copa do Mundo. Nas eliminatórias para o torneio deste ano, no Qatar, a equipe deixou escapar por pouco a vaga para a terceira e decisiva fase. Ficou dois pontos atrás da Nigéria. A meta agora é 2026, na competição que será sediada por Estados Unidos, Canadá e México.

"É muito difícil se classificar nas eliminatórias africanas. São cinco vagas. Mas essa última campanha nossa nas eliminatórias nos deu muita crença de que podemos conseguir da próxima vez. É possível", acredita.

Talvez ele possa até ser o representante irlandês no Mundial. Sua terra natal não está presente desde 2002. Pela situação atual do futebol nos continentes europeu e africano, pode ser mais fácil para Cabo Verde se classificar do que para a Irlanda.

"Eu falo bem sobre Dublin para o pessoal aqui do time, e eles são curiosos. Mas, quando digo que faz frio e chove muito, desistem de conhecer", diverte-se Roberto Lopes.

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