Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

'Entre 400 e 500' operários morreram em obras da Copa, diz chefe da organização

Dirigente, que falava em 40 mortes, reconhece que número é bem maior

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Doha (Qatar) | Reuters

Em entrevista ao jornalista britânico Piers Morgan nesta terça-feira (29), o secretário-geral do Comitê Supremo de Entrega e Legado do Qatar, Hassan Al-Thawadi, disse que "entre 400 e 500" trabalhadores migrantes morreram durante projetos de construção relacionados à Copa do Mundo de 2022.

A estimativa é significativamente maior do que o número relatado anteriormente de mortes relacionadas aos mais de US$ 200 bilhões (R$ 1,06 trilhão) gastos em estádios, linhas de metrô e outras necessidades de infraestrutura.

"A estimativa é de cerca de 400, entre 400 e 500", disse Al-Thawadi a Morgan. "Não tenho o número exato. Isso é algo que tem sido discutido."

Secretário-geral do Comitê Supremo de Entrega e Legado do Qatar, Hassan Al Thawadi fala em um púlpito
Secretário-geral do Comitê Supremo de Entrega e Legado do Qatar, Hassan Al Thawadi admitiu pela primeira vez que o número de operários mortos nas obras da Copa passou de 400 - Comitê Supremo de Entrega e Legado - 15.dez.18/AFP

Até esta semana, segundo a Fifa e o comitê organizador, o número oficial de operários mortos em obras da Copa era 40, três deles diretamente nas obras dos estádios.

Al-Thawadi também disse, quando esteve na Holanda em julho, que não mais do que três pessoas morreram. Durante uma reunião na Arena Johan Cruijff, ele chamou as histórias sobre as más condições de trabalho de "uma armação", divulgadas pela mídia ocidental.

Antes da entrevista a Morgan, um porta-voz do Comitê Supremo do Qatar divulgou um comunicado com estes dados: "Houve três mortes relacionadas ao trabalho e 37 mortes não relacionadas ao trabalho ligadas aos oito estádios, 17 instalações não competitivas e outros locais relacionados sob o escopo do torneio".

"Citações separadas referentes aos números se referem às estatísticas nacionais que cobrem o período de 2014-2020 para todas as mortes relacionadas ao trabalho (414) em todo o país no Qatar, abrangendo todos os setores e nacionalidades", finalizou a nota.

A Copa do Mundo, a primeira realizada no Oriente Médio, começou em 20 de novembro e vai até 18 de dezembro.

"Uma morte é uma morte demais, pura e simplesmente", disse Al-Thawadi a Morgan.

Apesar da mudança de discurso do dirigente qatariano, o número entre 400 e 500 mortos ainda está longe do que foi divulgado pelo jornal britânico The Guardian, que citou um número de mais de 6.500 no ano passado. Já a Anistia Internacional sempre o manteve em "centenas, talvez até mais".

Pressionado pelo jornalista britânico, Al-Thawadi concordou que os padrões de trabalho no Qatar não eram bons o suficiente no passado, mas afirmou que a situação atual é reconhecida pelos órgãos internacionais de direitos humanos. "Nós mesmos percebemos isso, antes mesmo de tentarmos ganhar a Copa do Mundo. Essa percepção decorre de nossos próprios valores. Melhorias foram feitas em termos de saúde e segurança, acomodações e eliminação do sistema kafala", relata.

Em junho, a Anistia Internacional divulgou um relatório pedindo que o Qatar e a Fifa paguem indenizações aos trabalhadores envolvidos nas obras de infraestrutura para a Copa.

Embora não apresentasse um valor definitivo, a entidade defendia que, para começar, a Fifa reservasse US$ 440 milhões (R$ 2,1 bilhões) para isso. Esta é a quantia que a organização distribuirá às 32 seleções participantes do torneio.

"A Fifa e o Qatar não protegeram os trabalhadores migrantes, essenciais para a Copa do Mundo de 2022, mas podem agir para indenizar aqueles que foram gravemente afetados e as famílias dos muitos que morreram", afirmou Minky Worden, diretora de iniciativas globais da Human Rights Watch, outra entidade que patrocina o relatório.

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