Entenda as divergências que impedem união dos clubes pela liga

Libra e Liga Forte Futebol não se entendem para torneio que deve começar em 2025

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São Paulo

Quem olhar apenas para os números vai acreditar que a diferença entre as duas propostas para a formação de uma liga de clubes de futebol no Brasil não é tão grande. Nesse quesito, as ofertas são semelhantes.

Mas alguns itens escondem divergência que pode fazer com que o Brasil, a partir de 2025, tenha dois blocos diferentes de direitos de transmissão em vez de uma liga unificada, como acontece na Inglaterra e na Espanha.

Cãmera de transmissão em partida na Neo Química Arena, do Corinthians
Cãmera de transmissão em partida na Neo Química Arena, do Corinthians - Eduardo Anizelli-2.mar.16/Folhapress

Até 2024, os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro pertencem ao Grupo Globo. A partir de 2025, a ideia é que as equipes estejam juntas sob o guarda-chuva de uma liga administrada por eles próprios e com um investidor.

A Libra reúne 18 times das Séries A e B do Brasileiro atual e tem a Mubadala —um grupo investidor— disposta a colocar R$ 4,8 bilhões nas duas principais divisões do país. A Libra reúne as camisas de maior torcida no Brasil, entre eles, Flamengo, Corinthians e Palmeiras.

A LFF (Liga Forte Futebol), que agrega outros 26 clubes, anunciou acordo com a gestora brasileira Life Capital Partners e com a norte-americana Serengeti Asset Management para investimento de R$ 4,85 bilhões.

Há também enraizada a falta de confiança entre os dois blocos de negociação. Dirigentes da LFF acreditam que a Libra quer impor sua vontade e continuar faturando mais que os demais.

A Libra desconfia do acordo da LFF com a Life Capital e a Serengeti. Vê como apenas uma estratégia de colocar bancos e outras empresas na mesa de negociação com a Mubadala.

Os dois contratos preveem 40 agremiações para as duas divisões. Mas nem Libra nem LFF podem oferecer isso no momento. No caso da Futebol Forte, se não houver 100% dos times o valor cai para R$ 2,3 bilhões.

Do total do dinheiro a ser obtido com a futura venda de direitos de televisão, a Libra propõe que 40% sejam distribuídos de forma igualitária, 30% de acordo com a performance (a classificação no campeonato) e 30% por engajamento de torcida.

Para a LFF, o que for arrecadado deve ser pago 45% em partes iguais às equipes, 30% pela performance e 25% pelo apelo comercial.

A LFF vê as métricas deste último item, oferecidas pelo outro grupo, como uma forma de manter o status quo, conduzindo ao imobilismo. O grupo quer que prevaleça a visão de que uma distribuição mais igualitária fará a liga brasileira ser uma das três mais fortes do mundo.

A Libra não enxerga tanta diferença e acredita que, no fundo, a LFF cria uma cortina de fumaça, porque as diferenças são pequenas e podem ser ajustadas mediante negociação. Todas podem ser alteradas. Dirigentes da Futebol Forte rebatem que, para isso acontecer, a Libra precisa primeiro mudar seu estatuto em lugar de esperar que as agremiações assinem qualquer documento para depois resolver as divergências.

Pelas métricas da Libra, o valor será determinado por pesquisa de torcida, pay-per-view, redes sociais e público nos estádios. Segundo presidentes de clubes da LFF, são dados que podem ser manipulados. Eles querem, em vez disso, que o dinheiro seja distribuído apenas com a audiência média dos jogos das equipes nas transmissões de TV em uma equação que leva em conta também a quantidade das partidas exibidas.

A Libra considera estranha a afirmação do grupo concorrente, porque aquele modelo nem contempla o pay-per-view. Mas ele consta no estatuto do grupo, lido pela reportagem.

Outra disputa de narrativas está na diferença entre o time que mais vai arrecadar e o que menos vai receber pelos direitos de transmissão. A LFF exige que a diferença, que hoje em dia está em seis vezes, entre o mais rico e mais pobre caia para pelo menos de 3,5 vezes.

Cartolas da Libra dizem, mais uma vez, que isso pode ser resolvido com negociação. Afirmam que a diferença na proposta do grupo, hoje em dia, é de 3,9 vezes e pode cair para 3,5. Para esses dirigentes, no fundo, o objetivo é criar dificuldades entre os clubes para que bancos possam se sentar à mesa de negociação e que não há garantia contratual que os investidores da LFF colocarão o dinheiro prometido.

Os dois blocos propõem períodos de transição entre um modelo e outro, mas também de maneiras distintas.

A Libra propõe que entre 2025 e 2029 nenhum clube receba menos do que o valor previsto para 2024. Entre eles, a garantia mínima de pay-per-view. Flamengo e Corinthians, em 2024, podem embolsar R$ 200 milhões.

A LFF concorda com a não redução de ganhos durante esses anos de transição, mas quer excluir da conta a performance passada e a garantia mínima de pay-per-view.

VEJA OS 18 CLUBES QUE FAZEM PARTE DA LIBRA:

Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo, Vasco e Vitória.

VEJA OS 26 CLUBES QUE FAZEM PARTE DA LFF:

ABC (RN), Athletico, Atlético Mineiro, América-MG, Atlético Goianiense, Avaí (SC), Brusque (SC), Chapecoense (SC), Coritiba (PR), Ceará, Criciúma (SC), CRB (AL), CSA (AL), Cuiabá (MT), Figueirense (SC), Fluminense (RJ), Fortaleza (CE), Goiás (GO), Internacional (RS), Juventude (RS), Londrina (PR), Náutico (PE), Operário (PR), Sport (PE), Vila Nova (GO) e Tombense.

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