Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Governo planeja proibir participação de dirigentes e atletas em mercado de apostas

Ministério da Fazenda sugeriu Medida Provisória para vedar "a participação de pessoa que possa ter qualquer influência no resultado"

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Brasília

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma MP (medida provisória) para proibir atletas de fazer apostas em jogos nos quais podem ter alguma influência. A norma deve ser apresentada na esteira das investigações em curso contra jogadores de futebol que teriam recebido dinheiro para realizar determinadas ações durante as partidas, como levar cartão amarelo ou vermelho e cavar um pênalti.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio da Alvorada - Ueslei Marcelino/Reuters

O Ministério da Fazenda encaminhou a outros ministérios uma proposta de MP com o veto à participação dos atletas em meio a uma série de regras estudadas com o objetivo de regulamentar o mercado de apostas no Brasil.

De acordo com o texto, que será apresentado ao chefe do Executivo, seria "vedada a participação, direta ou indireta, inclusive por interposta pessoa, na condição de apostador, de pessoa que tenha ou possa ter qualquer influência no resultado de evento real de temática esportiva objeto da loteria de apostas de quota fixa".

O Ministério da Fazenda defende que o texto, ao qual a Folha teve acesso, estabeleça regras claras e garante uma nova fonte de receitas para os cofres públicos. Além disso, determina que caberá ao Ministério da Fazenda "autorizar, permitir e conceder, normatizar, regular, supervisionar e fiscalizar a exploração da loteria de apostas".

O texto cria a modalidade de loteria denominada aposta de quota fixa, cuja exploração comercial ocorrerá em todo o território nacional. A concessão, permissão ou autorização para explorar o negócio serão atribuições do Ministério da Fazenda.

A proposta em discussão prevê diferentes sanções de âmbito administrativo caso a empresa cometa infrações como fazer publicidade de serviço de apostas não autorizado ou manipular resultados de partidas. Entre as penalidades, está a proibição de obter nova autorização por dez anos e multa de até R$ 2 bilhões.

Havendo evidências de manipulação de resultados, o Ministério da Fazenda poderá determinar, cautelarmente, a imediata suspensão das apostas e a retenção do pagamento dos prêmios.

A MP em elaboração prevê a criação de uma secretaria no Ministério da Fazenda que será responsável por analisar documentos para aprovar ou não as empresas de apostas no país. A pasta também acompanhará o volume de apostas e a arrecadação do mercado.

Somente as empresas habilitadas poderão receber apostas relacionadas a eventos esportivos oficiais, organizados por federações, ligas e confederações. As empresas não habilitadas serão enquadradas como ilegais e estarão proibidas de realizar qualquer tipo de publicidade, inclusive em meios digitais.

O Ministério da Fazenda afirma que as empresas serão taxadas em 16% sobre o chamado Gross Gaming Revenue (GGR), a receita obtida com todos os jogos feitos –subtraídos os prêmios pagos. Sobre o dinheiro recebido pelo apostador será tributado 30% de Imposto de Renda, respeitada a isenção de R$ 2.112,00.

De acordo com a Fazenda, a arrecadação com taxas e impostos será destinada a áreas como segurança pública, educação, clubes esportivos e ações sociais. "O total da arrecadação será dividido de forma a beneficiar diversos setores da sociedade", afirma a pasta.

Dos 16%, 2,55% serão destinados ao Fundo Nacional de Segurança Pública, para ações de combate à manipulação de resultados, à lavagem de dinheiro e demais atos de natureza penal ligados a apostas. Serão destinados ainda 0,82% para a educação básica, 1,63% para os clubes esportivos, 10% à seguridade social e 1% para o Ministério dos Esportes.

"As empresas de apostas deverão promover ações informativas e preventivas de conscientização de apostadores e de prevenção do transtorno do jogo patológico. A iniciativa visa garantir a saúde mental dos apostadores, evitando que as apostas se transformem em um vício", afirma a pasta.

De acordo com a pasta, o texto será encaminhado aos ministérios coautores —Planejamento, Gestão, Saúde, Turismo e Esportes. Após avaliação e assinatura das pastas, a proposta será encaminhada à Casa Civil.

Os ministérios terão a possibilidade de editar portarias para criar mecanismos que evitem e coíbam os casos de manipulação de resultados.

Caso Lula de fato assine a Medida Provisória, a matéria terá que ser aprovada pelo Congresso para se tornar uma lei definitiva, apesar de ter efeito imediato.

Comissão no Senado

Os líderes do Senado decidiram, nesta quinta-feira (11), criar uma nova comissão temática, a de Esporte, que terá como primeiro objetivo debruçar-se sobre o esquema de apostas no futebol brasileiro.

O acordo foi firmado durante reunião entre líderes da Casa, e o nome mais cotado para assumir a presidência do grupo, por enquanto, é o do ex-jogador Romário (PL-RJ). A expectativa é que ela seja formalmente iniciada na próxima semana.

"Na reunião de líderes todos nós concordamos em ter a comissão de esporte e ela já começar a investigação sobre manipulação de resultados no futebol", afirmou o senador Jorge Kajuru (PSB-GO).

PF investiga

Na quarta-feira (10), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, ordenou que a Polícia Federal também investigue a manipulação de apostas esportivas.

A CBF enviou ofício ao ministério no qual afirma que tem adotado providências para censurar e punir tais práticas. A confederação, porém, diz não ter poder de polícia e sugere ao ministro que seja designada uma força-tarefa que possa centralizar e controlar as investigações.

A confederação diz ainda que não pretende suspender o campeonato nacional neste momento.

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