Descrição de chapéu surfe

Mundial de surfe chega a momento importante em crise com brasileiros

'Brazilian Storm', dona dos últimos quatro títulos do circuito masculino, está em guerra com juízes e com a liga

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São Paulo

O Mundial de surfe chega à sua sétima etapa sob tensão. É um momento importante da temporada, aproxima-se a definição dos cinco finalistas e das cinco finalistas do circuito. E a WSL (Liga Mundial de Surfe) se vê em guerra com os brasileiros, donos dos últimos quatro títulos entre os homens –e de seis dos últimos oito.

O estresse, que já existia havia alguns anos, parece ter atingido seu ponto máximo após a perna do campeonato em Lemoore, nos Estados Unidos, no mês passado. No Surf Ranch –a piscina de ondas artificiais do norte-americano Kelly Slater–, os resultados que deram o troféu ao norte-americano Griffin Colapinto foram muito questionados.

O tricampeão Gabriel Medina perdeu para Ethan Ewing nas quartas de final, com empate por 16,67 na soma das duas melhores notas. Em sua onda final, o australiano teve exatamente o número mínimo necessário para lhe dar a vitória, ainda que muitos analistas –não só brasileiros– tenham observado que o triunfo, por mérito, seria do paulista de Maresias.

Gabriel Medina não gostou de suas notas - Sean M. Haffey - 27.mai.23/Getty Images via AFP

A decisão em Lemoore foi entre Colapinto e outro brasileiro, Italo Ferreira, campeão da liga em 2019 e dos Jogos Olímpicos realizados em 2021. De novo, resultado apertado: 17,77 a 17,13, com questionamentos sobre o julgamento.

Medina liderou o motim virtual, publicando nas redes sociais uma carta aberta à WSL. Segundo ele, "a comunidade do surfe, especialmente a brasileira, está estarrecida com a falta de clareza e com a inconsistência na definição das notas", escreveu.

Parte da discussão é ligada justamente ao que foi introduzido na liga mundial pela "Brazilian Storm", a "tempestade brasileira" que domina o circuito masculino há uma década. A geração de Medina, Italo e Filipe Toledo, todos campeões do mundo, tirou o surfe do mar e o levou constante e consistentemente ao ar.

As manobras aéreas, antes raras, tornaram-se parte do jogo. Surfar bem, mas conservadoramente, uma onda grande deixou de ser o parâmetro. Mesmo sem voos, como os de Italo, o que se convencionou chamar de "progressão" alterou o surfe. Medina conecta uma manobra na seguinte de maneira quase contínua. Filipe atinge uma velocidade em cima da prancha que provavelmente nunca tenha sido alcançada anteriormente na história do esporte.

Para eles, houve uma regressão nos critérios.

"Está claro que a avaliação dos juízes está agora recompensando um surfe muito simples, transições incompletas. Progressão/variedade está sendo completamente retirada da equação. Isso é muito frustrante e ameaça o crescimento do esporte", disse Medina.

No caso da etapa na piscina de Kelly Slater, as diretrizes do julgamento ficam mais expostas. No mar, parte enorme da disputa é ler as ondas e saber escolhê-las. Em uma piscina com ondas fabricadas, iguais para todos os competidores, os únicos ingredientes são o estilo e a execução.

"O silêncio me consome", publicou Ferreira. Defensor do título, Toledo disse estar "cansado, exausto psicologicamente". "Não é fácil passar dez anos engolindo seco. Não queremos nada além do justo. Não queremos nada além do que é direito nosso", afirmou.

Virou um problema de relações públicas para a WSL. Kelly Slater, íntima e comercialmente atrelado à liga, fez questão de se aliar a ela no debate. "Vão existir erros em tudo o que é subjetivo. Dizer que um resultado é um roubo ou um crime é algo que me incomoda", declarou o multicampeão.

O executivo da liga, Erik Logan, viu-se obrigado a publicar uma "carta à comunidade". Ligou o questionamento a "um pequeno número de atletas", rejeitou a ideia de que o julgamento seja parcial e apontou que reclamações nas redes sociais "violam as regras": "É inaceitável para qualquer atleta questionar a integridade dos nossos juízes, que, como os nossos surfistas, são profissionais de elite".

O texto só ampliou a animosidade. É realmente belicoso o clima atual da "Brazilian Storm" com a direção do campeonato.

A sensação dos brasileiros do circuito é que o domínio do Brasil no circuito gerou insatisfação. Alguns apontam, quase com todas as letras, que a liga quer ver de novo o título nas mãos de alguém dos "picos" mais tradicionais do esporte, Havaí, Austrália e Estados Unidos.

Em entrevista à Folha no início da temporada, o CEO da WSL disse que períodos de domínio de uma bandeira não são novidade e deu crédito ao talento dos brasileiros pela sequência de conquistas. Ele citou justamente a palavra "progressão", que voltou ao centro da discussão agora.

Questionado na ocasião sobre as recorrentes reclamações dos atletas do Brasil, Logan negou que elas lhe causassem dor de cabeça. E exaltou a "colaboração com os surfistas, aos quais é dada a oportunidade de rever suas baterias ao fim de cada evento e perguntar sobre a pontuação".

Esse diálogo não tem ocorrido sem sobressaltos.

Erik Logan, CEO da WSL (Liga Mundial de Surfe) parabeniza o norte-americano Griffin Colapinto pela vitória na etapa de Lemoore - Sean M. Haffey - 28.mai.23/Getty Images via AFP

É nessa tensão que será realizada a etapa de El Salvador do circuito, cuja janela se abrirá nesta sexta-feira (9) –a disputa só ocorre quando a organização observa boas condições no mar. Faltam apenas quatro etapas até a final em San Clemente, nos Estados Unidos.

João Chianca, o Chumbinho, segundo do ranking, e Filipe Toledo, terceiro, estão em boa posição para assegurar lugar no "top 5" e disputar a última etapa. Gabriel Medina, sexto, Yago Dora, nono, e Italo Ferreira, 11º, também brigam.

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