Durante a prova no solo, Rebeca Andrade, 26, e Flávia Saraiva, 24, conquistaram um feito inédito para o Brasil durante a última etapa do Campeonato Mundial de Ginástica Artística, que aconteceu na Antuérpia, na Bélgica, neste domingo (8).
Pela primeira vez na história, duas brasileiras dividiram o pódio durante disputa em um mesmo aparelho. Elas levaram prata e bronze, respectivamente, enquanto a norte americana Simone Biles foi medalhista de ouro.
Existem quatro tipos de aparelho na ginástica artística feminina: barras assimétricas, salto sobre a mesa, solo e trave, e o Brasil nunca havia conquistado uma dobradinha em nenhuma delas.
A dupla vitoriosa levou o país a encerrar sua participação com recorde de medalhas em uma edição Mundial. Foram seis condecorações, o dobro de seu marco em Liverpool, no ano passado, quando conquistou três pódios.
Agora as atletas brasileiras trazem na mala um ouro, conquistado no salto, três pratas, no individual geral, no solo e em equipes, e dois bronze, na trave e no solo.
Rebeca Andrade apresentou uma sequência de movimentos bem definidos e chegadas cravadas, com piruetas estendidas ao som de um remix que misturava "End of Time", de Beyoncé, "Movimento da Sanfoninha", de Anitta, e "Baile de Favela", de MC João. A brasileira alcançou pontuação média de 14.500.
Já a carioca Flávia Saraiva se apresentou ao som de "Canto das Três Raças", de Clara Nunes, com apresentação aplaudida e direito a dois mortais carpados. Ela alcançou pontuação média de 13.866 pontos e, após recorrer ao júri, bateu os 13.966.
A norte americana Simone Biles teve pontuação média de 14.633, com série de movimentos considerada difícil, ao som de "Unicorn", de Noa Kirel's. Ela chegou a perder décimos ao dar um passo para fora em uma de suas finalizações.
"Foi o pódio mais especial. Há uns dias me perguntaram com que ginasta eu queria dividir um pódio. A primeira pessoa que passou pela minha cabeça foi ela [Flávia]. É minha companheira, sempre torci muito por ela. É um prazer dividir esse momento com ela", disse Rebeca em entrevista ao Sportv.
Emocionada, Flávia citou os desafios que enfrentou até conquistar sua primeira colocação individual em um mundial, neste domingo. "É uma medalha muito importante para mim. É o sonho de toda atleta ganhar uma medalha em um mundial", falou.
"Depois de tudo que aconteceu comigo, com a cirurgia [no tornozelo], ter voltado e machucado de novo, poder estar de volta traz uma sensação de dever cumprido, de que valeu a pena."
As ginastas citaram ainda a equipe com mais de cem pessoas que as acompanha e os projetos sociais que abriram portas em suas comunidades, onde começaram na ginástica artística.
"Nos apoiaram antes mesmo de saber o que a gente poderia ser. Terem acreditado que aquele potencial que a gente tinha poderia virar algo fez toda a diferença", disse Rebeca. Ela contou que dormia na casa dos treinadores durante a adolescência para conseguir participar dos treinos aos sábados pela manhã.
Rebeca conquistou outro pódio inédito em sua carreira durante a disputa de trave, que aconteceu mais cedo. A ginasta fez a terceira melhor pontuação média (14.300) e levou medalha de bronze, atrás de Biles, que venceu a disputa com 14.800 pontos e da chinesa Zhou Yaqin. Ela levou a medalha de prata, com pontuação próxima à da norte americana (14.700).
A brasileira subiu cinco pódios no Campeonato, chegando a 9 medalhas mundiais em sua carreira, enquanto Biles acumula 30 prêmios mundiais.
Com os resultados que alcançou nesta semana, a ginasta brasileira é a 11ª da história a ter pódios em todas as provas do Mundial, ao lado de Biles, das soviéticas Larisa Latynina e Olga Korbut, e das russas Svetlana Khorkina e Aliya Mustafina.
A equipe feminina do Brasil garantiu ainda nas classificatórias do Mundial, na segunda-feira (2), vaga nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024, após não ter conseguido se classificar para as Olimpíadas de Tóquio em 2021.
A melhor campanha da equipe feminina em Jogos Olímpicos foi a oitava posição, obtida em Pequim 2008 e no Rio 2016.
Já a equipe masculina, formada por Diogo Soares, Patrick Sampaio, Yuri Magalhães, Arthur Nory e Bernardo Miranda, somou 245,295 pontos e não se classificou para os Jogos Olímpicos pela primeira vez desde 2012, em Londres.
Na final masculina por equipes, disputada quarta-feira (4), o Japão ficou com o ouro (255.594 pontos), seguido pela China (253.794 pontos) e pelos Estados Unidos (252.428 pontos).
Apesar de não ter conseguido a classificação por equipes, o Brasil garantiu duas vagas para os Jogos de Paris. Por ter terminado o Mundial entre a 13ª e a 15ª posição, o país garante uma vaga na disputa do individual geral, que deve ficar com Caio Souza, caso o atleta esteja em condições de competir até meados de 2024.
O ginasta Diogo Soares terminou o Mundial na 26ª colocação e também garantiu uma vaga para a disputa individual na capital francesa.
Neste domingo, Arthur Nory, 30, tentou garantir uma terceira vaga brasileira nos Jogos de Paris. Para isso, ele precisava ficar à frente do croata Tin Srbic, mas não conseguiu.
Com 13.533 de pontuação média, o brasileiro terminou o campeonato em sexto lugar, após sofrer uma queda durante sua apresentação na barra fixa e Srbic terminou em segundo, com 14.700 pontos. A vitória foi do japonês Daiki Hashimoto, com 15.233 pontos.
Campeão no Mundial de 2019 no aparelho, Nory ainda pode se classificar por meio das etapas da Copa do Mundo de 2024.
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