Descrição de chapéu LGBTQIA+

Cai número de times com camisa 24 na Copinha, aponta coletivo LGBTQIA+

No futebol, número é associado de maneira preconceituosa à homossexualidade

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São Paulo

A temporada de 2023 registrou uma queda no número de equipes que utilizaram a camisa 24 nos jogos da Copa São Paulo de Futebol Júnior, aponta o anuário do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+.

No Brasil, historicamente, o número é associado à homossexualidade, de maneira preconceituosa, por ele representar o animal veado no jogo do bicho.

De acordo com dados do coletivo, apenas 34 dos 128 times que disputaram a Copinha em 2023 tiveram um jogador em campo com o número 24 nas costas. Isso equivale a pouco mais de um quarto das equipes, 27% do total, percentual inferior ao registrado em 2022, quando 34%, ou 43 times, utilizaram a numeração.

Os dados foram obtidos por meio das súmulas das partidas do torneio, disponíveis no site oficial da FPF (Federação Paulista de Futebol).

O goleiro, à esq., comemora abraçado com um companheiro de time, enquanto outro ergue a taça sobre a cabeça. Eles estão em frente à torcida
O goleiro Aranha, vestindo a camisa 24, comemora com os companheiros de time o título do Palmeiras na Copinha de 2023 - Zanone Fraissat - 25.jan.23/Folhapress

Durante a competição, o Flamengo foi notificado judicialmente por não ter, entre os jogadores inscritos para o torneio, um camisa 24. A sequência numérica apresentada pelo clube era interrompida, passando do 23 para o 25. A equipe carioca, porém, escapou de qualquer punição e apontou que a presença de um jogador com esse número não é obrigatória no regulamento.

A situação no campeonato é um reflexo do que ocorre em competições profissionais. Levantamento feito pela Folha na temporada de 2020, por exemplo, mostra que o número 24 é encontrado quatro vezes mais em ligas estrangeiras do que no futebol brasileiro.

Durante muito tempo, os jogadores titulares entravam em campo vestidos com camisas que variavam apenas de 1 a 11, de acordo com suas posições em campo. Atualmente, clubes e torneios do país adotam camisas fixas para cada atleta, o que fez a variação numérica aumentar. Ainda assim, o 24 é praticamente renegado.

Em 2020, a ocorrência de camisas 24 no Campeonato Brasileiro representou 0,5% do volume total. Entre estrangeiros, essa média foi de 2,5%.

"Por ser o futebol conservador e tradicionalista, uma boa parte dos clubes nem sequer o disponibiliza [o número 24], enquanto uma parte dos jogadores não têm interesse em usar [a numeração] para não sofrer nenhum tipo de preconceito", diz Eduardo Cillo, doutor em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo) e coordenador de psicologia esportiva do COB (Comitê Olímpico do Brasil).

Para ele, isso tem um impacto direto na formação dos jovens atletas. "Eu entendo que essa é uma forma de manter uma tradição que tem um viés preconceituoso. Quando um clube faz isso, ele incentiva o jogador a compartilhar desse tipo de crença", argumenta.

Em 2021, a seleção brasileira se viu no centro de uma polêmica ao pular o número 24 na lista de inscritos para a Copa América.

Na ocasião, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) foi interpelada judicialmente pelo grupo Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT. A ação, contudo, foi extinta sem maiores consequências. A explicação da entidade na época foi a de que o número 25 era mais adequado para um volante. O Brasil foi o único time da competição a não ter um camisa 24.

Já na Copa do Mundo no Qatar, no passado, a primeira em que os países puderam inscrever 26 jogadores, a seleção canarinho teve pela primeira vez em um Mundial um atleta com essa numeração, utilizada pelo zagueiro Bremer.

"É uma camisa qualquer como outra, importante é estar na Copa do Mundo", disse o jogador, pouco antes do início do torneio em que o Brasil acabou eliminado nas quartas de final.

O anuário do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+ também analisou os casos de homofobia ocorridos no país que sediou o último Mundial durante a competição. De acordo com o relatório, houve 35 casos de LGBTfobia.

Em maio deste ano, uma prévia do anuário do coletivo que luta pelos direitos da comunidade LGBTQ+ no futebol também apontava um aumento de 76% nos casos de LGBTfobia no futebol brasileiro em 2022. Foram 74 episódios registrados no ano passado, dentro ou fora de campo, mas ligados a jogos disputados no país. Em 2021, haviam sido 42. O estudo foi elaborado com apoio da CBF.

A versão completa do documento apresenta, ainda, um panorama de como os clubes das quatro divisões do futebol brasileiro se posicionam em datas comemorativas da comunidade LGBTQIA+.

A pesquisa aponta que as Séries A e C têm as equipes que, em 2022, mais se manifestaram em relação às datas de 17 de maio (combate à homofobia) e 28 de junho (orgulho LGBTQIA+).

Os autores do anuário afirmam que, "ao se posicionarem quanto a essas datas, os clubes têm a capacidade de alcançar um público amplo e influente" e "podem ajudar a quebrar estigmas e a combater a LGBTfobia e a discriminação baseada na orientação sexual e de gênero".

A edição 2024 da Copinha ocorrerá de 2 a 25 de janeiro, com 128 clubes em 32 sedes.


Manifestações de clubes sobre datas ligadas ao movimento LGBTQIA+

17 de maio de 2022 - Combate à Homofobia

Série A - 18 clubes se posicionaram (90%)

Série B - 14 clubes se posicionaram (70%)

Série C - 17 clubes se posicionaram (85%)

Série D - 18 clubes se posicionaram (28%)

Total de todas as divisões: 124 clubes, 67 se posicionaram (54%), 57 não (46%)

28 de junho de 2022 - Orgulho LGBTQIA+

Série A - 17 clubes se posicionaram (85%)

Série B - 10 clubes se posicionaram (50%)

Série C - 18 clubes se posicionaram (90%)

Série D - 15 clubes se posicionaram (23%)

Total de todas as divisões: 124 clubes, 60 se posicionaram (48%), 64 não (52%)

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