Descrição de chapéu Financial Times China LGBTQIA+

Comunidade LGBT+ espera que Jogos Gays contribuam para avanços em Hong Kong

Criticado por legisladores pró-Pequim, evento foi visto como parte de uma evolução gradual dos direitos do grupo

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Chan Ho-Him
Hong Kong | Financial Times

Enquanto os Jogos Gays eram abertos em Hong Kong, no início do mês, com centenas de atletas, cantores e uma dança tradicional de leão, uma das principais conselheiras do governo, Regina Ip, elogiou a primeira realização do evento na Ásia como um "forte testemunho de diversidade, inclusão e união".

Mas Ip foi a única oficial de Hong Kong a comparecer aos jogos, uma festa esportiva internacional quadrienal aberta a qualquer pessoa "independentemente de orientação sexual, identidade de gênero, etnia ou mesmo nível de treinamento", de acordo com a organização. O evento teve sua primeira edição em 1982, em San Francisco.

Público se diverte na abertura dos Jogos Gays, no Queen Elizabeth Stadium; evento quadrienal jamais havia sido realizado na Ásia - Peter Parks - 4.nov.23/AFP

Alguns no território chinês adotaram uma postura muito menos tolerante. Junius Ho, um legislador pró-Pequim que pediu a Ip que não comparecesse à cerimônia de abertura, disse que os Jogos Gays, encerrados no último sábado (11), representavam uma ameaça à segurança nacional e podiam "envenenar" os valores dos jovens.

"Podemos simpatizar com a comunidade LGBT+, mas isso não significa que a maioria de nós precise endossar tal comportamento anormal", disse Ho.

Essas visões divergentes destacam a posição delicada de Hong Kong, antiga colônia britânica, que busca equilibrar a melhoria dos direitos dos residentes LGBT+ com o controle cada vez maior do governo do Partido Comunista Chinês, que reprimiu grupos de direitos LGBT+ no continente.

Com a administração local relutante em irritar políticos conservadores, os jogos atraíram pouca atenção. O governo de Hong Kong "manteve um perfil discreto para evitar protestos barulhentos" de políticos ou influenciadores homofóbicos, disse Ip.

A polêmica em torno dos jogos, que Hong Kong co-organizou com a cidade mexicana de Guadalajara, ocorre enquanto o território luta para traçar um caminho em relação aos direitos LGBT+ após uma repressão de Pequim à dissidência política, com a introdução de uma rígida lei de segurança nacional.

Dezenas de milhares de pessoas, incluindo residentes de Hong Kong e estrangeiros, deixaram o território após a resposta da China aos protestos pró-democracia em 2019, a imposição de uma ampla lei de segurança nacional em 2020 e regras rigorosas de combate à Covid-19 durante o auge da pandemia.

"O fato de Hong Kong ser ou não uma sociedade inclusiva tem grandes implicações para a retenção e a atração de talentos", disse Suen Yiu-tung, professor-associado de estudos de gênero na Universidade Chinesa de Hong Kong, acrescentando que um número crescente de jurisdições reconhece os direitos LGBT+.

Apresentação durante a cerimônia de abertura dos Jogos Gays - Tyrone Siu - 4.nov.23/Reuters

Embora a homossexualidade seja legal na China, houve uma repressão à comunidade, com o Centro LGBT de Pequim, um dos grupos de defesa mais proeminentes da China, fechando as portas em maio devido ao encolhimento do espaço para a sociedade civil.

Em Hong Kong, assegurar proteção à comunidade LGBT+ é uma das poucas áreas em que juízes liberais podem emitir suas decisões "de maneira relativamente livre", disse um advogado baseado em Hong Kong envolvido em casos desse tipo, uma vez que as autoridades locais escolhem a dedo os juízes para os julgamentos de segurança nacional, garantindo uma taxa de condenação de 100%.

Nos últimos meses, houve uma série de vitórias judiciais para os direitos LGBT+, incluindo uma decisão histórica em setembro pelo tribunal máximo do território, que ordenou ao governo que estabelecesse dentro de dois anos uma estrutura legislativa para uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Embora o governo de Hong Kong tenha recorrido das decisões, advogados e defensores dos direitos LGBT+ acreditam que Pequim esteja disposta a permitir que Hong Kong adote uma postura mais liberal do que impõe na China continental.

"Não acredito que [Pequim] seja realmente contra os direitos LGBTQ+ em Hong Kong", disse Azan Marwah, advogado baseado em Hong Kong e consultor jurídico da organização não governamental Hong Kong Marriage Equality.

"Não tenho conhecimento de interferência de Pequim em relação aos Jogos Gays ou aos direitos LGBTQ", disse Ip.

Mas a repressão do governo à dissidência e à sociedade civil tornou a vida mais difícil para ativistas em Hong Kong, incluindo aqueles que desejam construir "um longo legado de proteção aos direitos LGBT+", disse Ryan Thoreson, acadêmico da Universidade de Cincinnati que se concentra nos direitos LGBT+.

Jimmy Sham, ativista dos direitos LGBT+ e requerente no caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e Raymond Chan, o primeiro e único ex-legislador abertamente gay de Hong Kong, estão entre os 47 ativistas de oposição presos e em julgamento sob a lei de segurança nacional por seus papéis em uma eleição primária não oficial em 2020. Embora suas prisões não estejam relacionadas ao trabalho em prol dos direitos LGBT+, sua prisão significa a perda de defensores vocais da comunidade, disseram ativistas.

Henry Li, cujo marido morreu em 2020, está entre aqueles que lutam por maiores direitos LGBT+ em Hong Kong. Li, que se casou em Londres em 2017, recebeu com satisfação uma decisão judicial no mês passado que concedeu aos casais do mesmo sexo direitos iguais de herança. Ele e seu marido moveram o processo contra o governo de Hong Kong.

"Encontrei muitos profissionais gays e lésbicas do exterior que são gratos por essa decisão judicial", disse ele, acrescentando que a decisão tornaria os trabalhadoress mais dispostos a se mudar para Hong Kong. "Querer que alguém se mude para outra cidade sem seu parceiro é pedir demais."

Jogos Gays foram realizados em Hong Kong "com um perfil discreto para evitar protestos barulhentos", disse membro do governo - Peter Parks - 2.nov.23/AFP

Nos Jogos Gays, Jinsun Yang, um jogador de futebol sul-coreano que se identifica como não binário, disse que o evento mostrou que Hong Kong pode desempenhar um papel pioneiro na Ásia em termos do avanço dos direitos LGBT+. Taiwan é o único país na Ásia a ter legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

"É realmente impressionante", disse Yang. "Espero que os Jogos Gays em Hong Kong possam ajudar a trazer mais mudanças positivas e conscientização pública, pelo menos na comunidade local e na Ásia."

Reportagem adicional de Gloria Li em Hong Kong

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