Descrição de chapéu Zagallo (1931 - 2024)

Craques de 1970 recordam emoção e coragem de Zagallo a caminho do tri

Clodoaldo, Tostão e Piazza detalham momentos que levaram o Brasil ao título da Copa no México

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Brasília

"Se você perguntasse para o Brasil inteiro qual seria a seleção da Copa de 1970, ninguém —e eu tenho certeza disso— escalaria esse time", afirmou o ex-volante Clodoaldo, 74, ao se lembrar da formação que entrou em campo sob o comando de Zagallo naquele ano. "Foi tudo coisa da cabeça dele."

Ele atuou ao lado de nomes como Pelé, Carlos Alberto, Tostão, Rivellino, Jairzinho, Gerson e Piazza. E viu o time sagrar-se tricampeão com uma formação inusual.

Retrato de Zagallo durante a Copa de 1970 - AFP

"Nenhuma pessoa poderia imaginar que a seleção do Brasil seria formada por cinco camisas dez que jogariam em posições totalmente diferentes daquelas a que estavam acostumados", afirmou Clodoaldo à Folha.

Piazza, 78, que o diga. Habituado ao meio de campo, foi surpreendido por Zagallo ao ser deslocado para o posto de quarto-zagueiro. "Eu nunca tive uma boa impulsão para me lançar na jogada, não sabia fazer isso. Até falei: 'Se dependerem de mim para dar um carrinho e evitar um gol, no meu caso vai ser uma carroça'", recordou, rindo.

"Ele tinha coragem, não digo nem atrevimento. Eu não era um exímio cabeceador, mas tinha uma boa colocação, uma boa visão ali atrás. Ele percebeu tudo isso e resolveu passar a camisa de titular para mim", disse Piazza.

A morte do ex-técnico de 92 anos, ocorrida na sexta-feira (5), é sentida e lamentada pelos craques da seleção de 1970. Ao passo em que expressam seus sentimentos pela perda, os ex-jogadores fazem questão de agradecer a Zagallo pelos dias em que vestiram a camisa canarinho e de enaltecer o legado transmitido ao futebol pelo maior vencedor das Copas do Mundo.

"Tenho certeza de que o Zagallo é o torcedor que mais amou a seleção brasileira. Ele tinha uma paixão e um patriotismo que podiam ser sentidos nas palavras dele. Para ele, o atleta tinha que vestir a camisa", disse Clodoaldo.

"Zagallo foi, em 1970, um técnico revolucionário, pois já fazia treinamentos táticos diários para defesa e ataque. Está na história como um dos grandes do futebol mundial, por ter sido destaque como jogador e treinador", afirmou Tostão, 76, colunista da Folha. Ele atuava no meio-campo no Cruzeiro e foi deslocado para o posto de centroavante.

Segundo Clodoaldo, a emoção transmitida por Zagallo aos seus jogadores foi fundamental para a virada histórica ocorrida na partida entre Brasil e Uruguai. Era o duelo semifinal, no estádio Jalisco, em Guadalajara, no México.

"Aquele primeiro tempo eu classifico como o pior jogo do Brasil na Copa de 1970", disse o ex-volante, que na ocasião conquistou um custoso empate aos 44 minutos da primeira parte do jogo.

Havia a lembrança do Maracanazo, em 1950, a histórica derrota do Brasil para o Uruguai no jogo decisivo do Mundial, no Maracanã.

"Foi o jogo em que ele mais se emocionou. Ele chamou a nossa atenção, perguntou o que estava acontecendo, se a gente estava com medo da seleção do Uruguai. Disse que ela não era um bicho-papão e que a gente era melhor em tudo."

No segundo tempo, o tão esperado resultado. Os jogadores seguiram à risca os conselhos passados pelo técnico, e a seleção pôde comemorar um placar de 3 a 1 sobre o país vizinho. A partida foi a mesma em que Pelé mostrou ao mundo o seu monumental "drible da vaca".

"Ele era emotivo, carinhoso e, quando tinha que ser, explosivo e brincalhão. Quando falava, geralmente chorava, mesmo com o time ganhando. Ele era aquele pai que, quando tinha que puxar a orelha, puxava, mas, quando tinha que beijar, beijava", afirmou Clodoaldo.

"Zagallo respeitava para ser respeitado, e com isso a gente aprendeu muito. Evidentemente, ninguém é imortal, mas a história não muda. Ele estará presente pela eternidade na história do futebol brasileiro e mundial", concluiu Piazza.

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