Rosamaria cobra espaço para técnicas de vôlei: 'Precisamos de mulheres nesses lugares'

Jogadora elogia Zé Roberto, mas diz que gostaria de ver uma treinadora à frente da seleção brasileira

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São Paulo

Rosamaria Montibeller, 29, ficou surpresa quando foi questionada sobre a iniciativa de Paris de realizar a primeira edição dos Jogos Olímpicos com paridade numérica de gênero, com o mesmo número de atletas homens e mulheres.

"Sinceramente, não sabia dessa informação, mas fico muito feliz porque é simplesmente isso, equidade de oportunidades, que é do que a gente precisa e o que a gente merece", afirmou a jogadora de vôlei à Folha.

Segundo a organização, Paris-2024 terá 10.500 atletas, 5.250 homens e 5.250 mulheres. A última edição olímpica, em Tóquio, foi até hoje a mais equilibrada nesse sentido, com 48% de mulheres.

"É um passo importante", diz a jogadora, que atua como ponteira e oposta.

Rosamaria durante a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio
Rosamaria durante a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio - Valentyn Ogirenko - 4.ago.21/Reuters

Apaixonada por voleibol desde os nove anos, a catarinense nunca foi treinada por uma mulher desde que se tornou uma atleta profissional.

A seleção brasileira feminina de vôlei jamais teve uma treinadora. Já são 20 anos sob o comando de José Roberto Guimarães, 69.

Rosa tem um grande respeito pelo técnico, responsável por nela despertar a versatilidade em quadra. Foi com ele que conquistou sua primeira medalha olímpica, a prata em Tóquio, em 2021.

Hoje, Zé Roberto confia a ela a missão de ser uma das líderes do elenco, que vive uma fase de transição. A boa relação, no entanto, não impede que Rosa sinta falta de ver uma mulher à frente da seleção.

"Nós precisamos de mais mulheres ocupando esses espaços, tendo mais vozes inclusive na nossa seleção", defende. "O Zé Roberto, assim como o Bernardinho, são multicampeões. O que a mulherada busca hoje em dia é isso, a oportunidade de se tornar um deles."

O caminho para alcançá-los parece longo. Foi somente no passado, por exemplo, que uma mulher recebeu pela primeira vez a chance de dirigir uma seleção brasileira de vôlei. A missão foi confiada a Hélia Rogério de Souza Pinto, a Fofão, que passou a comandar a categoria sub-17 da equipe feminina.

"Espero que ela possa nos representar um dia. Se não for ela, que a gente tenha outra mulher nos representando na categoria adulta", afirma Rosamaria.

Ela está acostumada a ser uma referência, com trabalhos como modelo e influenciadora. Tem mais de 1,2 milhão de seguidores no Instagram, um público com o qual divide momentos de sua carreira como atleta, além de outros interesses, como culinária e moda.

Suas fotos como modelo costumam fazê-la figurar em páginas da internet além das esportivas. É comum que ela seja retratada como "musa do esporte", algo com o qual ela diz não se incomodar, embora prefira ser exaltada como atleta.

"Postar uma foto no Instagram divulgando um outro lado da Rosamaria, que não seja a jogadora, não está anulando o meu trabalho, não está anulando o meu esforço", diz. "Agora, essa parte da sexualização na divulgação do nosso esporte é complicada. Acabam se esquecendo de falar do nosso desempenho pelo clube ou pela seleção. Uma coisa não pode anular a outra, até porque eu fico feliz com os elogios."

Durante os quatro anos em que atuou na liga italiana de vôlei, ela se tornou a jogadora de com mais seguidores da competição, atuando por Perugia, Casalmaggiore, Novara e UYBA Volley. "Tive quatro anos muito bons, mas eu não gosto de me sentir na zona de conforto", diz.

Em setembro do ano passado, movida pelo sentimento de buscar novos desafios, ela se transferiu para a liga japonesa e fechou com o Denso Airybees. No Japão, acredita que vai desenvolver novas habilidades, sobretudo na parte defensiva.

"As japonesas não são jogadoras muito altas, mas tecnicamente são incríveis. Têm uma variedade grande de jogadas, entendem que muitas vezes não é uma questão de força, mas de jeito, e têm uma visão da parte defensiva diferenciada. A capacidade de reação delas é impressionante. Vim em busca disso. Para o estilo de jogadora que sou, é fundamental ter essa versatilidade", explica.

A preparação física também tem sido diferente. Acostumada a jogar no período noturno na Itália, ela passou a entrar em quadra pela manhã na liga japonesa. "Eu precisei fazer algumas adaptações, como acordar ainda mais cedo para treinar, além de fazer exercícios de prevenção, porque o corpo sente essa mudança."

A ambientação à cidade de Nishi, onde há muitos brasileiros, não tem sido difícil. Reconhecida pela medalha olímpica, ela está bem na província de Aichi. "Recebo muitas mensagens de carinho. Eu me sinto em casa aqui."

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