Por que cheerleaders coreanas estão inundando o TikTok?

Dançarinas do Kia Tigers, time de baseball do país, vêm ganhando as redes sociais

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Rachel Sherman
The New York Times

Tudo começa com batidas de tambores animadas, rapidamente interrompidas pelo som de tênis rangendo no piso da quadra. Então, um sinal de positivo aparece na tela, movendo-se para cima e para baixo como um martelo.

A rotina estranhamente cativante, frequentemente chamada de dança "Pikki Pikki", é realizada pelas cheerleaders do Kia Tigers, um time de beisebol coreano, e se tornou uma sensação no TikTok, acumulando milhões de visualizações em várias contas. Os movimentos são simples, repetitivos e despretensiosos; a música, viciantemente cativante (tenha cuidado). Tornou-se uma receita perfeita para inundar os algoritmos.

Enquanto as cheerleaders do Dallas Cowboys transformaram "Thunderstruck", uma de suas rotinas, em um símbolo do futebol e das cheerleaders nos Estados Unidos, as cheerleaders dos Tigers são mais contidas, movendo suavemente os cotovelos e dançando principalmente no lugar. Elas até parecem um pouco... Entediadas?

Imagem mostra as cheeleaders do Kia Tigers, um dos times tradicionais do baseball sul-coreano
Imagem mostra as cheeleaders do Kia Tigers, um dos times tradicionais do baseball sul-coreano - Kia Tigers/NYT

A abordagem relaxada é intencional, de acordo com Lee Si-Young, fundador e presidente da Apex Communications, que representa a equipe de cheerleaders. A dança é realizada sempre que um arremessador dos Tigers elimina um batedor adversário, como uma forma brincalhona de as cheerleaders aplaudirem seu time enquanto zombam de leve com os outros.

"Enfatizamos a execução dos movimentos e expressões externas para combinar com o tom e o clima da música, tornando fácil para os fãs acompanharem", disse Lee em um e-mail, utilizando um tradutor. "Sentimos que seria mais adequado ter uma sensação mais casual do que algo energético ou poderoso."

Os movimentos —dançar com dois polegares para cima— são simples. Mas, quando executados com uma expressão impassível pelas cheerleaders, diante de 16 mil fãs, de 10 a 15 vezes por jogo, a dança tem um charme inesperado.

É esse espírito descontraído que atraiu fãs ao redor do mundo e gerou confusão online. A dança é realizada desde 2022 — então, por que o influxo repentino? O aumento do interesse ocorreu à medida que a Organização de Beisebol da Coreia viu multidões recordes, creditadas em parte ao aumento nas vendas de ingressos para jovens fãs do sexo feminino. O crescimento rápido e a mudança demográfica significaram que mais olhos estão voltados para as cheerleaders (e, claro, para os jogadores também).

Vídeo da dança das cheerleaders sul-coreanas
Vídeo da dança das cheerleaders sul-coreanas - always_kia_tigers/reprodução/instagram

"O KBO é mais reconhecido fora da Coreia do que nunca", disse Dan Kurtz, que administra o MyKBO, um site de fãs dedicado a cobrir o beisebol coreano em inglês. "Os Kia Tigers são como os New York Yankees do KBO."

Os ingressos custam o equivalente a US$ 5 (R$ 28,40) a US$ 10 (R$ 56,80) durante a temporada regular, disse Kurtz, e os fãs podem trazer sua própria comida e bebidas, tornando um jogo de beisebol uma saída acessível para os espectadores mais jovens. Também é comum, segundo ele, que as cheerleaders tenham músicas e danças específicas para jogadores individuais e conduzam a torcida pelos movimentos.

"É como um show de rock comparado aos jogos da Major League Baseball", disse ele. "Em um jogo de beisebol coreano, não importa o placar — os fãs estão cantando e torcendo."

A música cativante da rotina — "Lecon Studios" de Olive Beat, que é um sample de "My Lecon", da boy band coreana JTL — é chamada de "canção do strikeout" pela equipe de cheerleaders, afirma Lee. Mas, devido aos efeitos sonoros estridentes, os fãs começaram a chamá-la de "Pikki Pikki", uma onomatopeia para o som de algo rangendo.

A dança gerou inúmeros imitadores, que, encantados pelo número fofo e sua música viciante, imitam os olhares vazios e os movimentos de quadril das cheerleaders.

Entre os imitadores está Melissa Minh, uma modelo e influenciadora na Grã-Bretanha, que zombou da falta de entusiasmo, mas legendou a postagem: "Elas são tão bonitas, porém...".

"A tendência é um pouco difícil de explicar em termos de por que está em alta", disse Deborah Park, 32, uma criadora de conteúdo de Oklahoma City que também fez vídeos da dança. Ela disse que seus amigos demoraram a entender o apelo. "Mas, uma vez que clicam, acham intrigante também".

"Esta é basicamente a primeira vez que uma rotina de cheerleading do KBO alcançou status viral/desafio no TikTok mundialmente", conta Lee. "Portanto, a equipe está se sentindo muito orgulhosa".

Se há uma estrela em ascensão, é Lee Ju-Eun, que compartilha o mesmo nome de uma estrela do K-pop, causando algumas confusões nas tags do TikTok, e cujo cabelo bouncy e grampos aparecem em vários dos vídeos mais vistos.

"Ela está um pouco atordoada com tudo isso que está acontecendo", disse Lee Si-Young sobre a súbita fama da cheerleader. "Mas, ao mesmo tempo, ela está encarando isso como uma experiência divertida, única e positiva no geral".

Em vários vídeos, Lee Ju-Eun retoca a maquiagem ou coloca um ventilador elétrico antes de se levantar para dançar, levando os espectadores curiosos online a se perguntarem se o olhar distraído é intencional.

Na verdade, a dança "Pikki Pikki" acontece apenas quando os Tigers estão em campo, e as cheerleaders estão descansando entre os strikeouts.

Antes da música começar, as cheerleaders se maquiam e se refrescam na frente dos fãs. Elas estão ocupadas; não se importam — até que os rangidos começam, e é hora de dançar. Então, elas ficam em pé com uma indiferença que desconsidera qualquer grande senso de urgência. Finalmente, começam a sorrir.

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