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Para analistas, novo subsecretário para a América Latina pode levar EUA a repensarem relação
BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington
A indicação do chileno-americano Arturo Valenzuela como o próximo representante do governo americano para a região das Américas é um sinal de que os Estados Unidos buscam repensar as relações com os países latino-americanos para trazê-las de volta aos trilhos.
É essa a opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil. Mas, a despeito do otimismo, eles também acreditam que as possíveis mudanças introduzidas por Valenzuela terão efeitos limitados.
Arturo Valenzuela foi indicado por Barack Obama nesta terça-feira para substituir Thomas Shannon como o subsecretário do Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental.
Valenzuela é professor da Universidade de Georgetown e diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da instituição. O novo subsecretário também atuou no governo de Bill Clinton como assessor especial da Presidência e diretor sênior de Assuntos Interamericanos.
Para o presidente do instituto de pesquisas Inter-American Dialogue, Peter Hakim, quem quer que exerça o cargo que deverá ser ocupado por Valenzuela --que ainda depende da aprovação do Senado americano-- tem enorme influência sobre a política americana para a América Latina, "mas é fácil exagerar essa influência", acrescenta.
No entender do analista, "não devemos exagerar sua importância e nem subestimá-la. O Departamento de Estado é um dos agentes envolvidos na política para a América Latina, mas não é o único. Há também outros importantes, como o Departamento do Tesouro e o Congresso".
"Valenzuela e Shannon têm muito em comum, ambos são muito bem preparados e conhecem muito a América Latina. Mas, quando Shannon assumiu o cargo [em 2005], a imagem dos Estados Unidos na América Latina atingiu seu nível mais baixo. Diversos representantes do governo Bush eram identificados com políticas da Guerra Fria. Valenzuela terá mais apoio na região, mas o risco é irmos da baixa expectativa da época de Shannon para a expectativa excessiva", comenta Hakim.
O analista destaca mudanças positivas que já foram tomadas pelo governo Obama, como o anúncio do fim de algumas das restrições a Cuba, o compromisso em se buscar uma reforma de imigração --que beneficiaria inúmeros latino-americanos em condição ilegal no país-- e a postura, manifestada na recente Cúpula das Américas, de procurar formular decisões para a região consultando os vizinhos americanos.
Brasil
Mas, segundo Hakim, uma das áreas nas quais não se deve esperar mudanças expressivas é nas relações com o Brasil.
"Poderia haver uma cooperação maior entre os dois países na área energética, mas isso não acontecerá enquanto os Estados Unidos mantiveram as tarifas ao etanol brasileiro ou enquanto os americanos seguirem com seus subsídios agrícolas", acredita o presidente do Inter-American Dialogue.
Para Mark Weisbrot, diretor do Center for Economic and Policy Research, a indicação de Valenzuela é mais um sinal de que o atual governo está repensando a política para a América Latina.
"Há uma aceitação de que a política dos últimos oito anos para a região falhou, como reconheceu Hillary Clinton na semana passada, ao lembrar que a estratégia de transformar Hugo Chávez em um pária internacional não funcionou. Se eles tivessem mantido Shannon, daria a impressão de que o governo atual busca a continuidade", afirma.
As dificuldades que Valenzuela poderá enfrentar, na opinião de Weisbrot, se devem principalmente ao declínio do papel dos Estados Unidos no cenário internacional.
"Os Estados Unidos vão se tornar um país cada vez menos importante para a América do Sul por uma série de razões que não irão mudar só porque temos um novo governo. O mercado americano já não é o que era antes, isso já se pode ver pelo fato de o Brasil estar buscando parceiros comerciais em outras partes do mundo", afirma.
Weisbrot acrescenta ainda que "o FMI está voltando, mas não será como antes. Países latino-americanos poderão aceitar as linhas de crédito flexíveis do Fundo, mas não aceitarão suas políticas, que foram a principal avenida de entrada dos Estados Unidos por lá nos últimos 30 anos".
Postura
Já Larry Birns, diretor do instituto Council on Hemispheric Affairs, acredita que as dificuldades do novo titular para as Américas poderão se dar por sua suposta pouca propensão em buscar agressivamente mudanças para a região.
"Valenzuela, durante o governo Clinton, pareceu estar fora do páreo, no sentido de não ter um impacto decisivo sobre seus colegas na hora de tratar de temas latino-americanos. É importante ter (no Departamento de Estado) um lutador que represente os interesses latino-americanos. Nunca julguei que Arturo o fosse. Thomas Shannon fez um bom trabalho. O país não sofreria se ele houvesse permanecido no cargo."
O novo titular do posto é, na visão de Birns, "sem dúvida um homem de boa vontade e de virtudes democráticas".
"[Mas] não sei se Arturo fará avançar uma agenda política regional nova e agressiva que traga resultados diferentes em temas como justiça social e democracia autêntica. Ou se ele será o subsecretário que se limitará a pressionar por acordos comerciais com o Panamá e a Colômbia", disse.
Mudança
Na visão de Robert Carmona, professor de política latino-americana da Universidade de Georgetown, o processo de mudança que Valenzuela poderá implementar já está em curso na gestão de Obama.
"Ele vem se juntar a um maquinário que já está em ação desde a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago", afirma.
Para Carmona, Valenzuela sempre se mostrou comprometido com a América Latina e a sua indicação não apenas completa a transição da política externa americana em relação à que vinha sendo seguida na gestão de George W. Bush, mas também "terá um papel importante em fazer com que a política para a região volte aos trilhos".
Colaborou Carlos Chirinos, da BBC, em Washington
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