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06/04/2007
-
10h36
da BBC
As mudanças climáticas são uma realidade, e a ciência confirma que a atividade humana tem boa parte da culpa.
Mas, nos últimos anos, um novo fenômeno ambiental surgiu no Reino Unido --o fenômeno das mudanças climáticas "catastróficas".
Como se simples "mudanças climáticas" não fossem suficientes, agora elas precisam ser "catastróficas" para merecer atenção.
O aumento no uso deste termo pejorativo --e seus semelhantes "caótico", "rápido" e "irreversível"-- alterou o discurso público em torno do tema.
Eu mesmo estou sendo cada vez mais castigado por ambientalistas quando minhas palestras não satisfazem a sede deles por uma retórica exagerada.
Parece que somos nós, cientistas que investigam o clima, os céticos.
Fatores
O que levou o debate entre cientistas especialistas em mudanças climáticas e céticos a agora ser um debate entre cientistas e alarmistas?
Por que políticos e cientistas estão, junto com ativistas, confundindo a linguagem do medo, do terror e do desastre com a realidade física observável das mudanças climáticas, ignorando deliberadamente os cuidados que cercam as previsões científicas?
Acredito que isso se deva a três fatores.
Primeiramente, o discurso da catástrofe é um mecanismo de campanha que está sendo mobilizado no contexto do fracasso do Protocolo de Kyoto.
Os signatários não vão cumprir com suas obrigações de reduzir a emissão de gás carbônico. As campanhas então requerem uma reação determinada para aumentar o interesse --e a linguagem da catástrofe climática vem a calhar.
Em segundo lugar, esse discurso é um mecanismo político e retórico para modificar o ângulo das negociações sobre o que deve ocorrer quando o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012.
Finalmente, o discurso da catástrofe dá espaço para a realocação das verbas para pesquisas científicas.
Falta pouco para se alegar que os riscos que o mundo corre são reais e iminentes, dando a entender que mais uma "injeção" de dinheiro vai permitir que cientistas possam quantificar esses riscos.
Ciência
Precisamos fazer aqui uma pausa para refletir.
A linguagem da catástrofe não é a linguagem da ciência.
Ela não faz parte dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês).
E funciona como um poderoso meio para induzir uma mudança de comportamento.
Isso já foi visto em outras áreas da saúde pública.
As descobertas do IPCC são importantes o suficiente sem invocar a catástrofe e o caos como armas que ameaçam desesperadamente a sociedade.
Acredito que as mudanças climáticas são reais e precisam ser enfrentadas com várias atitudes.
Mas o discurso da catástrofe corre o risco de colocar a sociedade em uma trajetória negativa, deprimente e reacionária.
*Mike Hulme é professor de ciências ambientais da Universidade de East Anglia e diretor do Centro Tyndall para Pesquisas em Mudanças Climáticas
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MIKE HULME*da BBC
As mudanças climáticas são uma realidade, e a ciência confirma que a atividade humana tem boa parte da culpa.
Mas, nos últimos anos, um novo fenômeno ambiental surgiu no Reino Unido --o fenômeno das mudanças climáticas "catastróficas".
Como se simples "mudanças climáticas" não fossem suficientes, agora elas precisam ser "catastróficas" para merecer atenção.
O aumento no uso deste termo pejorativo --e seus semelhantes "caótico", "rápido" e "irreversível"-- alterou o discurso público em torno do tema.
Eu mesmo estou sendo cada vez mais castigado por ambientalistas quando minhas palestras não satisfazem a sede deles por uma retórica exagerada.
Parece que somos nós, cientistas que investigam o clima, os céticos.
Fatores
O que levou o debate entre cientistas especialistas em mudanças climáticas e céticos a agora ser um debate entre cientistas e alarmistas?
Por que políticos e cientistas estão, junto com ativistas, confundindo a linguagem do medo, do terror e do desastre com a realidade física observável das mudanças climáticas, ignorando deliberadamente os cuidados que cercam as previsões científicas?
Acredito que isso se deva a três fatores.
Primeiramente, o discurso da catástrofe é um mecanismo de campanha que está sendo mobilizado no contexto do fracasso do Protocolo de Kyoto.
Os signatários não vão cumprir com suas obrigações de reduzir a emissão de gás carbônico. As campanhas então requerem uma reação determinada para aumentar o interesse --e a linguagem da catástrofe climática vem a calhar.
Em segundo lugar, esse discurso é um mecanismo político e retórico para modificar o ângulo das negociações sobre o que deve ocorrer quando o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012.
Finalmente, o discurso da catástrofe dá espaço para a realocação das verbas para pesquisas científicas.
Falta pouco para se alegar que os riscos que o mundo corre são reais e iminentes, dando a entender que mais uma "injeção" de dinheiro vai permitir que cientistas possam quantificar esses riscos.
Ciência
Precisamos fazer aqui uma pausa para refletir.
A linguagem da catástrofe não é a linguagem da ciência.
Ela não faz parte dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês).
E funciona como um poderoso meio para induzir uma mudança de comportamento.
Isso já foi visto em outras áreas da saúde pública.
As descobertas do IPCC são importantes o suficiente sem invocar a catástrofe e o caos como armas que ameaçam desesperadamente a sociedade.
Acredito que as mudanças climáticas são reais e precisam ser enfrentadas com várias atitudes.
Mas o discurso da catástrofe corre o risco de colocar a sociedade em uma trajetória negativa, deprimente e reacionária.
*Mike Hulme é professor de ciências ambientais da Universidade de East Anglia e diretor do Centro Tyndall para Pesquisas em Mudanças Climáticas
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