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01/02/2007 - 09h30

Aldo Rebelo: um político com roldanas na cintura

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JOSIAS DE SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O deputado Aldo Rebelo (SP), 50, concorre à reeleição para presidência da Câmara enganchado num paradoxo. Filiado ao PC do B, deve a sobrevivência de sua candidatura a uma aliança com o PFL. O PC do B de Aldo é um partido que reverencia o modelo albanês de Enver Hoxha. O PFL é uma legenda que reza pela cartilha de Friedrich August von Hayek.

Guru austríaco do neoliberalismo, Hayek é a antítese dos ideais que Aldo supõe representar. Prêmio Nobel de Economia de 1974, seu livro mais festejado é "O Caminho da Servidão". Dedicou-o "aos socialistas de todos os partidos".

Aldo foi à disputa estimulado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No meio do caminho, Lula submeteu-o a um processo de desidratação. Não fosse o PFL, teria evaporado.

Aldo parece um político dotado de roldanas na cintura. Projetou-se nacionalmente em 2001, como presidente da CPI da Nike. Escarafunchou os negócios da multinacional com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e os clubes.

Eurico Miranda, presidente do Vasco da Gama e deputado à época, foi um dos que tiveram a imagem tisnada pela CPI. A despeito disso, Aldo não teve pejo de receber, sob os auspícios de Eurico, o título de sócio honorário do Vasco.

Aldo teria voltado a ser um personagem invisível na Câmara não fosse por Lula. Foi líder do governo na Câmara e, em janeiro de 2004, subiu à cadeira de ministro das Relações Institucionais. Pagou com lealdade.

Lula deve a Aldo o seu principal álibi no escândalo do mensalão. Quando decidiu atear fogo na cena política, em maio de 2005, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse que comunicara a Lula, em 23 de março do ano anterior, que o petismo comprava consciências no Congresso.

Para esquivar-se do risco de impeachment, Lula disse que não ficara inerte. Pedira a dois auxiliares que averiguassem o assunto. Um deles era Aldo. O outro, Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Casa. Ambos endossaram a versão.

A despeito da fidelidade a Lula, Aldo arrostou no ministério a antipatia de um inimigo cordial: o PT. Na chefia da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP) divertia-se puxando o tapete de Aldo. A conspiração intensificou-se depois que Lula delegou a Aldo o comando da liberação de emendas. Foi ao paroxismo quando Aldo passou a filtrar também as nomeações.

Apeado da Casa Civil, Dirceu arrolaria Aldo como sua testemunha de defesa no processo legislativo que resultou na sua cassação. E Aldo assentiu.

Devolvido à Câmara em julho de 2005, Aldo foi guindado à presidência da Casa graças a um desastre chamado Severino Cavalcanti. Como conseqüência de uma divisão do petismo, o rei do baixo clero virou o terceiro homem da República.

Abalroado pela revelação de que recebia propina do arrendatário de um restaurante da Câmara, Severino renunciou ao mandato. E Aldo emergiu como uma solução em meio à crise.

Beneficiado por um gesto de Arlindo Chinaglia, que abriu mão da disputa em seu favor, Aldo elegeu-se. Agora, de volta à disputa, passou de "preferido de Lula" à condição de preterido do Planalto. Esperava que o presidente instasse Chinaglia a sair, de novo, do seu caminho. Deu-se o oposto.

Além de agarrar-se ao PFL, ao PC do B e ao PSB, Aldo sonha em obter os votos do mesmo baixo clero que prestigiou Severino Cavalcanti. Um dos generais de sua campanha é o deputado Ciro Nogueira (PI), do PP de Paulo Maluf (SP).

Se ainda não leu, Aldo acabará se debruçando sobre as páginas de "O Caminho da Servidão", de Friedrich August von Hayek. Ou terminará tendo de reler um trecho profético do "Manifesto Comunista" de Marx e Engels: "Tudo o que é sólido desmancha no ar."

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