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Relatos da Antártida: "É acordar, trabalhar e furar", diz chefe da expedição
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da Folha Online
A seguir, o colunista da Folha e blogueiro da Folha Online Marcelo Leite, que se encontra em Punta Arenas, no extremo sul do Chile, relata seus passos rumo ao continente antártico. Ele e o repórter fotográfico Toni Pires devem acompanhar o grupo de pesquisadores brasileiros que está no interior da Antártida pela expedição Deserto de Cristal (saiba mais aqui.)
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Acabo de falar por telefone de satélite com Jefferson Cardia Simões, chefe da expedição Deserto de Cristal, pioneira missão científica brasileira no interior da Antártida. O glaciologista ligou por telefone de satélite para o hotel Savoy, onde o repórter fotográfico Toni Pires e eu estamos "ilhados" em Punta Arenas (Chile), aguardando nossa partida para os montes Patriot, no continente gelado.
Simões e três membros da equipe de oito pesquisadores se encontram há dez dias em monte Johns, a centenas de quilômetros do acampamento-base da Deserto de Cristal, em Patriot. A previsão era terem saído de lá ontem, mas o mesmo mau tempo que nos mantém em Punta Arenas os retém em Johns.
Não há condições de vôo e pouso do bimotor turboélice Twin Otter que irá resgatá-los e ao equipamento de perfuração de colunas de gelo que estão coletando (já alcançaram 95 m de profundidade). Os ventos nesse acampamento avançado atingem 65 km/h, a sensação térmica é de -35ºC a -40ºC e a visibilidade não ultrapassa 20 m, conta Simões.
"É acordar, trabalhar e furar", diz. "Não tem outra coisa para fazer."
Ontem, a umidade atrapalhou o trabalho do grupo, que inclui ainda Francisco Aquino e Luiz Fernando Magalhães Reis, como Simões da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e Marcio Cataldo, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A neve gruda mais na broca, que engastalha no poço de perfuração. Apesar disso, Simões prevê chegar a 100 m amanhã, sábado.
Nos montes Patriot, onde fica a pista de gelo azul onde deveria pousar o Ilyushin-76TD que nos levará, as coisas não estão muito melhores: condições ruins de contraste e horizonte, ventos de 35 km/h, com rajadas de até 50 km/h. Mas melhorou um pouco, pois no relatório anterior da empresa ALE (Logística e Expedições Antárticas) as rajadas estavam em 60 km/h.
Há chance --pequena-- de um vôo bem cedo pela manhã. Cresce a torcida por um telefonema com boas notícias às 6h30.
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