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06/03/2005
-
10h00
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio
É difícil imaginar condição de trabalho mais degradante do que disputar lixo para sobreviver. Mas é no meio de urubus, tratores e caminhões de lixo --que despejam no local diariamente cerca de 7.000 toneladas-- onde trabalham 1.700 catadores do aterro sanitário de Gramacho (em Duque de Caxias, Baixada Fluminense), o maior da Grande Rio.
Apesar de um ambiente tão inóspito como esse, poucos são os que aceitariam de bom grado a transferência para um local mais limpo para ganhar menos. Muitos aprenderam ali a selecionar o lixo de maior valor, e há os que conseguem até R$ 60 por dia.
Eles são apenas a parte mais visível de uma atividade que, somente no entorno de Gramacho, emprega 15 mil pessoas e movimenta R$ 1,4 milhão por mês, segundo estudo finalizado no ano passado pela empresa SA Paulista, contratada pela Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), do Rio, para operação e recuperação do local.
"Nas ruas em volta do aterro, atuam depósitos, empresas de reciclagem, supermercados, prostitutas, caminhoneiros e outras atividades que só existem por causa do trabalho dos catadores", explica a socióloga Lúcia Luiz Pinto, coordenadora do estudo realizado pela SA Paulista.
Toda essa atividade está com um fim anunciado. A Comlurb já construiu um aterro mais moderno em Paciência e espera apenas a liberação das autoridades ambientais para fechar Gramacho.
De um lado, essa é uma decisão de respeito ao ambiente. O lixo irá para um local mais adequado e Gramacho poderá ganhar um parque rodeado pelos manguezais, que já estão sendo recuperados. De outro, no entanto, é um grave problema social ainda sem solução para quem vive do lixo.
A maioria desses trabalhadores prefere não imaginar como será o dia em que não poderão mais catar lixo em Gramacho. "Nem me fala disso que eu morro do coração. Meus dois filhos [de 23 e 28 anos] trabalham aqui. Graças a isso tenho uma casa que mais parece uma fazendinha. Não tenho vergonha de dizer que meu trabalho é esse. Não roubo ninguém e ganho meu dinheiro honestamente", diz Válter dos Santos, 56.
Oseas de Souza, 28, concorda. Ao ser questionado sobre o fim de Gramacho, ele respondeu com uma pergunta: "Se dissessem que iam tirar o serviço do senhor, o senhor iria gostar?".
Esse universo de Gramacho, com seus personagens, foi o campo de trabalho do fotógrafo Marcos Prado por 11 anos. Prado acompanhou desde 1994 o processo-iniciado em 1996- de transformação do lixão (quando tudo era despejado sem preocupação ambiental) em aterro.
O trabalho deu origem ao livro "Jardim Gramacho" --cujas fotos ilustram essa reportagem--, lançado na semana passada, e a um documentário sobre uma das catadoras ("Estamira", ainda à espera de um distribuidor). "Ali eles jogam cartas, bebem com os amigos, se divertem e rola até paquera. Criaram famílias por causa do lixo e não têm vergonha disso".
Especial
Leia mais sobre os catadores de lixo em aterros sanitários
Fim de aterro em Duque de Caxias pode desempregar 15 mil
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da Folha de S.Paulo, no Rio
É difícil imaginar condição de trabalho mais degradante do que disputar lixo para sobreviver. Mas é no meio de urubus, tratores e caminhões de lixo --que despejam no local diariamente cerca de 7.000 toneladas-- onde trabalham 1.700 catadores do aterro sanitário de Gramacho (em Duque de Caxias, Baixada Fluminense), o maior da Grande Rio.
Apesar de um ambiente tão inóspito como esse, poucos são os que aceitariam de bom grado a transferência para um local mais limpo para ganhar menos. Muitos aprenderam ali a selecionar o lixo de maior valor, e há os que conseguem até R$ 60 por dia.
Eles são apenas a parte mais visível de uma atividade que, somente no entorno de Gramacho, emprega 15 mil pessoas e movimenta R$ 1,4 milhão por mês, segundo estudo finalizado no ano passado pela empresa SA Paulista, contratada pela Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), do Rio, para operação e recuperação do local.
"Nas ruas em volta do aterro, atuam depósitos, empresas de reciclagem, supermercados, prostitutas, caminhoneiros e outras atividades que só existem por causa do trabalho dos catadores", explica a socióloga Lúcia Luiz Pinto, coordenadora do estudo realizado pela SA Paulista.
Toda essa atividade está com um fim anunciado. A Comlurb já construiu um aterro mais moderno em Paciência e espera apenas a liberação das autoridades ambientais para fechar Gramacho.
De um lado, essa é uma decisão de respeito ao ambiente. O lixo irá para um local mais adequado e Gramacho poderá ganhar um parque rodeado pelos manguezais, que já estão sendo recuperados. De outro, no entanto, é um grave problema social ainda sem solução para quem vive do lixo.
A maioria desses trabalhadores prefere não imaginar como será o dia em que não poderão mais catar lixo em Gramacho. "Nem me fala disso que eu morro do coração. Meus dois filhos [de 23 e 28 anos] trabalham aqui. Graças a isso tenho uma casa que mais parece uma fazendinha. Não tenho vergonha de dizer que meu trabalho é esse. Não roubo ninguém e ganho meu dinheiro honestamente", diz Válter dos Santos, 56.
Oseas de Souza, 28, concorda. Ao ser questionado sobre o fim de Gramacho, ele respondeu com uma pergunta: "Se dissessem que iam tirar o serviço do senhor, o senhor iria gostar?".
Esse universo de Gramacho, com seus personagens, foi o campo de trabalho do fotógrafo Marcos Prado por 11 anos. Prado acompanhou desde 1994 o processo-iniciado em 1996- de transformação do lixão (quando tudo era despejado sem preocupação ambiental) em aterro.
O trabalho deu origem ao livro "Jardim Gramacho" --cujas fotos ilustram essa reportagem--, lançado na semana passada, e a um documentário sobre uma das catadoras ("Estamira", ainda à espera de um distribuidor). "Ali eles jogam cartas, bebem com os amigos, se divertem e rola até paquera. Criaram famílias por causa do lixo e não têm vergonha disso".
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