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04/10/2005 - 09h03

Funkeiros são acusados de exaltar tráfico

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SÉRGIO RANGEL
da Folha de S.Paulo, no Rio

A polícia indiciou 13 funkeiros que se apresentam em bailes em comunidades pobres do Rio de Janeiro, sob a acusação de fazer apologia ao tráfico de drogas.

De acordo com a polícia, todos cantam músicas que exaltam traficantes, o consumo de drogas, facções ou atos criminosos. A investigação durou quase um ano. Nesse período, os agentes da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática conseguiram reunir material em vídeo, fotos e áudio para indiciar os cantores.

Os funkeiros usavam sites da internet para divulgar as suas músicas, conhecidas no Rio como "proibidões". As rádios se recusam a veiculá-las.

Além do indiciamento dos funkeiros, o dono de uma rádio que transmite as músicas por meio da internet foi preso. Na quinta-feira, Dayvid Britto, 18, foi autuado por apologia ao crime. A rádio tocava "proibidões" ao vivo. Britto poderá ficar preso por até seis meses.

O site permitia baixar os "proibidões", encontrar fotos dos principais cantores, além de ter acesso a vídeos gravados em bailes. A página foi retirada do ar.

Ontem à tarde, MC Frank, um dos indiciados, prestou depoimento na Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis. Frank é cantor do funk "Bonde do 157", em referência ao artigo do Código Penal que trata de roubo.

Na música, ele descreve ataques a motoristas, relaciona os nomes dos veículos preferidos dos assaltantes e conta como as vítimas devem se comportar. Na letra, Frank diz: "Audi, Civic, Honda/Citröen e o Corolla/Mas se tentar fugir/ Pá! Pum!/ Tirão na bola [na cabeça]/ Na Chatuba é 157".

Na delegacia de roubos de automóveis, o funkeiro foi indiciado sob a acusação de apologia ao crime. Pode ser condenado a até seis meses de prisão. "A letra da música é muito clara. Ele agora vai ter que tratar com a Justiça", disse o delegado Gilberto Oliveira.

Frank afirmou que foi pressionado a fazer a música pela comunidade.
Ontem, a MC Sabrina, que também foi indiciada, conseguiu adiar o seu depoimento. Ela canta uma música em homenagem aos líderes do tráfico do morro da Providência --Sapinho e Dão. Controlado pelo Comando Vermelho, o morro fica localizado no centro do Rio.

Na música, ela diz que, no morro, quem manda são os traficantes. Sabrina gravou também o funk "Lula Liberô". Na canção, é simulado um comunicado atribuído ao presidente Lula liberando o uso de drogas. "Vim aqui para dizer que o proibidão está liberado principalmente para que gosta de uma boa erva", afirma o funk, como se o presidente Lula tivesse sido o autor da frase.

A polícia conseguiu imagens com a funkeira cantando músicas sobre o "boldin" --apelido para a maconha vendida no morro da Providência. "A Provi é chapa quente, neguinho/eu vou te falar/ tem vários do boldin para você fumar", diz um dos versos cantados por Sabrina.

No sábado, 60 policiais civis proibiram a realização do baile funk no morro da Providência, onde seria comemorado o aniversário de Sabrina. Com apoio de um carro blindado, os policiais fecharam todos os acessos ao morro. Traficantes reagiram e deram início a um tiroteio.

A Folha não localizou os indiciados para que se manifestassem a respeito das acusações.

Os "proibidões" são gravações caseiras ou em shows ao vivo de bailes da periferia. São comuns menções a criminosos e drogas.

Em agosto deste ano, foi realizado um baile na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, em homenagem a Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, um dos traficantes mais procurados pela polícia.

Nesses bailes, o funk aborda assuntos ligados à marginalidade, como nomes de morros, chefes de tráfico e de "gente da comunidade" que foi morta por policiais.

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