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07/02/2007
-
10h27
LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo
Ainda com dor de dente, o microempresário Kaiser Paiva Celestino da Silva, 47, disse que perdoa o prefeito Gilberto Kassab (PFL), que anteontem enxotou-o de um posto de saúde em São Paulo, xingando-o de "Vagabundo, vagabundo".
Kaiser recusou a ajuda em dinheiro oferecida por um programa vespertino de televisão. "Eu sou trabalhador, não aceito esmola", disse no ar. Em vez disso, ofereceu-se para adesivar e pintar o ônibus da emissora de TV --remuneradamente, é claro, "porque senão vicia o cidadão", disse, citando.
Na casa da rua Cecília Calovini, na Vila Zatt, que Kaiser divide com a mulher, Lúcia, com os filhos Samuel, 7, e Maiara, 5, e com a oficina de cartazes praticamente desativada desde o final do ano passado, por causa da Lei Cidade Limpa (que restringe a publicidade exterior), o aluguel está atrasado. Credores são driblados à custa de empréstimos de vizinhos e parentes. Também a igreja evangélica Cristo Centro dá uma força.
Anteontem, nem era para Kaiser ter ido ao posto de saúde Pereira Barreto, bairro de Pirituba, onde o prefeito Kassab inaugurava uma unidade de assistência médica ambulatorial. Quem costuma levar as crianças ao médico é Lúcia. Mas a mulher tinha outro destino --conseguir alguém que ajudasse nas contas de água e luz, antes que as concessionárias cortassem o fornecimento.
Sobrou para Kaiser levar os potinhos com fezes e urina das crianças ao posto, conforme pedido médico de 31 de janeiro. Aproveitaria para pedir que algum dos dentistas extirpasse o dente do siso do lado esquerdo, inflamado e latejando. Não foi atendido (encaminharam-no para outro posto, na Vila Zatt, onde ele está cadastrado).
Kaiser estava confuso, sob efeito de calmantes, quando falou à Folha, mais de 24 horas depois do "Vagabundo, vagabundo". Na pizzaria vizinha, o funcionário conta que viu quando o homem chegou em casa, "chorando como criança".
Líder comunitário, ex-membro do conselho do parque Rodrigo de Gasperi (perto de sua casa), diplomado em cursos de responsabilidade social no terceiro setor, Kaiser diz que votou na chapa José Serra/Kassab em 2004. "Foi o meu filho Samuel que, na cabine indevassável, digitou o número 45", conta. O menino aprova.
O mesmo Samuel acompanhava Kaiser anteontem no posto de saúde. Assustado com a gritaria, o menino escondeu-se atrás de um poste do outro lado da rua. Ontem, Samuel se lembrava da primeira coisa que disse ao pai, depois do incidente: "Pai, por que ele chamou você de vagabundo?"
"Isso é o que mais dói. Eu trabalho desde os dez anos", diz Kaiser, órfão de pai e mãe que ajudou a criar os cinco irmãos menores.
Logo depois da confusão, a prefeitura soltou uma nota oficial em que dizia que Kaiser estava no posto de saúde Pereira Barreto só "para tumultuar", já que ele e seu filho "são cadastrados na Vila Zatt". Ontem, a assessoria de imprensa da secretaria da Saúde admitiu que os filhos do microempresário são pacientes do posto de saúde Pereira Barreto.
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da Folha de S.Paulo
Ainda com dor de dente, o microempresário Kaiser Paiva Celestino da Silva, 47, disse que perdoa o prefeito Gilberto Kassab (PFL), que anteontem enxotou-o de um posto de saúde em São Paulo, xingando-o de "Vagabundo, vagabundo".
Kaiser recusou a ajuda em dinheiro oferecida por um programa vespertino de televisão. "Eu sou trabalhador, não aceito esmola", disse no ar. Em vez disso, ofereceu-se para adesivar e pintar o ônibus da emissora de TV --remuneradamente, é claro, "porque senão vicia o cidadão", disse, citando.
Na casa da rua Cecília Calovini, na Vila Zatt, que Kaiser divide com a mulher, Lúcia, com os filhos Samuel, 7, e Maiara, 5, e com a oficina de cartazes praticamente desativada desde o final do ano passado, por causa da Lei Cidade Limpa (que restringe a publicidade exterior), o aluguel está atrasado. Credores são driblados à custa de empréstimos de vizinhos e parentes. Também a igreja evangélica Cristo Centro dá uma força.
Anteontem, nem era para Kaiser ter ido ao posto de saúde Pereira Barreto, bairro de Pirituba, onde o prefeito Kassab inaugurava uma unidade de assistência médica ambulatorial. Quem costuma levar as crianças ao médico é Lúcia. Mas a mulher tinha outro destino --conseguir alguém que ajudasse nas contas de água e luz, antes que as concessionárias cortassem o fornecimento.
Sobrou para Kaiser levar os potinhos com fezes e urina das crianças ao posto, conforme pedido médico de 31 de janeiro. Aproveitaria para pedir que algum dos dentistas extirpasse o dente do siso do lado esquerdo, inflamado e latejando. Não foi atendido (encaminharam-no para outro posto, na Vila Zatt, onde ele está cadastrado).
Kaiser estava confuso, sob efeito de calmantes, quando falou à Folha, mais de 24 horas depois do "Vagabundo, vagabundo". Na pizzaria vizinha, o funcionário conta que viu quando o homem chegou em casa, "chorando como criança".
Líder comunitário, ex-membro do conselho do parque Rodrigo de Gasperi (perto de sua casa), diplomado em cursos de responsabilidade social no terceiro setor, Kaiser diz que votou na chapa José Serra/Kassab em 2004. "Foi o meu filho Samuel que, na cabine indevassável, digitou o número 45", conta. O menino aprova.
O mesmo Samuel acompanhava Kaiser anteontem no posto de saúde. Assustado com a gritaria, o menino escondeu-se atrás de um poste do outro lado da rua. Ontem, Samuel se lembrava da primeira coisa que disse ao pai, depois do incidente: "Pai, por que ele chamou você de vagabundo?"
"Isso é o que mais dói. Eu trabalho desde os dez anos", diz Kaiser, órfão de pai e mãe que ajudou a criar os cinco irmãos menores.
Logo depois da confusão, a prefeitura soltou uma nota oficial em que dizia que Kaiser estava no posto de saúde Pereira Barreto só "para tumultuar", já que ele e seu filho "são cadastrados na Vila Zatt". Ontem, a assessoria de imprensa da secretaria da Saúde admitiu que os filhos do microempresário são pacientes do posto de saúde Pereira Barreto.
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