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24/04/2001 - 03h46

Interrogatório define entrega de Beira-Mar

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ESTANISLAU MARIA, da Folha de S.Paulo

O traficante brasileiro Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, pode ser deportado hoje para o Brasil, ao final do depoimento que será reiniciado a partir das 8h (10h em Brasília) em Bogotá, na Fiscalía General de la Nácion (órgão equivalente à Procuradoria Geral da República).

Ele começou a depor ontem às 10h (12h de Brasília) e pediu a suspensão do depoimento às 16h (18h de Brasília), alegando cansaço e problemas de saúde devido a ferimentos no braço direito.

O destino de Beira-Mar será decidido pelo fiscal (espécie de procurador) que preside o interrogatório -o nome dele não é divulgado por medida de segurança.

Hoje, ao final do depoimento, o fiscal poderá oferecer denúncia contra o traficante, o que obrigaria Beira-Mar a ficar na Colômbia durante o processo. Se o fiscal achar que não há provas de crime, ele será entregue às autoridades da imigração colombiana.

O adido da Polícia Federal na Embaixada Brasileira, César Nunes, disse que a PF já tem, desde ontem, uma equipe de prontidão em Tabatinga (AM) esperando o sinal do governo colombiano para a deportação de Beira-Mar.
Compõem a equipe um delegado e três agentes.

"Não há acordo ainda [sobre a deportação" porque o governo da Colômbia disse que, antes de qualquer coisa, tinha a necessidade, o que é compreensível, de fazer questionamentos sobre a vida real que Beira-Mar levou nesses anos que ficou em seu território", disse ontem o ministro da Justiça, José Gregori, em São Paulo.

Dinheiro às Farc
Segundo a agência de notícias El Tiempo, da Colômbia, o traficante disse em depoimento ao Exército colombiano que, ""para cada quilo que tirava do país, teria de entregar dólares às Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, grupo guerrilheiro que domina cerca de metade do território daquele país" e que cada vôo clandestino custaria US$ 15 mil".

Beira-Mar seria o braço das Farc para a compra de armas. Teria afirmado ainda que tirava da Colômbia, a cada mês, de 20 a 22 toneladas de cocaína.

Em entrevista ontem à noite, o fiscal-geral de la Nación (procurador-geral da República), Alfonso Gómez Méndez, disse que o depoimento estará concluído hoje. "Se o fiscal não pedir um processo, o senhor Fernando pode ser deportado", disse Méndez.

Segundo o fiscal-geral, Beira-Mar deu seu depoimento em espanhol. Na sala de interrogatório estavam o fiscal, um promotor público e um defensor público.

Méndez disse ainda que não recebeu nenhum pedido oficial ou pressão política do governo brasileiro para pedir ao fiscal do interrogatório, seu subordinado, que não apresentasse denúncia.

Chegando ao Brasil, Beira-Mar deve ser levado a Brasília, mas o local onde ficará preso não está definido. Beira-Mar não pode ser extraditado (remoção negociada entre dois países) porque não existe acordo de extradição entre Brasil e Colômbia, por isso a saída será a deportação (expulsão após constatação de irregularidade).

As negociações entre os dois países não foram difíceis porque o Brasil quer o traficante, que pode significar um peso na política interna colombiana. O presidente Andrés Pastrana vem negociando um plano de paz com as Farc (a guerrilha colombiana), mas jamais poderia sentar-se à mesa com narcotraficantes.

Ajuda a políticos
Em uma conversa reservada de mais de uma hora com o secretário da Segurança Pública do Rio, coronel Josias Quintal, na tarde de ontem, em Bogotá, Beira-Mar teria feito revelações "surpreendentes", em que citou nomes de políticos, empresários, empresas e policiais envolvidos com o narcotráfico. Segundo Quintal, o traficante disse ter dado US$ 500 mil para a campanha eleitoral de um desses políticos.

"Não vou dizer os nomes das pessoas, mesmo porque são acusações de um criminoso e ainda iremos investigar, mas fiquei chocado com as declarações", disse Quintal, de Bogotá. Fernandinho Beira-Mar afirmou, ainda segundo o secretário, ter medo de retornar ao Brasil e ser morto.

Também teria dito que entregaria uma de suas namoradas, Jaqueline Alcântara Moraes, à polícia do Rio, com a condição de que ela fosse protegida. O traficante teme que ela sofra represálias.

Um encontro entre Beira-Mar e autoridades brasileiras foi marcado para hoje de manhã.

  • Colaboraram Alessandro Silva, da Reportagem Local, e a Sucursal do Rio
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