25/04/2001 - 19h40

Autoridades não querem Beira-Mar em solo mineiro

RANIER BRAGON
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Apesar de Fernandinho Beira-Mar estar ainda com 11 anos, dois meses e 26 dias de prisão para cumprir em Belo Horizonte, autoridades do governo de Minas Gerais declararam não querer a presença do traficante em solo mineiro.

O secretário da Casa Civil, Henrique Hargreaves _braço direito do governador Itamar Franco (PMDB)_, a secretária da Justiça, Ângela Pace, e o secretário da Segurança Pública, Márcio Domingues Barroso, já se declararam contra a ida de Beira-Mar para Minas Gerais, local de onde ele fugiu em março de 1997.

"Ele [Beira-Mar] é um traficante do Rio de Janeiro, tem mais penas a cumprir no Rio. Não temos nenhum interesse em trazê-lo para Minas Gerais", disse Pace. Segundo ela, Beira-Mar não "acrescenta" nada e seria um "mau exemplo para os outros presos".

O único que se manifestou publicamente pela manutenção do traficante em solo mineiro é o juiz Eli Lucas de Mendonça, autor da sentença que condenou Beira-Mar, no Estado.

O juiz argumenta que, em Minas Gerais, a sentença de Beira-Mar é definitiva, já que o traficante fugiu quando o recurso estava sendo analisado, o que levou a sentença a ser confirmada, sem a possibilidade de revisão.

Apesar de afirmarem que não vai "brigar" com o Rio de Janeiro pela posse de Beira-Mar, as autoridades de segurança do Estado disseram que vão acatar o que a Justiça definir.

Se o destino de Beira-Mar for Minas Gerais, ele vai ficar na única penitenciária de segurança máxima do Estado, a Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.

A Secretaria da Justiça informou que não vai divulgar, por questão de segurança, as medidas de reforço que irá tomar caso Beira-Mar vá para a Nelson Hungria.

Nos últimos seis meses, o presídio já registrou três rebeliões e a fuga de um assaltante de bancos, ocorrida no início do mês passado. Na ocasião, agentes penitenciários foram acusados de facilitar a fuga e foram afastados.

Apesar disso, a secretária da Justiça afirma que o Estado tem condições de manter Beira-Mar preso e garantir a sua integridade física. "Falar em 100% de segurança é algo que a gente não pode confirmar com tanta certeza."

Beira-Mar foi preso em Belo Horizonte pela Polícia Federal, em junho de 1996. Ele era acusado de comandar o tráfico de drogas em vários Estados do país.

Condenado em 2 de setembro do mesmo ano a 12 anos de prisão, o traficante tentou sua primeira fuga em janeiro de 1997.

De acordo com investigação da Corregedoria da Polícia Civil, Beira-Mar teria subornado um carcereiro do Departamento de Investigações da polícia, onde estava encarcerado. O plano foi descoberto, e Beira-Mar acabou sendo transferido para a Delegacia de Operações Especiais da Polícia Civil.

Na madrugada de 26 de março de 1997, Beira-Mar escapou em companhia de outros três presos. Segundo a investigação da corregedoria e da CPI mineira do narcotráfico, o traficante cortou o cadeado da cela com alicate, achou a porta que separa as celas da administração aberta e, do lado de fora do departamento, encontrou uma escada, meio pelo qual pulou o muro.

Na época, houve comentários de que a fuga teria custado R$ 500 mil. Apenas o carcereiro que deixou aberta a porta do corredor das celas foi punido levemente pela polícia, por negligência.

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A escada, afirmou a polícia, estava no local devido a reparos que estavam sendo feitos na iluminação do departamento. Recentemente, o Ministério Público reabriu o inquérito que apurou a fuga.