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30/08/2001
-
07h18
MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S. Paulo
A Guarda Civil de Cotia, na Grande São Paulo, acha que estão tentando surrupiar os louros do mais famoso caso que ela resolveu em seus 17 anos de existência -a descoberta dos sequestradores de Patrícia Abravanel.
A bronca do capitão PM da reserva José Eduardo Prado, 57, que comanda a guarda, é que o secretário de Segurança de São Paulo, Marco Vinicio Petreluzzi, em momento algum deu crédito a seus homens.
"O estrelismo subiu na cabeça do secretário de Segurança", alfineta o capitão. "Estou muito aborrecido com a secretaria."
Prado diz que não dá para acreditar na versão da Delegacia Anti-Sequestro, segundo a qual a Polícia Civil conhecia e acompanhava todos os passos dos sequestradores, por uma questão de lógica primária: "Se a Polícia Civil sabia de tudo, por que não estava na chácara em Cotia onde nossos guardas prenderam o primeiro dos sequestradores?"
Na versão do comandante da Guarda Civil de Cotia, a Delegacia Anti-Sequestro não apareceu no local da prisão porque "não sabia de nada". "Entregamos tudo de bandeja para a Polícia Civil. Foi nós que esclarecemos o caso."
Nós, no caso, são três guardas que recebem R$ 600 por mês, quando se contabilizam todos os adicionais a que têm direito: Miguel Ribeiro da Silva, 39, Pedro Alves Pallone, 38, e José Jiquiri dos Santos, 34. Os três têm um segundo emprego como segurança num condomínio e num supermercado.
Foi o trio, a bordo de um Gol azul, que descobriu o rastro que levaria à prisão do primeiro dos sequestradores: Marcelo Batista dos Santos, 27.
O rastro, feito de cal, tinha 4 quilômetros de extensão, segundo o guarda Ribeiro da Silva. Começava na rodovia Raposo Tavares, passava por um loteamento chamado Recanto Verde e avançava 3 quilômetros mata adentro. Para fazer o traçado, o trio gastou 12 sacos de cal; tanto que os guardas encontraram sacos vazios a cada 300 metros. A marca indicaria o local de pagamento do resgate.
Marcelo foi preso perto de um Fiat Uno, no loteamento, quando tentava fugir. Tinha um radiotransmissor e dois morteiros.
Dentro da mata, a 3 quilômetros do local da prisão, estavam os outros três sequestradores, segundo Ribeiro da Silva. Foi lá que ocorreu a troca de tiros entre policiais e sequestradores.
O Gol recebeu 14 balas, uma das quais rompeu a fiação elétrica, e teve de sair guinchado do local. Só depois, diz o capitão, os guardas descobriram que haviam apanhado um peixe grande -o sequestrador da filha de Silvio Santos. "Foi a ocorrência mais importante da minha vida", conta Ribeiro da Silva.
Por isso, o capitão imaginava que seria de bom tom que Silvio Santos ligasse agradecendo o trabalho. Mas nada. "Não recebemos um "muito obrigado" de ninguém. Só o prefeito elogiou o nosso trabalho", conta.
O secretário de Segurança informou que não vai comentar as acusações de estrelismo. A assessoria da secretaria diz que o trabalho da Guarda de Cotia foi elogiado pela Delegacia Anti-Sequestro, na entrevista coletiva em que os sequestradores foram apresentados. Mas os jornais não reproduziram o elogio.
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da Folha de S. Paulo
A Guarda Civil de Cotia, na Grande São Paulo, acha que estão tentando surrupiar os louros do mais famoso caso que ela resolveu em seus 17 anos de existência -a descoberta dos sequestradores de Patrícia Abravanel.
A bronca do capitão PM da reserva José Eduardo Prado, 57, que comanda a guarda, é que o secretário de Segurança de São Paulo, Marco Vinicio Petreluzzi, em momento algum deu crédito a seus homens.
"O estrelismo subiu na cabeça do secretário de Segurança", alfineta o capitão. "Estou muito aborrecido com a secretaria."
Prado diz que não dá para acreditar na versão da Delegacia Anti-Sequestro, segundo a qual a Polícia Civil conhecia e acompanhava todos os passos dos sequestradores, por uma questão de lógica primária: "Se a Polícia Civil sabia de tudo, por que não estava na chácara em Cotia onde nossos guardas prenderam o primeiro dos sequestradores?"
Na versão do comandante da Guarda Civil de Cotia, a Delegacia Anti-Sequestro não apareceu no local da prisão porque "não sabia de nada". "Entregamos tudo de bandeja para a Polícia Civil. Foi nós que esclarecemos o caso."
Nós, no caso, são três guardas que recebem R$ 600 por mês, quando se contabilizam todos os adicionais a que têm direito: Miguel Ribeiro da Silva, 39, Pedro Alves Pallone, 38, e José Jiquiri dos Santos, 34. Os três têm um segundo emprego como segurança num condomínio e num supermercado.
Foi o trio, a bordo de um Gol azul, que descobriu o rastro que levaria à prisão do primeiro dos sequestradores: Marcelo Batista dos Santos, 27.
O rastro, feito de cal, tinha 4 quilômetros de extensão, segundo o guarda Ribeiro da Silva. Começava na rodovia Raposo Tavares, passava por um loteamento chamado Recanto Verde e avançava 3 quilômetros mata adentro. Para fazer o traçado, o trio gastou 12 sacos de cal; tanto que os guardas encontraram sacos vazios a cada 300 metros. A marca indicaria o local de pagamento do resgate.
Marcelo foi preso perto de um Fiat Uno, no loteamento, quando tentava fugir. Tinha um radiotransmissor e dois morteiros.
Dentro da mata, a 3 quilômetros do local da prisão, estavam os outros três sequestradores, segundo Ribeiro da Silva. Foi lá que ocorreu a troca de tiros entre policiais e sequestradores.
O Gol recebeu 14 balas, uma das quais rompeu a fiação elétrica, e teve de sair guinchado do local. Só depois, diz o capitão, os guardas descobriram que haviam apanhado um peixe grande -o sequestrador da filha de Silvio Santos. "Foi a ocorrência mais importante da minha vida", conta Ribeiro da Silva.
Por isso, o capitão imaginava que seria de bom tom que Silvio Santos ligasse agradecendo o trabalho. Mas nada. "Não recebemos um "muito obrigado" de ninguém. Só o prefeito elogiou o nosso trabalho", conta.
O secretário de Segurança informou que não vai comentar as acusações de estrelismo. A assessoria da secretaria diz que o trabalho da Guarda de Cotia foi elogiado pela Delegacia Anti-Sequestro, na entrevista coletiva em que os sequestradores foram apresentados. Mas os jornais não reproduziram o elogio.
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