Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
31/08/2001 - 03h44

Para pastor, o culpado é o demônio

Publicidade

MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S. Paulo

O pastor evangélico Valdir Lins de Oliveira, 55, da Assembléia de Deus, teve ontem a sensação de estar sonhando acordado. Mais estranho ainda, era que o tal "sonho ruim" passava na TV: ele mostrava Fernando Dutra Pinto, 22, na casa de Silvio Santos. "Isso tudo não pode ser verdade. Parece um sonho ruim. Era um menino muito bom."

O pastor tem duas explicações para a repentina guinada de Fernando: uma espiritual e outra material. "O demônio trabalhou a cabeça dele de forma estupenda", afirma, referindo-se ao embate travado no mundo das almas.

Já no mundo terreno, ele diz que só consegue imaginar uma possibilidade para a mudança: "Foram as más companhias".

O pastor não é o único integrante da Assembléia de Deus de Barueri (Grande São Paulo) que se diz "chocado" com o que classifica de a "perdição de Fernando": "Foi um susto para todo mundo", conta R., amigo do sequestrador por três anos que prefere não ter seu nome divulgado. "Ele tinha uma ótima personalidade."

O porteiro desempregado Edilson Almeida Santos, 28, que conviveu com Fernando entre 1995 e 1997, quando este abandonou a igreja, o descreve como um evangélico muito empenhado: "Ele era muito ocupado com as atividades da igreja. Tão ocupado que nem namorada tinha. Distribuía 2.000, 3.000 folhetos por dia no trem que vai de Itapevi para a Júlio Prestes".

Na igreja do Jardim Rosimeire, em Itapevi, Fernando fazia parte da liderança de jovens, que reúne os adolescentes mais ativos, e do coral gospel. "Ele gostava muito de pregar o Evangelho para quem não era evangélico", disse R.

O fervor evangélico de Fernando vinha da própria família: o pai, o motorista particular Antonio Sebastião Pinto, é presbítero, cargo logo abaixo ao de pastor na hierarquia da Assembléia de Deus. Como presbítero, ele é autorizado a fazer batismos, casamentos e ungir doentes com azeite, na chamada benção apostólica.

Fernando nunca teve problemas de conduta, segundo José Balduíno Silva, 47, que foi regente do sequestrador por cerca de dois anos num coral gospel. A única ressalva sobre Fernando, que gostava de ouvir raps dos Racionais MCs em volume alto, é de caráter musical: "Ele desafinava", conta.

Fernando guardava resquícios da formação evangélica até as últimas semanas, segundo seus vizinhos da Vila Progresso, na zona leste de São Paulo, para onde se mudou em junho. Numa área em que todo mundo é chamado de "mano", "tá ligado", ele era uma ave rara por não usar gírias.

Por tudo isso, "está todo mundo abismado", como diz o regente Silva, com a conversão do ex-evangélico em sequestrador e matador de dois policiais. R. é o único que prefere ver razões terrenas, e não espirituais, para a guinada: "Não tem nada de demônio, não. É safadeza mesmo".

Leia mais notícias sobre Silvio Santos
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página