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22/09/2001 - 03h47

Caso Abravanel: Laudo pericial não esclarece tiroteio no flat

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da Folha de S.Paulo

Os laudos técnicos produzidos na apuração do tiroteio entre policiais civis e o sequestrador da família Abravanel, Fernando Dutra Pinto, 22, aumentaram o mistério sobre o que aconteceu dentro do flat L'Etoile, em Barueri (Grande SP), e transformaram a reconstituição da troca de tiros na principal peça das investigações. Ela, porém, não teve data definida.

Entre as 17 manchas de sangue coletadas no flat, peritos do Instituto de Criminalística identificaram um tipo sanguíneo (B+) que não pertence nem aos três policiais que estavam no local nem ao sequestrador. A descoberta sugere que havia uma quinta pessoa no décimo andar do prédio, local onde dois investigadores morreram no dia 29 de agosto.

Até agora, acreditava-se que, além de Dutra Pinto (sangue O+), apenas três policiais do 91º DP (Ceasa) haviam participado da malsucedida ação -Tamotsu Tamaki (A+) e Marcos Amorim Bezerra (O+), ambos mortos, e Reginaldo Nardis (AB+), ferido.

A margem de erro do exame de tipagem é mínima. As amostras passaram por três diferentes métodos de análise.

Essa quinta pessoa, evidentemente, foi ferida. Pelo laudo, porém, não é possível dizer sua identidade nem que tipo de ferimento sofreu. Sabe-se que houve luta, pois os mortos tinham marcas de agressão no rosto.

O sangue tipo B foi encontrado em uma fronha, um maço de cigarro e uma bota, conforme descrição da polícia. Novo impasse: Nardis disse ontem à Folha que o cigarro e a bota eram seus e que apenas ele deitou no travesseiro do quarto, para se esconder. Ele nega a existência de uma quinta pessoa na cena do crime.

A Corregedoria da Polícia Civil investiga se "gansos" -informantes de policiais- participaram da ação no flat. Se houve essa conduta, ela é irregular.

Ontem, o nome de um suspeito de ser o quinto elemento escapou da investigação, que segue em sigilo. Pelas informações, seria um PM ou um ex-policial, de sangue tipo B, atendido em um pronto-socorro da cidade na noite do tiroteio. Ao hospital, ele teria dito ser vítima de acidente de trânsito.

A reportagem teve acesso ao nome investigado, mas, como não há provas contra o suspeito, ele está sendo preservado.

Mesmo com dados informais, a Polícia Militar checou o nome em seu banco de dados e descartou a possibilidade de o suspeito ser da ativa. Nomes de ex-policiais não foram pesquisados ontem.

Os tiros
No segundo laudo -o de balística-, os peritos indicam que os únicos cinco projéteis apreendidos nos corpos dos dois policiais saíram da pistola 380 apreendida com Dutra Pinto na casa do apresentador Silvio Santos dias depois. Tamaki, porém, levou nove tiros, e Bezerra, seis.
Mas as balas restantes não têm origem definida. Além disso, o laudo indica apenas de onde vieram os cinco tiros, não quem apertou o gatilho.

No total, sete armas foram remetidas para perícia: uma pistola 380 e um revólver 38, que seriam de Dutra Pinto; uma pistola 45, de Bezerra; uma pistola 380, de Tamaki; um revólver 38, de Nardis; e mais duas armas que estariam no quarto -uma 45 e um 38.

Do revólver do sequestrador saiu pelo menos um tiro, segundo o laudo. Da pistola apreendida com ele, na casa de Silvio Santos, saíram mais 20 disparos.

Pela posição das amostras de sangue, a polícia tentará identificar onde estavam os policiais e Fernando, comparando com as versões de Dutra Pinto e de Nardis. Ambos serão chamados pela polícia para depor. Nardis, no caso, pela segunda vez.

O dinheiro
É motivo de investigação ainda o caminho que o dinheiro do resgate do sequestro de Patrícia Abravanel (R$ 500 mil, em tese) fez depois que saiu do flat, pelo menos uma hora e meia antes do tiroteio. O delegado Armando Bellio, então titular do 91º DP, teria levado o dinheiro. Ele havia tirado licença médica um dia após o tiroteio, para tratar um problema na garganta. Ao retornar, na quarta-feira, foi afastado do cargo.

A defesa do sequestrador pretende usar os laudos. "Ele [Fernando] diz que eram mais de quatro policiais no andar", afirma a advogada Simone Caparroz, 36.

A existência de outras pessoas, segundo a advogada, indica o motivo pelo qual o sequestrador fugiu pela janela, escalando o prédio e se arriscando a cair do 9º andar.

Segundo ela, Dutra Pinto diz que os policiais pegaram sua pistola logo que o renderam, na saída do elevador. Só depois que o tiroteio começou, segundo essa versão, ele teria conseguido tirar o revólver da barra da calça.

Fernando, até agora, não foi indiciado pelas duas mortes.
Os laudos estão em segredo, por determinação da Secretaria da Segurança Pública, e nenhum policial tem autorização para falar sobre o caso até que ele esteja concluído. Na corporação, circulam informações de que pode ter havido tiroteio entre policiais no flat.
 

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