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08/11/2001 - 05h01

Campanha contra Aids prioriza gays

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AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

O pai atende à porta e dispensa o rapaz dizendo que o filho não quer mais saber dele. De volta à sala, diante do filho de olhos tristes, o pai informa que o rapaz já foi embora. "Você encontrará outro, não fique triste." A mãe, ao lado do filho, complementa com um misto de censura e compreensão: "Outro que use camisinha..."

A cena deve ser apresentada nas TVs, rádios, revistas e outdoors de todo o país a partir de meados de janeiro -em horário nobre e com o patrocínio do Ministério da Saúde. É a primeira vez que o tema da "diversidade sexual" e da aceitação do homossexualismo é tratado em família, na grande mídia e por iniciativa do governo.

A cena dos pais conversando com o filho sobre o namorado é a proposta que mais agradou às ONGs que participam do comitê assessor da Coordenação Nacional de Aids. Pelo menos duas outras estão sendo preparadas. "Caberá ao ministro (José Serra) a escolha da campanha final ", disse Paulo Roberto Teixeira, coordenador do programa nacional.

Há vários anos os grupos gays reivindicam ao Ministério da Saúde que inclua os homossexuais nas suas campanhas nacionais.

Em documentos enviados ao ministério, o último deles em junho passado, os fóruns que reúnem ONGs-Aids e HSH (homens que fazem sexo com homens) lembram que o próprio governo já vinha falando em um "recrudescimento da epidemia junto aos homens com práticas homossexuais". Em outro documento, os grupos lembram que a Aids já matou 35 mil homossexuais no Brasil, outros 25 mil estão doentes e 120 mil estariam infectados.

Ao anunciar, no mês passado, o compromisso de uma campanha nacional sobre o tema, o coordenador Paulo Teixeira foi aplaudido pelas ONGs. A relutância em levar a questão gay para a grande mídia tem a ver com a discriminação e o estigma já sofridos pelos homossexuais, diz Teixeira.

"Continuamos achando que uma campanha de massa falando da transmissão entre homens pode ter um impacto negativo, pois pode caracterizar os homossexuais como grupo de risco."

Depois de anos lutando para evitar esse estigma, e depois de a população absorver o conceito de que não há grupos de risco -e sim comportamentos de risco-, a campanha poderia significar um retrocesso.

O aval foi dado pela coordenação e pelas ONGs depois que as partes definiram que a campanha trataria da tolerância e da não-discriminação, e não apenas da prevenção. "Buscávamos a diversidade sexual, e é isso que a campanha deve mostrar", disse José Araújo, do Grupo de Incentivo à Vida. "É um momento oportuno para combater o preconceito", diz Beto de Jesus, presidente da Associação da Parada Gay de São Paulo. Os dois participam do comitê assessor dessas campanhas.

Até agora, lembra Mario Scheffer, do Grupo Pela Vidda, o trabalho com homossexuais vem se restringindo a projetos dirigidos. Um deles é feito pelo grupo nos bares gays de São Paulo.

Outras duas campanhas chegarão às ruas em dezembro. Em São Paulo, numa parceria do governo do Estado com ONGs, um filme tratando da questão do homossexualismo e da Aids abrirá as sessões de cinema. No dia 1º, a campanha nacional do Dia Mundial de Luta Contra a Aids retoma a preocupação com os heterossexuais.

Gel lubrificante
As ONGs estão comemorando outra reivindicação antiga: a distribuição pela rede pública de gel lubrificante. Representantes do Ministério da Saúde e do Far-Manguinhos, laboratório da Fiocruz, assinam hoje uma parceria para iniciar a produção do gel.

O produto, que evita o rompimento do preservativo especialmente na prática do sexo anal, será distribuído prioritariamente aos homossexuais, profissionais de sexo e usuários carentes. Nos próximos seis meses, as ONGs organizarão pesquisa sobre o uso, os riscos e os benefícios do gel.
 

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