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06/01/2002 - 05h24

Maranhão tem campanha pelo "babaçu livre"

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ELVIRA LOBATO
da Folha de S.Paulo, no Maranhão

""Meu trabalho é tipo uma humilhação." Com essa frase, Maria Edith Medeiros, 52, resume sua rotina diária de quebradora de coco no interior do Estado do Maranhão. Como ela, outras 300 mil pessoas vivem do extrativismo do babaçu no Estado.

Maria Edith começou a quebrar coco de babaçu aos 12 anos. Hoje, vive com o marido, doente e sem documentos, e com oito dos 11 filhos na periferia de Codó, a cerca de 300 km da capital, São Luís.

Os preparativos para a jornada de trabalho começam na madrugada, quando ela se levanta para preparar o almoço.

Às 7h, ela e três filhos embarcam no caminhão da Prefeitura de Codó, que leva as quebradoras (ou "quebradeiras", como se denominam) para o trabalho e as traz de volta ao entardecer.

Cada uma leva seu bornal com água e comida, um machado e um cesto de palha para armazenar as amêndoas de coco de babaçu.

Por volta das 8h, o grupo entra na mata e começa a recolher os cocos. Maria Edith caminha mais de seis quilômetros nessa tarefa.

O passo seguinte é a quebra dos cocos. Com o machado preso entre as pernas, ela coloca as frutas sobre a lâmina afiada. Numa sequência rápida de golpes, as amêndoas são extraídas e colocadas nos cestos.

No fim do dia, ela e os três filhos voltam para casa com 15 kg de amêndoas, que são vendidos por R$ 4,50 o total. Como trabalham de segunda à sexta-feira, têm um rendimento mensal de R$ 90.

O orçamento familiar é reforçado com R$ 50 do Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), que são repassados pelo governo federal para que os dois filhos menores fiquem na escola.

Ela conta, com tristeza na voz, que a filha mais velha, de nome Francisca, é prostituta em Marabá (Pará) e que não sabe o paradeiro de outros dois filhos.

Francisca ganhava R$ 12 por mês como empregada doméstica antes de ir embora de Codó. Maria Edith diz rezar todas as noites para que a filha não sofra maus-tratos dos clientes.

""Aqui, as mulheres da vida apanham muito. Com certeza, a minha filha está apanhando também", diz a quebradora de coco.

Preço baixo
As quebradoras mal conseguem o sustento. A produção média, por pessoa, é de 8 kg de amêndoas por dia. Na região de Codó, atravessadores pagam R$ 0,30 pelo quilo da amêndoa e revendem a mercadoria a indústrias de óleo a R$ 0,50 o kg. Em outras regiões, como Bacabal (a 200 Km de São Luís), o preço, no atravessador, cai para até R$ 0,25.

A coordenadora-geral do Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco, Maria Adelina Chagas, 44, diz que as condições de trabalho delas fazem lembrar a escravidão.

Em muitas regiões, segundo afirma, as quebradoras têm de entrar às escondidas nas fazendas porque os proprietários proíbem a retirada do coco do babaçu. Apenas 40% dos coqueirais estão em áreas de livre acesso.

Uma prática comum é o arrendamento. Maria Adelina conta que, em troca do acesso ao babaçual, parte dos fazendeiros fica com metade da produção das quebradoras de coco. Esse sistema é chamado de ""meia".

Outra forma de arrendamento é a contrapartida em trabalho. Segundo a coordenadora técnica da Assema (Associação de Assentamentos do Estado do Maranhão), Luciene Dias Figueiredo, em várias regiões, mulheres pagam pelo acesso aos coqueirais capinando roças nas fazendas.

""Elas dão, em média, um mês de trabalho por ano", afirma a coordenadora da Assema.

"Babaçu livre"

O Movimento Interestadual das Mulheres Quebradeiras de Coco encabeça uma campanha contra o arrendamento, batizada de ""Luta pelo Babaçu Livre".

Quatro municípios do Maranhão -Lago do Junco, Lago do Rodrigues, Esperantinópolis e São Luiz Gonzaga- já aprovaram leis que garantem o livre acesso aos coqueirais e proíbem o arrendamento.

No entanto, segundo Luciene Figueiredo, em 60% das reservas o acesso continua restrito.
 

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