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10/01/2002 - 04h58

Incor comemora 25 anos com descoberta

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AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

O Instituto do Coração está comemorando 25 anos com uma descoberta que pode ampliar os anos de vida de pelo menos 5% da população de idosos. Pesquisadores do Incor descobriram que a estenose aórtica -o estreitamento da válvula por onde sai o sangue bombeado do coração- é provocada por uma infecção crônica, não pelo processo natural de envelhecimento.

Fundado em 10 de janeiro de 1977, o Incor já realizou mais de mil pesquisas. A descoberta sobre a estenose será destaque do próximo congresso do American College of Cardiology -uma espécie de Oscar das pesquisas ligadas à cardiologia, que acontece em março próximo em Atlanta, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores concluíram que o responsável pela calcificação que leva ao estreitamento da válvula é um processo infeccioso crônico provocado pelas bactérias Chlamydia pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae.

Confirmada essa tese, a degeneração da válvula poderia ser tratada, prevenindo a infecção, ou controlando seus efeitos. A mesma causa infecciosa pode estar também por trás de outras calcificações, como a das juntas.

As descobertas foram feitas pelas equipes chefiadas pela professora doutora Maria de Lourdes Higuchi, diretora do Laboratório de Anatomia Patológica do Incor, e pelo professor doutor Mauricio Wajngarten, diretor clínico da Cardiogeriatria do instituto.

Pesquisadores do Incor já haviam relacionado a presença de um processo infeccioso por trás de episódios de infarto. O trabalho foi apresentado no ano passado no Congresso Europeu de Cardiologia e no American College of Cardiology.

Sobrecarga
O estreitamento da válvula aórtica dificulta a saída do sangue do coração quando é bombeado para fora. A degeneração da válvula com calcificação torna a abertura de suas "folhas" pesada e lenta, levando a uma sobrecarga do coração e até mesmo à morte.

"Entre 5% a 10% dos idosos acabam tendo a abertura dessa válvula prejudicada pela calcificação", diz Wajngarten. A única solução até agora tem sido a cirurgia, procedimento de grande risco em pacientes idosos.

"Dessa forma, a solução para a estenose aórtica está em agir antes que ela ocorra, agir preventivamente", diz o médico.

Alguns pesquisadores já vinham suspeitando que doenças crônicas degenerativas poderiam ser provocadas por agentes infecciosos, lembra Maria de Lourdes Higuchi. A dificuldade era provar que isso acontecia e, mais que isso, identificar quais bactérias seriam responsáveis. "Chlamydia pneumoniae era a mais procurada, mas ela não era encontrada facilmente nas lesões", afirma.

A equipe empregou análises ao microscópio eletrônico, estudos tridimensionais e marcação do DNA -os recursos mais avançados para reconhecer agentes infecciosos- no processo de identificação da clamídia.

O outro agente suspeito identificado foi o Mycoplasma pneumoniae, a menor das bactérias, localizada nas mesmas lesões. "Até então se acreditava que essa bactéria era pouco danosa ao organismo", diz Maria de Lourdes. "Mas o fato de ser encontrada nas lesões nos levou a suspeitar que ela facilitasse a proliferação da clamídia."

A descoberta não significa a cura, pois as bactérias são de difícil erradicação. "Mas a pesquisa está permitindo que a estenose aórtica seja vista como um processo infeccioso, e não um processo degenerativo próprio do envelhecimento", afirma a pesquisadora.

José Antônio Franchini Ramires, presidente do conselho diretor do Incor, observa que a descoberta abre um caminho totalmente novo para o estudo de outras calcificações, como aquelas que atacam as juntas. "Ainda não temos como fazer esse diagnóstico, mas há um caminho aberto para isso."
 

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