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14/09/2002 - 23h01

Último "bonde" de presos sepulta Carandiru após 46 anos

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FÁBIO PORTELA
da Folha Online

Neste domingo, depois de 46 anos de funcionamento, a Casa de Detenção do Carandiru, que ao logo de sua história se transformou no maior presídio da América Latina, vai deixar de existir.

Os últimos 76 detentos do Carandiru serão transferidos para penitenciárias localizadas em cidades do interior. O último "bonde", como é chamado o transporte dos presos, marca o fim da Detenção.

A história do presídio é cercada de histórias e lendas, e também por fatos que marcaram a memória da cidade de São Paulo. O mais lembrado, sem dúvida, é o massacre de 111 presos, ocorrido em 1992.

O episódio, que até hoje gera polêmicas e discussões, transformou o local em uma espécie de símbolo da violência policial em São Paulo. O massacre foi contado em livros e em letras de música, e mudou para sempre o Carandiru.

Depois de 1992, presos criaram uma das maiores organizações criminosas do país: o PCC (Primeiro Comando da Capital). Esse grupo, que tem representação em quase todo o sistema prisional paulista, se expandiu a partir do Carandiru, que pelo seu tamanho se transformou em uma referência para os detentos de todo o Estados de São Paulo.

O PCC cresceu, tomou o controle de vários presídios, organizou uma megarrebelião. Notícias mais recentes indicam que o grupo se associou ao Comando Vermelho, facção criminosa do Rio de Janeiro.

Com o fim do Carandiru, um dos principais objetivos do governo estadual é desmantelar a estrutura de comando do PCC, que podia se desenvolver facilmente em um local com mais de 7 mil criminosos reunidos.

Presídio "monstro"
A grande quantidade de detentos no Carandiru sempre foi motivo de críticas de entidades internacionais e de defensores dos direitos humanos. A avaliação é que este modelo de prisão está ultrapassado.

Um fato curioso na história da Detenção é que nunca houve um planejamento para que fosse construído um presídio tão grande. O primeiro pavilhão foi inaugurado em 1956, por Jânio Quadros.

Daí por diante, cada governador que assumia o poder assinava decretos para a construção de mais pavilhões, até que o complexo se transformou no maior presídio do continente.

Nos últimos anos, a concentração de criminosos tornou a administração insustentável. Os carcereiros costumavam dizer que o Carandiru funcionava "no piloto automático", graças a acordos informais feitos com os próprios detentos.

A reportagem da Folha Online ouviu detentos, funcionários, políticos, advogados, policiais militares e ativistas dos direitos humanos. Uns comemoram o fim do Carandiru, outros discordam da medida.
O certo é que a partir de hoje, o local será desativado, pavilhões serão demolidos e, com eles, centenas de histórias, que podem acabar em tragédias ou em finais felizes, serão esquecidas.

O palco da chacina dos 111 presos vai desaparecer, mas os problemas do sistema prisional de São Paulo, como a superlotação e a existência um poder paralelo, continuam a existir e a desafiar os nossos governantes.

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