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16/11/2003
-
03h45
MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo
Primeiro eles entraram no Brasil, provavelmente vindos da África, sem autorização nem controle dos órgãos públicos nacionais.
Depois trabalharam em circos, deram crias "brasileiras", foram, em sua maioria, maltratados e, finalmente, abandonados à própria sorte. O governo brasileiro, com outros problemas sobre os quais se preocupar, resolveu "repatriá-los": mandá-los para um zoológico particular na África do Sul.
Estava tudo certo para o embarque amanhã, mas havia uma pedra no meio do caminho. Ou melhor, dúvidas levantadas pelo governo sul-africano a respeito do local que seria a nova casa deles.
Agora os 20 leões sem teto que iriam embora do Brasil devem ficar no país por tempo indefinido, até que o equivalente ao Ibama (órgão ambiental federal brasileiro) da África do Sul se convença das razões pelas quais o Animal and Reptile Park Zoo, de Pablo Urban, em Johannesburgo, quer mais leões e de que o local tem condições de infra-estrutura para receber os animais brasileiros.
Em documento oficial, ao qual a Folha teve acesso, o Departamento da Agricultura, Conservação, Ambiente e Terra diz não "estar claro" por que Urban quer importar leões se tem um "zoológico pequeno" já com uma série de animais, inclusive dois leões.
O departamento diz ainda que não vê como a chegada de mais leões iria acrescentar algo em relação ao principal objetivo de um zoológico, a educação. E, como esses animais não estão ameaçados na África do Sul, o órgão sustenta que os dois leões existentes no parque já são o suficiente.
Enquanto o governo sul-africano não autorizar o zoológico a receber os leões, eles não podem deixar o Brasil porque a transação é regulada pela Cites (Conferência sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora), da qual os dois países são signatários. Levar animais de um país a outro sem consentimento de ambos é considerado tráfico.
Entidades de proteção aos animais temem que os animais estejam indo, na verdade, para fazendas de caça "enlatada" (canned hunting), onde são presas fáceis para caçadores que pagam fortunas por um troféu na parede, afirma Elizabeth Mac Gregor, representante da WSPA (sigla em inglês para Sociedade Mundial de Proteção aos Animais) no Brasil.
"O Ibama poderia usar os R$ 30 mil que vai gastar exportando esses animais para melhorar as condições de refúgios já existentes no Brasil, de forma que os leões ficassem por aqui mesmo", sugere.
"O poder público transferir dinheiro para entidades de caráter privado é juridicamente muito complicado", diz Rômulo Mello, diretor de fauna e recursos pesqueiros do Ibama. Ele diz considerar as questões colocadas pelo governo sul-africano como normais e diz estar tranquilo quanto à escolha do zoológico. "Se parar meia dúvida formal de que o local é adequado, os animais não vão."
Enquanto isso, parte dos leões continua em refúgios e parte em zoológicos e unidades do Ibama, aguardando o desfecho da novela.
Dúvidas sobre zoológico atrasam "repatriação" de leões para África
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da Folha de S.Paulo
Primeiro eles entraram no Brasil, provavelmente vindos da África, sem autorização nem controle dos órgãos públicos nacionais.
Depois trabalharam em circos, deram crias "brasileiras", foram, em sua maioria, maltratados e, finalmente, abandonados à própria sorte. O governo brasileiro, com outros problemas sobre os quais se preocupar, resolveu "repatriá-los": mandá-los para um zoológico particular na África do Sul.
Estava tudo certo para o embarque amanhã, mas havia uma pedra no meio do caminho. Ou melhor, dúvidas levantadas pelo governo sul-africano a respeito do local que seria a nova casa deles.
Agora os 20 leões sem teto que iriam embora do Brasil devem ficar no país por tempo indefinido, até que o equivalente ao Ibama (órgão ambiental federal brasileiro) da África do Sul se convença das razões pelas quais o Animal and Reptile Park Zoo, de Pablo Urban, em Johannesburgo, quer mais leões e de que o local tem condições de infra-estrutura para receber os animais brasileiros.
Em documento oficial, ao qual a Folha teve acesso, o Departamento da Agricultura, Conservação, Ambiente e Terra diz não "estar claro" por que Urban quer importar leões se tem um "zoológico pequeno" já com uma série de animais, inclusive dois leões.
O departamento diz ainda que não vê como a chegada de mais leões iria acrescentar algo em relação ao principal objetivo de um zoológico, a educação. E, como esses animais não estão ameaçados na África do Sul, o órgão sustenta que os dois leões existentes no parque já são o suficiente.
Enquanto o governo sul-africano não autorizar o zoológico a receber os leões, eles não podem deixar o Brasil porque a transação é regulada pela Cites (Conferência sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora), da qual os dois países são signatários. Levar animais de um país a outro sem consentimento de ambos é considerado tráfico.
Entidades de proteção aos animais temem que os animais estejam indo, na verdade, para fazendas de caça "enlatada" (canned hunting), onde são presas fáceis para caçadores que pagam fortunas por um troféu na parede, afirma Elizabeth Mac Gregor, representante da WSPA (sigla em inglês para Sociedade Mundial de Proteção aos Animais) no Brasil.
"O Ibama poderia usar os R$ 30 mil que vai gastar exportando esses animais para melhorar as condições de refúgios já existentes no Brasil, de forma que os leões ficassem por aqui mesmo", sugere.
"O poder público transferir dinheiro para entidades de caráter privado é juridicamente muito complicado", diz Rômulo Mello, diretor de fauna e recursos pesqueiros do Ibama. Ele diz considerar as questões colocadas pelo governo sul-africano como normais e diz estar tranquilo quanto à escolha do zoológico. "Se parar meia dúvida formal de que o local é adequado, os animais não vão."
Enquanto isso, parte dos leões continua em refúgios e parte em zoológicos e unidades do Ibama, aguardando o desfecho da novela.
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