Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/01/2004 - 03h15

Medo faz rua ser chamada de "faixa de Gaza"

Publicidade

MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Sucessivos tiroteios, "bondes" e interrupções de trânsito organizadas por traficantes na rua Leopoldo Bulhões, entre os bairros de Benfica e Bonsucesso (zona norte do Rio), levaram a população e até a polícia a se referirem a ela como "faixa de Gaza" carioca.

Só nos primeiros 11 meses de 2003, 175 pessoas foram assassinadas na área do 22º BPM, responsável pelo policiamento na Leopoldo Bulhões.

O número de homicídios é quase o dobro dos registrados na região do Catumbi (bairro vizinho ao centro), onde ficam favelas dominadas pelo tráfico, como Mineira, São Carlos, Coroa, Zinco e Querosene. Na área, ocorreram, no mesmo período, 89 mortes.

Ontem, a madrugada foi de terror no local. Não houve mortos ou feridos.
A PM informou não saber o motivo da troca de tiros, entre a meia-noite e as 4h.

Com cerca de 2 km de extensão, a Leopoldo Bulhões é cercada por três favelas (Manguinhos, Mandela e Parque Arará).

A "faixa de Gaza" carioca --nome de uma das regiões de conflito entre palestinos e israelenses no Oriente Médio-- fica perto de outras áreas perigosas do Rio, como o complexo de favelas da Maré.

Na segunda-feira, a reportagem ficou parada apenas dez minutos na rua Leopoldo Bulhões e, nesse curto espaço de tempo, foi alertada duas vezes para o perigo que corria ao circular pelo local.

Crueldade

A crueldade dos traficantes que atuam na "faixa de Gaza" carioca foi demonstrada na sexta-feira, quando o cadáver de um homem sem cabeça e baleado seis vezes foi pendurado em uma passarela de pedestres sobre a pista da Leopoldo Bulhões. Segundo a polícia, a vítima teria matado a mãe de um dos chefes do tráfico na região, Neifrance da Silva Nunes, o Nei Sapo, preso em Bangu 1.

Os motoristas evitam a "faixa de Gaza" por causa do risco de um ataque dos "bondes" (comboios de criminosos armados) ou de uma falsa blitz. A iluminação precária torna o lugar ainda mais perigoso. Os traficantes costumam atirar nos transformadores e deixam a rua às escuras.

A PM informa que intensificou o policiamento. O comandante do 22º BPM, tenente-coronel Álvaro Garcia, disse que quatro patrulhas circulam de madrugada pela rua. Diariamente, diz ele, duas barreiras policiais são feitas na avenida D. Hélder Câmara, acesso à "faixa de Gaza".

Para os policiais, também é arriscado trafegar na "faixa de Gaza". Os criminosos se escondem junto à linha férrea que passa sobre a Leopoldo Bulhões para atirar nos carros da PM.

Além de prédios como os Correios e a Embratel, a Leopoldo Bulhões abriga habitações precárias, pequenos comércios e escolas.

O delegado da 21ª DP, Reginaldo Guilherme, disse que a violência no local já justificou o apelido de "faixa de Gaza", mas que a situação melhorou. "Depois que assumi a delegacia, no início do ano passado, consegui reduzir o roubo de carros pela metade", disse.

Só em novembro de 2003, foram registrados 15 homicídios e 83 roubos de carros.

A facção criminosa CV (Comando Vermelho) controla o tráfico nas três favelas.

Outras zonas de conflito na cidade foram batizadas pelos moradores. A divisa entre as favelas de Parada de Lucas e Vigário Geral (zona norte) é chamada de "Vietnã". No complexo da Maré, a rua que separa as comunidades Nova Holanda e Baixa do Sapateiro foi apelidada de "Fogo Cruzado".
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página