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Rodrigo Zavala
especial para o GD
Pode parecer assustador saber que
os museus brasileiros estão às moscas. Mas,
não é. Se alguém se espanta com esse
fato, ou é ingênuo, ou está louco de rasgar
dinheiro, ou faz parte dos 76% da população
brasileira que não consegue entender um texto com mais
de duas orações e desistiu de jornais e revistas.
Vejamos o caso de São Paulo,
por exemplo. O Museu Paulista (se você for paulistano
e não conhecer, por favor, pare de ler esta coluna
e volte para a escola) recebe aproximadamente 350 mil pessoas
ao ano, um recorde para a cidade, diga-se. No entanto, é
um número insignificante para um museu que concentra
boa parte da história da independência deste
país.
Para efeito de comparação
(vergonhosa), o Museu Nacional de História, na Cidade
do México, uma metrópole com as mesmas características
de São Paulo, recebe quase dois milhões/ano.
Enquanto isso, o Metropolitan de Nova York tem suas roletas
da entrada giradas 5 milhões de vezes ao ano.
E o que dizer do Museu Brasileiro
de Escultura e do Museu da Imagem e do Som (MuBE e MIS), ambos
no Jardim Europa, vizinhos até, que recebem, juntos,
menos de 60 mil espectadores ao ano. O primeiro tem inclusive
uma extensa e brilhante programação cultural,
com cursos de arte, recitais e até feirinhas de bugigangas.
Mesmo assim, se você passar durante algum dia útil
e encontrar três moscas, por favor, parabenize-as.
Uma infelicidade, já que os
museus foram arquitetados por Paulo Mendes da Rocha (MuBE)
e Oscar Niemayer (MIS). Só esse fato é mais
do que suficiente para visitar essas instituições.
Vários são os pontos
que podem explicar esse abandono. Os mais aceitos pelo público
referem-se à localização e ingresso (este
último muito usado para explicar também a falta
de público no teatro. Um embuste). Pois bem, excetuando
talvez a Pinacoteca e a Sala São Paulo – de onde
os visitantes saem correndo com medo da vizinhança,
falar em localização é um erro. MuBe
e MIS ficam no Jardim Europa, o Museu de Arte Moderna localiza-se
no Parque do Ibirapuera e o Museu de Arte Contemporânea
(MAC) fica na USP.
E discutir preço é ridículo,
já que, exceto o MASP que cobra impensáveis
R$ 10 (mais porque estão na pior, do que por serem
mercenários como o seu criador), os demais, ou são
gratuitos, ou possuem dias na semana (aos domingos, geralmente)
em que a entrada é franca.
O que parece afastar o público
mesmo é a timidez dos diretores desses museus em criar
planos de gestão. Por que não fazer parcerias
com as secretarias de educação para incentivar
escolas a visitá-los gratuitamente? Não é
para entender aqui, que isso resolverá o problema,
mas poderá, pelo menos, criar um novo público.
Outro ponto fundamental é que
não basta gastar R$ 4 milhões em reformas, se
os arredores dos museus inibem o público de ir. Quem
vai tranquilo para a Sala São Paulo (Luz) a pé
à noite? Na primeira esquina, trocam-se os sapatos
pelos tênis e começa a corrida até o metrô.
É o que chamam de gastos com o ZIM (Zona de Intervenção
Metropolitana), que nada mais é do que consertar o
resto da rua onde a restauração foi feita.
Não se pode esquecer também que o cliente tem
sempre razão. Já vivemos em um país em
que a maioria não entende o que lê, muito menos
de movimentos, técnicas, ou a concepção
artística das instalações da Bienal de
Arte. Então, por que não explicar para o público?
É difícil conseguir voluntários em escolas
de arte que possam acompanhar o espectador? O Pateo do Colégio
faz isso.
Por último, é um despropósito
o que algumas empresas andam pedindo em troca do patrocínio
(que nada mais é do que dinheiro público, lembrem-se).
Idéias que ultrapassam completamente o bom–senso,
entre elas, a de colocarem faixas publicitárias em
espaços de exposição. Imaginou? A espada
de D. Pedro I apontando para um refrigerante?
Em tempo: visite a exposição
As 100 Maravilhas – Modernismo e Referências no
Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Av. Paulista.
Não esqueça de exigir monitoria. Afinal, você
vai ter que desembolsar R$ 10.
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